Foto: Parque da Cidade - Brasília
Cidades amigas dos
idosos
*Por Aldo Paviani
Os últimos censos do Brasil e de muitos outros
países mostram que a população envelhece. Não só aumenta a quantidade de
idosos, como há redução do volume da população jovem. A base das pirâmides
etárias se estreita, enquanto a parte superior mostra ampliação. Em outras
palavras: em algum ano no futuro, o Brasil, cuja população idosa aumenta e a de
jovens diminui, terá redução da população economicamente ativa. No caso de São
Paulo, a Fundação Seade, com base em relatório da ONU, destaca que o número de
pessoas com mais de 60 anos, em 2010, no mundo, era de aproximadamente 600
milhões, devendo alcançar dois bilhões em 2050.
A mesma Seade, em 2015, realizou projeções em que o
envelhecimento é um “processo progressivo na capital paulista”, pelo qual
constato que, em 2010, havia “6 idosos para cada 10 jovens. Já em 2030,
chegaremos a 12 idosos para cada 10 jovens e chegando a 21 idosos para cada 10
jovens em 2050”. Isso significará a inversão da pirâmide etária — problema a
equacionar a partir de políticas demográficas nas quais São Paulo e o Estado
brasileiro pouco interferem, ficando a cargo das famílias a decisão de quantos
filhos terá.
Mas o foco aqui é descortinar como as cidades
tratam os idosos, isto é, os que têm mais de 60 anos (segundo o Estatuto do Idoso)
ou 65 anos (de acordo com a Constituição de 1988). A Organização Mundial da
Saúde (OMS), em 2008, realizou estudo sobre a cidade amiga do idoso, envolvendo
33 cidades ao redor do mundo. No Brasil, o Rio de Janeiro foi a escolhida. A
preocupação maior da OMS esteve ligada às estatísticas de pessoas com 60 anos e
mais: grau de envelhecimento e saúde da população urbana, em especial a saúde
dos idosos, distribuição espacial da população, qualidade de vida, participação
comunitária, planejamento urbano estratégico.
Brasília poderia replicar a pesquisa da OMS para
verificar como suas cidades são amigas dos idosos. De modo geral, as RAs não
destacam planos especiais para essa população. Se assim o fizesse, quais itens
da OMS poderiam ser contemplados, a começar pelas edificações — repartições
públicas e as do equipamento comercial, de serviços e de moradia? Os prédios
apresentam facilidades para acesso, com rampas e elevadores? Os equipamentos
urbanos favorecem a acessibilidade e a mobilidade? As avenidas e ruas têm
conservação nos passeios, cruzamentos com semáforos e sinalização para
facilitar travessias, inclusive para deficientes visuais? Os meios de
transporte oferecem assentos preferenciais e rampas de acesso para os idosos e
pessoas com dificuldade de locomoção?
Brasília, em muitos aspectos, tem facilitado a vida
dos idosos, mas ainda há problemas quanto aos complementos públicos e ao
atendimento de necessidades do cotidiano dos habitantes, idosos ou deficientes.
Assim, onde e como ter acesso a sanitários públicos? Há, nos locais de práticas
esportivas, bancos para o descanso, no Parque da Cidade, por exemplo? Os
passeios públicos estão em estado de conservação adequados, ou possuem degraus
e inclinações que dificultam o andar? Há rampas para acesso ao comércio, bares
e restaurantes? No Plano Piloto e nas RAs, as ciclovias são utilizadas para a
circulação com bicicleta e por pedestres? Há risco de acidentes? Acontecem
conflitos no ir e vir dos citadinos, pedestres ou ciclistas?
Desde 1997, a capital federal é dotada de faixa de
travessia de pedestres, pois as vias de média e alta velocidade até então eram
palco de mortes. Quando não há semáforos, os veículos são obrigados a parar
após o “sinal de vida” dos pedestres, o que é importante para os idosos ou para
as crianças que vão a pé para a escola. Essa foi uma conquista, pois consta que
o DF possui mais de 5 mil faixas em suas ruas e avenidas. Pode-se acreditar que
essa seja uma sinalização para que a cidade seja considerada amiga do idoso,
mas, como referido, a capital necessita aperfeiçoar outros aspectos como
circulação quando há grandes distâncias a vencer, por qualquer modal de
transporte. Os passageiros devem ser alertados para a preferência de assento ao
idoso c0151— o que nem sempre é respeitado pelos mais jovens. Lembrar que há
determinação legal para que todos os assentos do metrô e ônibus sejam
preferenciais para as pessoas da “terceira idade”.
Em resumo, o que interessa aos gestores é dar
condições e qualidade de vida à população em geral e aos idosos em particular
ou, como quer a OMS, “espaços públicos e edificações devem ser acessíveis”. Que
as cidades sejam amigas dos idosos, meta desejável também para todo o Brasil.
(*) Aldo Paviani - Geógrafo, professor
emérito da UnB e diretor de Estudos Urbanos e Ambientais da Codeplan/DF –
Correio Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog - Google
Grato por postar meu pequeno artigo.
ResponderExcluirQue sirva para os "experientes" reivindicar de forma cidadã tudo o que possa tornar melhor seu cotidiano em Brasília e em qualquer cidade (tb no campo) de rico e generoso País.