"Formamos alunos para uma
sociedade que está em constante mudança. Hoje lidamos com uma sociedade de
comunicação instantânea. O professor precisa se atualizar, precisa desconstruir
preconceitos e estereótipos" Ana Elen, professora
Centro de Ensino Fundamental 15,
no Gama, é referência em gestão escolar no DF. Diretora vai aos Estados Unidos
para representar a instituição
*Por Murilo Fagundes
Conhecido como “suvaco do diabo” no passado, o
Centro de Ensino Fundamental 15 (CEF 15), do Gama, hoje é referência de modelo
educacional no país. A escola, que antes assumia o posto de líder em denúncias ligadas
ao tráfico de drogas, foi premiada, em 2017, como representante do Distrito
Federal no Prêmio Gestão Escolar, organizado pelo Conselho Nacional de
Secretários da Educação (Consed).
Com uma equipe de professores e funcionários
dedicados ao ensino integral, a instituição revolucionou o modo de educar. A
peça-chave dessa mudança é a diretora Ana Elen Moutinho, 43 anos. Como
premiação, ela e 26 diretoras representantes de outros estados puderam aprender
mais sobre educação em intercâmbio nos Estados Unidos.
Hoje, o crescimento do Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb) do CEF 15 reflete o esforço da equipe premiada. Em 2005,
época em que Ana Elen assumiu a gestão da escola, o índice medido pelo
Ministério da Educação era de 3,2. Em 2015, quando foi verificado pela última
vez, a escola beirou os 5 pontos. Mas ainda há espaço para crescer. Para Ana
Elen, integrar a base comum (matemática e português, por exemplo) e a base
diversificada (música e educação ambiental, entre outras) é essencial, isto é,
o aluno precisa entender, por exemplo, o porquê de estudar matemática e teatro
ou estudar ciências e tocar violino simultaneamente.
“Formamos alunos para uma sociedade que está em
constante mudança. Hoje lidamos com uma sociedade de comunicação instantânea. O
professor precisa se atualizar, precisa desconstruir preconceitos e
estereótipos”, completa a diretora.
Mas mudanças e quebras de paradigmas têm reações.
Elen as enfrentou de perto. Assim que se candidatou e assumiu a diretoria,
alguns professores e funcionários criticaram a nova postura. A supervisora
pedagógica da escola, Vanusa Maria, 45 anos, foi uma das pessoas que
questionaram a conduta de Ana. “Eu era oposição, mas nunca atrapalhei o
processo. Percebi que foi evoluindo. Comecei a participar do projeto e hoje sou
parceira na gestão”, completa. Vanusa diz que a realidade agora é outra. “A
intenção é integrar os alunos em atividades da escola, para que eles se sintam
valorizados e respeitados. Precisamos ter persistência.”
Aliás, insistência e persistência são
características evidentes no trabalho de Ana Elen e de toda a equipe da escola
do Gama. A diretora conta que um projeto de robótica será o próximo a ser
implementado na instituição. “Será uma parceria com a Universidade de Brasília
(UnB). A universidade vai ceder todo o material, e nosso professor de
informática trabalhará com os estudantes. Aqui no CEF15 é assim. Quando
descobrimos alguma ideia bacana, vamos atrás para realizar. Até robô vamos
desenvolver”, brinca.
Realização
Os professores são essenciais para a concretização
de uma gestão eficiente. Afrânio Rodrigues, 40 anos, veio do Nordeste para
lecionar educação ambiental na escola do Gama. Ele desenvolveu um projeto de
biodigestor com os alunos, ensinando técnicas de adubagem, produção de gás e
fertilizante. O trabalho fez os alunos evitarem o desperdício. “Quando eu
mostro as fotos para meus colegas professores de outros estados, eles ficam
encantados. Para mim, estar no CEF15 é a realização de um sonho. Viramos
noites, perdemos sábados, domingos, feriados para manter a estrutura, mas tudo
vale a pena”, conta.
Mas nem tudo é diretamente financiado pelo governo.
Os aparelhos de ar-condicionado de seis salas, por exemplo, vieram de emendas e
conversas insistentes com deputados.
Outro destaque é a sala de artes, que conta com
mesas grandes e materiais para produção de obras. “É diferente de todas as
escolas pelas quais passei. Aqui tenho material de trabalho, espaço adequado, e
os alunos se tornam mais preparados culturalmente”, completa a professora de
artes plásticas, Mariana Leandro, 26.
Aprendizado
O Prêmio Gestão Escolar, que ocorre bienalmente, já
tem 16 edições. A grande motivação é contemplar escolas com projetos
pedagógicos que contribuam para o aprendizado dos alunos e que tenham
metodologias diferenciadas, trazendo resultados esperados para escolas
públicas, principalmente com alunos em situação de vulnerabilidade. As 27
diretoras contempladas de cada estado ganharam um intercâmbio nos Estados
Unidos.
(*) Murilo Fagundes – * Estagiário sob supervisão do
editor José Carlos Vieira - Foto Bárbara Cabral/CB/D.A.Press - Correio Braziliense