Estudantes de arquitetura idealizam Brasília para
os próximos anos. Entre os desejos, mais pluralidade cultural, regiões
sensíveis à sustentabilidade e foco no pedestre
Pedestre como prioridade
*Por - » Lucas Nanini » Murilo Fagundes*
Futuras arquitetas têm esperança de alterar o
cenário para democratizar a mobilidade urbana
Quando se pensa em Brasília, geralmente
a imagem dos suntuosos monumentos, das avenidas largas, das não-esquinas e dos
traços do arquiteto vêm à mente de muitas pessoas. Ainda, para outras, a
capital do Brasil exclui os pedestres e conta com uma extrema organização.
Nessa pluralidade de opiniões, três estudantes de arquitetura e urbanismo da
Universidade de Brasília (UnB) pararam para analisar o quadradinho nos dias de
hoje e projetam, para o futuro, uma Brasília que sai dos eixos.
Os sonhos de Julia Erêndira, 21 anos,
Raquel Freire, 22, e Alyssa Volpini, 27, começam com a ideia de humanizar a
cidade por meio da estrutura social. Ciclovias que possibilitam o acesso a
distintos locais, núcleos culturais valorizados, transporte público grátis e
efetivo e abertura dos condomínios residenciais são algumas das projeções das
futuras arquitetas para as próximas décadas. Os anseios do trio foram definidos
em oito eixos centrais (ver infográfico). A seguir, algumas das ideias.
Mais humanização
O Eixo Rodoviário de Brasília (DF-002),
mais conhecido como Eixão, cruza Brasília de ponta a ponta e conta com
radares que limitam a velocidade. Enquanto isso, os pedestres cortam a via
pelas passagens subterrâneas. Daqui a alguns anos, as estudantes esperam ver
faixas para quem está a pé instaladas no lugar de pardais, bem como a redução
da velocidade da via.
Menos especulação
As estudantes lembraram que o Plano
Piloto tem deficit habitacional e, ao mesmo tempo, espaços que poderiam ser
ocupados. Elas comparam São Paulo, com 7.387 pessoas por km², e Plano Piloto,
com 444 pessoas por km². A ideia, defendem elas, é pensar em uma nova forma de
ocupação do Plano. Porém, a especulação imobiliária é um entrave que as
estudantes querem ver longe da capital.
“O valor do metro quadrado no Plano
Piloto está fora da realidade, pelo que o lugar oferece, pela qualidade dos
imóveis. Em Brasília, o metro quadrado é R$ 8.238. A gente tem o exemplo, aqui
do lado, que é Goiânia, onde o metro quadrado custa R$ 4.137. Em São Paulo,
8.245. Aqui, devido à especulação imobiliária, ocorreu um processo para acabar
com a diversidade social”, afirma Julia.
Pedestre como prioridade
A preferência dada ao automóvel
continua na cidade, mas as futuras arquitetas têm esperança de mudar este
cenário, valorizando o pedestre. E com essa mudança, defendem como transporte
para o futuro a bicicleta. Elas avaliam que o transporte de duas rodas
ainda não é considerado opção viável, já que não recebe uma estratégia
direcionada dos governantes. “Ciclovia é o que mais tem em Brasília, mas não se
comunicam. Não é possível, por exemplo, ir da W3 para a L2 de bike. Então não
podemos pensar em bicicleta como meio alternativo de transporte. Se o ciclista
vai pela L2 até o Conjunto Nacional, acaba disputando espaço com os carros. Em
alguns lugares, tiraram as calçadas para construir as ciclovias. Então tem
lugar para bicicleta, mas não dá para as pessoas passarem”, argumenta Alyssa.
Cidades fechadas
Julia, Raquel e Alyssa analisam também a atual disposição dos condomínios residenciais. Elas sonham que, daqui a alguns anos, essas áreas sejam reabertas e deixem de segregar pessoas de classes sociais distintas. “A gente tem uma crítica a essas cidades fechadas. Não há convivência entre as pessoas e isso não diminui a insegurança, dá apenas uma falsa sensação de segurança. São cidades ilhadas, não geram fluxo, não têm interação social, não tem uma cultura, e é só para uma elite. Defendemos a queda dos muros”, diz Raquel.
Julia, Raquel e Alyssa analisam também a atual disposição dos condomínios residenciais. Elas sonham que, daqui a alguns anos, essas áreas sejam reabertas e deixem de segregar pessoas de classes sociais distintas. “A gente tem uma crítica a essas cidades fechadas. Não há convivência entre as pessoas e isso não diminui a insegurança, dá apenas uma falsa sensação de segurança. São cidades ilhadas, não geram fluxo, não têm interação social, não tem uma cultura, e é só para uma elite. Defendemos a queda dos muros”, diz Raquel.
Palavra de especialista -
Políticas de inclusão
“A Brasília do futuro é compacta:
intensa, repleta de atividades, acessível e barata em termos de mobilidade.
Para a concretização dessa capital, é muito importante que o governo tenha
políticas de alta qualidade para promover a autonomia e a independência de
todos os setores, estejam eles mais próximos ou mais afastados do centro. É
possível ter muita gente morando de forma sustentável, mas, com o padrão de
desenvolvimento urbano atual, isso não ocorre. Os prédios públicos deveriam ter
selos de qualidade sustentável, mas, infelizmente, quase nenhum possui. Neste
momento, as ideias sustentáveis são totalmente anacrônicas. Então, para o
futuro, esse cenário poderia mudar. Além disso, aposto que a possibilidade de
movimentar centenas de milhares de pessoas em minutos, a partir do sistema
ferroviário, seja o futuro. Espero ver Brasília com essa cara”. (Frederico Flósculo, 59, professor de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB)
(*) » Lucas Nanini » Murilo Fagundes* -(* Estagiário sob supervisão de Margeth Lourenço (especial para o
Correio) – Fotos: Breno Fortes/CB/D.A.Press – Google - Correio Braziliense