Moa, presidente da Aruc, propõe uma mudança no formato dos desfile para
2019
Evento realizado hoje, a partir das 19h, é o
primeiro "ensaio" para o retorno das agremiações à programação do
carnaval de Brasília
*Por » Adriana Izel
Neste carnaval, o Distrito Federal completa quatro
anos sem desfile das escolas de samba. A última vez emque as agremiações da
capital se apresentaram na avenida foi em 2014, quando elas contaram com
repasse governamental para a folia. Em 2017, em uma tentativa de reanimar os
integrantes das escolas, algumas saíram às ruas ao lado de blocos
carnavalescos. Agora, em um passo um pouco maior, seis das agremiações do Grupo
Especial se reúnem hoje, a partir das 19h, no evento gratuito Brasília Samba
Show, que será realizado em espaço montado entre a Torre de TV e o Complexo
Cultural da Funarte, no Eixo Monumental.
A festa segue os moldes do Encontro do samba,
realizado em janeiro na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Nele, as 13
escolas do Grupo Especial subiram ao palco ao lado de sambistas como Martinho
da Vila, Diogo Nogueira e Alcione. A versão brasiliense reunirá as seis escolas
em uma apresentação e contará com os shows dos cantores Mart’nália e Xande de
Pilares.
O Brasília Samba Show conta com um investimento de
R$ 955 mil, que integra o valor da verba total de R$ 5 milhões do governo para
o carnaval 2018, e será destinado à estrutura e ao cachê das escolas (cada uma
recebe R$ 100 mil). “Os repasses para as escolas estão em fase de processamento
e correndo conforme os prazos legais de contratações realizadas pelo poder
público. As agremiações têm conhecimento desses prazos e de que eles estão
condicionados, inclusive, à entrega da documentação que elas estão
providenciando”, afirma a Secretaria de Cultura em nota.
A decisão pelo evento é resultado de uma comissão
montada, no ano passado, com integrantes de secretarias governamentais, como as
pastas de Cultura e Turismo, e representantes das escolas de samba para
discutir a presença das agremiações no carnaval. “Lógico que não era o que
queríamos, queríamos a volta dos desfiles. Buscamos alternativas, mas quando
você fica tantos anos sem ter movimento, você perde esse meio de negociação
junto aos empresários”, afirma Geomar Leite, presidente da Liga das Escolas de
Samba e também da Águia Imperial de Ceilândia.
Sem o desfile, as escolas se agarram ao evento de
hoje e à esperança de um retorno ao carnaval brasiliense em 2019. “Escola de
samba que não desfila, morre. Foi o que nos sobrou, nós que somos a parte mais
fraca dessa relação”, afirma Jansen Melo, presidente da Acadêmicos da Asa
Norte. “Se você não tem desfile, você fere a alma da entidade e promove uma
situação de muita dificuldade, porque as pessoas se afastam. Então, quatro anos
sem desfile é um golpe muito duro em uma escola”, completa Moacyr Oliveira, o
Moa, presidente da Aruc.
Na apresentação desta noite, as agremiações levarão
de 80 a 100 componentes, como mestre-sala e porta-bandeira, baianas, destaques
de alas e integrantes da bateria. A maioria delas preparou novas fantasias e
sambas-enredos de anos anteriores para o show que terá duração de até 50
minutos cada escola. “É bom dizer que não será um desfile, mas uma apresentação
de todas as escolas. Estamos preparando novidades para a festa”, afirma Denise
dos Santos, presidente da União da Vila Planalto e Lago Sul.
A última vez em que as escolas desfilaram no Distrito Federal foi em
2014
Função social
Durante alguns anos, as escolas de samba foram
consideradas o ponto alto do carnaval brasiliense, com a presença de nomes como
o do famoso carnavalesco Joãosinho Trinta, e até a promessa de um sambódromo,
que teve um projeto feito por Oscar Niemeyer, mas que nunca saiu do papel. A
presença das agremiações também tem forte influência no polo de samba que a
capital federal se tornou, por conta da tradição das escolas e do espaço para
rodas de samba. “As escolas de samba são fundamentais, são uma manifestação de
cultura popular e precisam ser apoiadas”, afirma Moa, da Aruc.
Fortes em locais como Rio de Janeiro e São Paulo,
as agremiações têm como função, muito mais do que apenas desfilar na folia,
servir de apoio social às comunidades em que estão. “As escolas não existem sem
uma comunidade. Elas têm a função do fazer social e cultural. Para que cumpram
verdadeiramente a sua função, elas precisam, por exemplo, de uma sede, onde
possam ensinar e capacitar a comunidade”, analisa Geomar Leite.
Atualmente, das seis escolas do Grupo Especial,
apenas três possuem sedes ativas. São elas: Acadêmicos da Asa Norte, Aruc e
Águia Imperial — as duas últimas com terrenos cedidos pelo GDF. O fato de
possuírem um espaço é um facilitador para que as agremiações façam eventos a
fim de arrecadar verbas e promovam ações educativas e sociais. “Como temos
imóvel próprio e somos uma escola campeã, nós ainda nos viramos, com shows e
apresentações. A gente aluga o espaço para poder sobreviver”, explica Jansen
Melo, da Asa Norte.
Na Unidos do Cruzeiro, a função é parecida. De
acordo com Moa, a escola promove feijoadas, shows, rodas de samba e possui um
espaço dedicado ao esporte. “A Aruc, que é uma entidade tradicional com 56 anos
de vida e é patrimônio cultural da humanidade, com muito esforço, a gente
mantém uma programação o ano inteiro, com atividades esportivas e culturais”,
completa. Na Águia Imperial, o movimento é similar. Com um terreno concedido
pelo governo, o espaço é usado para profissionalização da comunidade de Ceilândia
e do Sol Nascente. “Atualmente, temos 300 alunos que fazem aulas de capoeira,
zumba, artes marciais, violão, ginástica, tudo de forma gratuita. Temos feito a
nossa parte de servir à população”, conta Geomar Leite.
A escola Império do Guará é uma das entidades que
possui um espaço cedido pela Terracap. No entanto, devido a problemas na última
gestão, a sede ainda não está disponível. “Estou tentando a segunda via da
documentação para que a gente possa limpar a área e começar a trabalhar.
Estamos correndo atrás desse local, que dará conforto à comunidade. Lá queremos
colocar aulas de costura, informática e reforço, além de promover eventos
culturais”, revela Edivaldo da Silva, no Império da Guará.
Sem sede oficial, a União da Vila Planalto e Lago
Sul é uma das escolas que sofre com a situação. “É ruim, porque a gente não
desenvolve o trabalho que pretende fazer na comunidade, que é o trabalho
social. Mas nós temos trabalhado com os idosos e com a igreja da região”,
explica Denise dos Santos, presidente da instituição. De acordo com ela, a
escola também apoia a grupos de samba locais, como o Bafafá e Grupo Magia.
Futuro da folia
Apesar de não ter uma situação definida para 2019,
as escolas têm esperança de um retorno à avenida no próximo ano. “Queremos que
as escolas voltem a fazer os desfiles e também tenham responsabilidade com o
social e com o dinheiro público. O carnaval é sempre um momento de geração de
emprego”, analisa Denise dos Santos.
De acordo com Geomar Leite, presidente da liga, um
dos primeiros passos é repensar o formato do carnaval das escolas de samba.
“Essa é uma discussão que precisamos fazer. Mas também é preciso uma resposta
no sentido da profissionalização e apoios tanto da iniciativa privada quanto do
governo”, comenta.
Moa propõe a redução do número de escolas.
Atualmente, o carnaval conta com seis agremiações no Grupo Especial e dez no
Grupo de Acesso. “A palavra, para mim, é renascimento. Eu defendo que se
promova um enxugamento das escolas para no máximo oito, que seriam as escolas
mais tradicionais. O restante pode se unir. Assim teremos entidades fortes e
consolidadas, que tenham atividades o ano todo. Não tem mais sentido ter tantas
escolas de samba em Brasília”, afirma.
Jansen
Melo concorda: “Brasília não comporta mais de seis escolas. Nesse sentido, a
decisão do governo está correta e apoiamos nesse aspecto”. Para Edivaldo da
Silva, é necessário que Brasília passe por uma fortificação, como aconteceu em
São Paulo. “São Paulo tinha um carnaval bem fraco, eles melhoraram muito quando
ganharam o sambódromo”, conta.
Brasília Samba Show
Espaço montado entre a Torre de TV e o Complexo
Cultural da Funarte, no Eixo Monumental. Hoje, às 19h. Com apresentação das
seis escolas de samba do DF e shows dos cantores Mart’nália e Xande de Pilares.
Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Programação
» 19h Escola Império do
Guará
» 19h40 - União da Vila Planalto e Lago
Sul
» 20h20 - Aruc
» 21h10 - Martn’ália
» 22h30 - Bola Preta de Sobradinho
» 23h10 - Águia Imperial de
Ceilândia
» 23h50 - Acadêmicos da Asa Norte
» 0h40 - Xande de Pilares
*Horários sujeitos a alteração
Celebração
O grupo 7 na Roda promove, desde o ano passado, o
projeto Enredos de samba, em que presta homenagem às agremiações da cidade.
Unidos do Varjão e Acadêmicos da Asa Norte já foram celebradas. A programação
segue ainda pela Águia Imperial de Ceilândia (16 de fevereiro), Aruc (23 de
fevereiro) e Bola Preta de Sobradinho (2 de março).
(*) Adriana Izel - Fotos: Ana Rayssa/CB/D.A.Press – Ed Alves/CB/D.A.Press –
Correio Braziliense