Atrizes vieram conhecer de perto o projeto de construção do Movimento
dos Trabalhadores Sem-Teto
Grupo de artistas formado por Paula Lavigne, Alinne Moraes, Paula
Burlamaqui, Maria Paula e Sônia Braga ajuda a construir casa sustentável no
condomínio Sol Nascente. Ação quer dar visibilidade ao MTST
*Por » Nahima Maciel
A empresária Paula Lavigne e as atrizes Alinne
Moraes, Paula Burlamaqui, Maria Paula e Sônia Braga, além do músico Criolo,
estiveram ontem no condomínio Sol Nascente para conhecer o projeto do Movimento
dos Trabalhadores Sem- Teto (MTST) na maior favela de Brasília. Localizado a 30
quilômetros da capital, o Sol Nascente tem hoje cerca de 95 mil habitantes, que
vivem em condições precárias. No ano passado, em uma negociação com o governo
do Distrito Federal, o MTST conseguiu terrenos para receber 109 famílias e a
coordenação local do movimento pretende fazer do espaço um exemplo de moradia
sustentável.
Este ano, foi entregue a primeira casa erguida com
tecnologia de bioconstrução e permacultura. A unidade é a primeira casa própria
de Alzerita Pereira de Siqueira, 55 anos, ex-vendedora ambulante, hoje
desempregada, e foi construída com terra, areia, madeira e materiais
sustentáveis. No ano passado, a atriz Maria Paula ajudou a organizar um
crowdfunding para a construção da residência, que saiu por R$ 13 mil.
Paula Lavigne já havia organizado encontros com
membros do MTST em São Paulo. Desta vez, depois de reuniões eu sua casa, no Rio
de Janeiro, o grupo de artistas decidiu visitar o Sol Nascente. “Não adianta
ficar na Vieira Souto postando coisas”, diz a empresária. “O que me trouxe aqui
foi a questão da bioconstrução. Eu era superignorante. O MTST está muito à
frente de todo mundo. Uma casa de R$ 80 mil que pode sair por R$ 15 mil e não
agride o meio ambiente é o futuro.”
Paula apontou que é necessário haver uma regulamentação
para esse tipo de construção e que isso só não acontece por causa do lobby da
construção civil. A atriz e empresária integra o movimento 342 Agora, formado
por artistas cujo ponto em comum é representado pelo slogan “Fora Temer”. O
apartamento de Paula virou uma espécie de QG do movimento.
Alinne Moraes (D), Paula Burlamaqui (C) e Sônia Braga (E) misturaram o
barro com os pés e participaram da obra na maior favela de Brasília ,que tem
cerca de 95 mil habitantes e fica a 30 quilômetros da capital
Durante a visita ao Sol Nascente, o cantor e
compositor Criolo lembrou como foi difícil crescer em um barraco e, durante
cerca de oito anos, dormir em casa de chão batido e não ter endereço certo.
“Quem tem a vivência do que é morar numa casa que o teto é um pedaço de carcaça
de fogão, de geladeira, pedaço de lona de caminhão, e a parede são pedaços de
madeira que você vai conseguindo, é duro. Nasci nisso”, conta.
Para Alinne, que junto com o grupo pisou a terra
molhada usada para fazer as paredes da futura secretaria do MTST no Sol
Nascente, a experiência foi de aprendizado. “As pessoas têm uma ideia muito
errada do que é o MTST, acham que vão sair invadindo qualquer lugar. Não é
assim. Antes de falar, a gente tem que se colocar no lugar do outro. Como atriz
é meu trabalho, por isso estou aqui”, garante.
Alinne participa das reuniões na casa de Paula
Lavigne há pelo menos um ano e esteve no assentamento do movimento em São
Bernardo do Campo, em outubro de 2017, quando a Justiça de São Paulo proibiu um
show de Caetano Veloso no local. “Eles estão me recebendo para eu entender essa
luta, que é constante e necessária. E quero ajudar para que tenham voz, porque
eles não são escutados. Hoje, quero tentar dar visibilidade a uma causa
completamente justa”, defende.
Sônia Braga também estava no grupo de artistas que
foi a São Bernardo e era a mais empolgada na hora de pisar o barro e construir
o muro. “Estamos aqui de aprendiz, aprendendo vários processos, não só dessa
construção, mas de uma construção muito maior do que pode ser esse país”,
garante. Questionada sobre o impacto da ação dos artistas na viabilização de
construções sustentáveis na favela, Sônia disse que não tinha respostas: “Quem
tem que responder é quem está vendo a gente aqui. Tem que ter uma resposta no
coração. Agora, tem que ter coração”.
A intenção dos coordenadores do MTST no Distrito
Federal é mostrar que é possível construir casas baratas e com padrões
sustentáveis. “Como não temos recursos, criamos uma alternativa de como
construir sem recursos e com qualidade. É um projeto sustentável de baixo
custo”, explica Eduardo Borges, coordenador nacional do movimento e atuante em
Brasília.
Financiamento coletivo
Iniciativa que tem como base o financiamento
coletivo para viabilizar projetos e conquistar o apoio colaboradores para a sua
realização.
"Tenho a vivência do que é morar numa casa que
o teto é um pedaço de carcaça de fogão. Nasci nisso”
(Criolo, cantor)
"Não adianta ficar na Vieira Souto postando
coisas. O que me trouxe aqui foi a questão da bioconstrução”
(Paula Lavigne, empresária)
(*) Nahima Maciel – Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense