Para sentir muito orgulho
*Por Jane Godoy
As milhares de pessoas que visitaram a Vila Cidadã
e todos os outros espaços preparados para sediar o tão esperado 8º Fórum
Mundial da Água, que ocorreu pela primeira vez no Hemisfério Sul e, mais
especificamente no Brasil e em Brasília, tiveram uma mostra de categoria e
muitos motivos de se orgulhar do que nossa Brasília preparou.
Devemos confessar que, com a expectativa e os
trabalhos da montagem de tudo, em volta do Estádio Nacional Mané Garrincha,
enquanto o dia não chegava, ficou uma grande parcela de preocupação e tensão,
pois, como costumava dizer a quem me indagava sobre o assunto, o Fórum é uma
verdadeira Copa do Mundo, só que totalmente voltado para as questões da água no
planeta.
Com a perspectiva da visita de representantes de
mais de 170 países, a nossa preocupação dobrou. Afinal, receber em casa tantas
personalidades de projeção mundial, que trariam em sua bagagem um manancial de
informações e resultados de trabalhos e pesquisas sobre a água, não é para
qualquer um.
Desde o sábado, o resultado encheu os olhos dos
brasilienses, dos milhares de visitantes, dos especialistas e estudiosos.
Pudemos, sim, abrir as portas de Brasília para que
o mundo entrasse e, de forma honrosa e bem organizada, mostrar a todos que, uma
cidade onde o mais importante fenômeno acontece, as águas emendadas que, desde
suas pequenas e aparentemente frágeis nascentes, geram bacias tão grandiosas e
importantes, só poderia mesmo preparar tudo com esmero e propriedade.
Estive lá prestigiando a mesa-redonda com o reitor
da Unipaz, Roberto Crema, que falou sobre o tema Água pela Paz. Com a segurança
e a calma de sempre, próprias de um homem equilibrado, Crema iniciou sua fala,
garantindo que “A terra não é nossa! Nós é quem somos da terra! E a grande magia
é a água”. A cada frase construída, a certeza de que estamos neste mundo ainda
aprendendo e devemos estar prontos para corrigir os maus hábitos, deixarmos de
ser passivos e investir não só no mundo de baixo, da matéria, mas investirmos
“nesse pedacinho de praça pública que é cada um de nós. Porque paz não é estar
‘numa boa’. Paz é o bom combate. Temos contas a prestar.”.
Com isso, fomos absorvendo cada palavra e, com
satisfação, concluí o quanto estávamos inspirados ao afirmar, na coluna de
domingo passado, que de nada adiantará termos sediado e participado desde
encontro das nações, em prol da água, se não combatermos o bom combate e não
fazermos mudar essa mentalidade de que estamos por aqui para viver, esperando
que façam tudo por nós e pela natureza, sem uma parcela sequer de
responsabilidade de cada um de nós, “nesse pedacinho de praça pública que é
cada um de nós”.
Agora que tudo passou, quando tantas e tantas
crianças e professores lá estiveram, resta-nos esperar que muita coisa tenha
mudado e que, depois do 8º Fórum Mundial da Água, tudo se transforme para nós,
brasileiros, no fórum mundial da educação, da consciência e da vontade de
mudar, visando ao bem comum, do meio ambiente, da natureza.
Que as águas voltem a ser cristalinas e habitadas somente
por peixes e outras criaturas aquáticas e não pelos restos destrutivos dos
humanos, como vemos hoje, desde a Bacia Amazônica até às demais pelo Centro/Sul
do país.
Esperamos que, como nos ensinou Roberto Crema,
façamos mesmo “o bom combate” e prestemos contas de nossa falta de consciência
e educação.
O dia em que o ato de sujar as ruas, de jogar lixo
nos rios e nas praias se tornar, como nos países desenvolvidos como o Japão e
nações nórdicas, entre outros, motivo de punição severa e multa do Governo
Federal (Ministérios do Meio Ambiente, da Educação, da Saúde) com força de lei,
seguida pelos Estados e municípios, teremos, com certeza, um país limpo,
educado, consciente e exemplar.
Se os outros conseguem, por que não o Brasil? Basta
lembrar da obrigação do uso do cinto de segurança e a multa severa à sua
desobediência. Não funcionou desde então?
Assim procedendo, governo e comunidades terão algo
muito grande e nobre para exibir, em 2021, no Senegal, na África, quando
acontecerá o 9º Fórum Mundial da Água: um Brasil limpo, educado, de águas
cristalinas e que aprendeu a colocar o lixo no lixo.
Aí sim, vamos prestar contas de tudo o que
aprendemos no 8º Fórum Mundial da Água em nossa Brasília.
Combatemos mesmo o bom combate!
(*) Jane
Godoy – Coluna 360 Graus – Foto: Breno Fortes/CB/D.A.Press – Correio
Braziliense