Charge do Paixão (Gazeta do Povo)
Enquanto as principais forças políticas do País já
se movimentam objetivamente para a disputa presidencial de 2018, a Rede
Sustentabilidade, partido da ex-ministra Marina Silva, terceira colocada na
eleição de 2014, enfrenta dificuldades financeiras, uma crise ideológica e se
vê diante da ameaça de debandada de filiados.
Esse é o quadro apresentado ao Estado por
militantes, assessores e dirigentes do partido, que falaram em caráter
reservado. Após ter o registro aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral em setembro
de 2015, a Rede ainda tem estrutura de partido “nanico”, o que ficou
evidenciado também no fraco desempenho de seus candidatos nas eleições
municipais do ano passado.
SEM RECURSOS – Com somente quatro deputados
federais (todos eleitos por outros partidos em 2014), a legenda recebe por mês
cerca de R$ 280 mil do Fundo Partidário. É pouco dinheiro para custear uma
estrutura nacional. Para efeito comparativo, o PT, por exemplo, com 58
deputados, recebe R$ 8,2 milhões mensais.
O partido está hoje sem estrutura de comunicação,
uma vez que rompeu os contratos com seus prestadores de serviço. Entre
auxiliares há relatos de atrasos salariais. A dificuldade em dialogar com
outras legendas é outro ponto de divergência interna na Rede. O grupo de Marina
reluta em formar alianças com outras siglas para ampliar o tempo de exposição
na TV em 2018.
Sozinha, a Rede terá direito no ano que vem a cerca
de 15 segundos em cada bloco do horário eleitoral gratuito para presidente, se
forem consideradas as regras previstas na legislação eleitoral.
COLIGAÇÕES – Setores do partido defendem a
união com as legendas com as quais a candidatura de Marina esteve unida em
2014: PPS, PHS, PSL e PRP. Naquela eleição, sem conseguir o registro da Rede, a
ex-ministra concorreu na chapa do PSB, primeiro como vice de Eduardo Campos e,
após a morte do ex-governador de Pernambuco, como presidenciável.
Outra ala, porém, advoga a tese que o partido deve
buscar aliança com legendas maiores, como o DEM. Um terceiro grupo prega que a
Rede enfrente sozinha as urnas.
ISOLAMENTO – Um dos principais motivos de
queixa de integrantes da Rede em relação à Marina é o isolamento da
ex-ministra. De acordo com militantes ouvidos pelo Estado, o círculo próximo de
Marina é composto pelos coordenadores executivos do partido, Bazileu Margarido
e Carlos Painel, o coordenador de organização, Pedro Ivo, e a ex-senadora
Heloisa Helena.
Segundo integrantes da Rede ouvidos pela
reportagem, Marina concentra sua interlocução com esse chamado “núcleo duro” e
se distanciou dos parlamentares da sigla, que formaram um outro polo de poder
na legenda.
Enquanto o deputado federal Alessandro Molon
(Rede-RJ) e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ganharam protagonismo nas
votações das denúncias contra o presidente Michel Temer e sobre o afastamento
do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Marina se calou.
APOIO A AÉCIO – Por causa do apoio de Marina a
Aécio no segundo turno da eleição de 2014, houve uma debandada de dirigentes e
militantes antes mesmo de o partido obter o registro na Justiça Eleitoral. No
ano passado, após o fraco desempenho em sua primeira disputa eleitoral – elegeu
apenas seis prefeitos –, a Rede sofreu novo revés e um grupo de intelectuais e
fundadores deixou o partido com críticas a Marina.
Atualmente, segundo integrantes da Rede, Molon é um
dos que tem manifestado desconforto com a postura de Marina e de seu grupo mais
próximo. O deputado passou a ser apontado como um dos nomes da possível
debandada. Por meio de sua assessoria, ele negou que esteja de saída do
partido. Conforme militantes, o hermetismo da Rede também dificulta o
crescimento orgânico do partido, que hoje conta com 18.686 filiados.
Procurada, Marina informou que
não iria dar entrevista. (Colaboraram Daniel Bramatti e
Marianna Holanda)
NOTA DA
REDAÇÃO DO BLOG – A coisa está feia. Sem dinheiro, Marina Silva,
terceira colocada nas pesquisas, não irá longe, especialmente se não tiver
apoio financeiro da herdeira do Banco Itaú, que bancou a criação do partido.(C.N.)
Pedro Venceslau e Ricardo Galhardo
Estadão – Tribuna da Internet