A corrida pelo Palácio do Buriti, sede do Executivo local, prevê algumas
surpresas em 2018, como a aproximação de nomes consagrados da esquerda aos de
centro-direita
*Por Ana Viriato , Bruno
Lima
De olho na decisão sobre o futuro político do
ex-presidente Lula, lideranças locais e regionais se articulam para lançar
candidatos a cargos majoritários. O governador Rodrigo Rollemberg é o único
nome confirmado na disputa
O ano eleitoral começou com o reaquecimento das
movimentações políticas pelos cargos majoritários do Distrito Federal. O
alinhamento de estratégias é tema de quase todas as conversas do meio,
independentemente do histórico ideológico dos pré-candidatos: todos conversam
com todos. A expectativa é de que a corrida se afunile em meados de abril,
época em que as costuras pelos presidenciáveis devem estar desenhadas e a
quatro meses do prazo final para o registro de candidaturas. Neste mês, será
dado um passo decisivo, começa a ser definido neste mês, com o julgamento do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex do Guarujá — o marco
dividirá águas nas disputas local e nacional.
Alguns players tendem a definir as regras do jogo
na capital federal. Entre eles está o senador Cristovam Buarque (PPS), que
concorrerá à reeleição ou ao Palácio do Planalto. Com experiência no meio e
prestígio no tema educação, o parlamentar é considerado um “puxador de votos” e
trabalha em três frentes distintas. Uma das coligações será debatida na primeira
quinzena de fevereiro, quando ele comparecerá à reunião de forças de
centro-direita, como os deputados federais Alberto Fraga (DEM) e Izalci Lucas
(PSDB); o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (MDB); o ex-distrital Alírio Neto
(PTB); além do ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR).
A composição surpreende, uma vez que Cristovam fez
oposição ao governo de José Roberto Arruda, principal nome do PR. “O importante
é mostrarmos para a população que deixaríamos antigas divergências de lado para
fazer uma aliança por Brasília. Não há problema em unir antigos azuis e
vermelhos, desde que seja por uma chapa programática. Ainda assim, não há nada
definido”, destaca o senador.
Outra possibilidade é a de Cristovam compor uma
frente com o PSD, do deputado federal Rogério Rosso; com o Podemos, da
ex-distrital Eliana Pedrosa; e com o PRB, do empresário Wanderley Tavares — uma
união dos dois grupos também é vista com bons olhos pelos integrantes de ambos.
A terceira vertente de articulação é de uma chapa majoritária com o presidente
da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT), e Frejat.
A movimentação, contudo, aguarda a decisão do
próprio Frejat, que desponta como principal nome ao Palácio do Buriti em
pesquisas de opinião. Apesar da boa colocação, o ex-secretário de Saúde não
bateu o martelo sobre a candidatura: Executivo local ou Senado. “Frejat só não
será candidato se não quiser. As pesquisas mostram que ele tem total condição
de vencer”, aponta o presidente regional do PR, José Salvador Bispo de
Oliveira.
De volta
Após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afastar,
em dezembro, a pena de inelegibilidade de Filippelli em um processo por abuso
de poder político, o peemedebista, que antes costurava apenas pela candidatura
a deputado federal, voltou aos holofotes. Dessa forma, ficaram em segundo plano
as articulações por um cargo na chapa majoritária para o ex-presidente da Ordem
dos Advogados (OAB) no DF Ibaneis Rocha.
O ex-vice-governador admite conversas com vários
partidos para a formação de uma coligação de centro-direita com força
suficiente para derrotar Rollemberg em outubro. “Temos conversas envolvendo
todos os grupos possíveis. O que esperamos é formar uma frente forte para as
eleições. Qualquer coalizão é possível. O importante é fazer um esforço conjunto”,
defende.
Presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle
articula em duas frentes. A primeira delas, ao lado da Rede, do pré-candidato
ao Senado Chico Leite, e do PV. Nesse cenário, o pedetista concorreria ao
Palácio do Buriti, com o apoio do presidenciável Ciro Gomes. Outra
possibilidade é de o parlamentar compor uma chapa com Cristovam Buarque e
Frejat. Nesse caso, seria um nome ao Senado ou à Câmara dos Deputados. A
movimentação, contudo, depende das definições a nível nacional.
No páreo
Rodrigo Rollemberg (PSB)
Após emplacar a reforma da Previdência no DF,
deixar o limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e
incrementar a arrecadação da capital, o governador abriu os cofres no ano
eleitoral. Com a máquina pública nas mãos e um passado livre de escândalos de
corrupção, Rollemberg é o único candidato certo à disputa de outubro.
Tadeu Filippelli (PMDB)
O ex-vice-governador controla o partido com o maior
tempo de televisão e conta com os cofres cheios. Após uma vitória no TSE,
Filippelli voltou à disputa e conta com prestígio dos colegas. A candidatura a
um cargo majoritário, contudo, pode ser atrapalhada por eventual denúncia no
caso do superfaturamento do Estádio Nacional Mané Garrincha.
Jofran Frejat (PR)
Com o recall das últimas eleições, quando
substituiu o ex-governador José Roberto Arruda, Frejat aparece como principal
nome nas pesquisas de opinião. O ex-parlamentar ocupou cinco vezes o posto de
deputado federal e quatro, o de secretário de Saúde do DF.
Cristovam Buarque (PPS)
O senador, além do trânsito com diversas forças
políticas, é considerado um puxador de votos. Neste ano, enfrentará as urnas
longe dos braços da esquerda pela primeira vez. Desde que apoiou o impeachment
da presidente Dilma Rousseff, o parlamentar virou alvo da ira de petistas e uma
reconciliação é vista como inviável.
Joe Valle (PDT)
Presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle é visto
como um nome capaz de reunir forças progressistas e de esquerda — como mostrou
durante a corrida pela Mesa Diretora da Casa. No Legislativo local, adotou
postura contrária às principais propostas de Rollemberg, a exemplo da reforma
da Previdência.
Alberto Fraga (DEM)
O deputado federal pode ganhar força para disputar
o Palácio do Buriti se Rodrigo Maia (DEM) concorrer à Presidência da República.
Caso contrário, deve ser candidato ao Senado. Em 2014, Fraga conquistou o
quarto mandato, com 10,66% de votos — maior índice entre os concorrentes.
Lula (PT)
Todas as negociações, a níveis local e nacional,
dependem do futuro do ex-presidente, líder em pesquisas de opinião. Em
Brasília, uma eventual candidatura ao Palácio do Buriti adotará o discurso de
defesa de Lula, que pode ser condenado em segunda instância no próximo dia 24.
Geraldo Alckmin (PSDB)
Principal nome do PSDB à disputa presidencial,
Alckmin pode ser apoiado pelo PSB, de Rodrigo Rollemberg. Caso a parceria seja
fechada, o tucano daria a bênção para Maria de Lourdes Abadia se candidatar à
Vice-Governadoria do Distrito Federal.
(*) Ana Viriato , Bruno Lima –
Correio Braziliense