Elefante branco
Assisti a vários jogos no Mané
Garrincha. É talvez o estádio com maior facilidade de acesso no país. Você sai
da rodoviária ou do Setor de Hotéis, caminha uns 15 minutos e entra no estádio.
Quem vem de Taguatinga ou de Ceilândia para em frente à arena. É muito
agradável ver um jogo no Mané. Mas existiam inúmeras carências e prioridades à
frente de construir um estádio numa cidade que não tem público para futebol
profissional.
Enquanto o Teatro Nacional, o Espaço
Renato Russo da 508 Sul, a Biblioteca Demonstrativa da 506/507 Sul, o Centro de
Dança do DF, as escolas e os hospitais caíam aos pedaços, os governantes
erguiam um dos estádios mais caros do mundo. A princípio, estava orçado em R$
700 milhões. Mas, de aditivo em aditivo, chegou a mais de R$ 1,5 bilhão.
Em Brasília, se algum espaço cultural é
fechado, corre o risco de não funcionar mais ou de voltar a funcionar sabe-se
lá quando. O Teatro Nacional teve as atividades interrompidas em 2014, quando
os bombeiros fizeram vistoria e detectaram mais de 100 irregularidades.
O Espaço Renato Russo também foi
interditado em 2014, depois de vistoria dos bombeiros. O MAB parou para reforma
em 2007 por recomendação do Ministério Público, que considerou o edifício um
risco para o acervo, avaliado em R$ 8 milhões. De erro a erro de avaliação,
permanece inativo até hoje.
Não deveríamos permitir que os espaços
culturais interrompessem totalmente as atividades, pois esse é o caminho para a
degradação até a condição de ruínas. Eles se tornam monumentos do desamor à cultura.
As supostas razões para empreendimento
tão megalômano e delirante quanto a Arena Mané Garrincha são elucidadas agora
pelo Ministério Público Federal, que transformou em réus dois ex-governadores,
um ex-vice-governador, diversos executivos de construtoras e funcionários do
GDF.
Desde o início, a arena estava fadada a
ser um megaelefante branco na paisagem. Mesmo se não tivesse sido manchado pela
corrupção, seria completamente inviável. Só a manutenção do estádio custa aos
cofres públicos a bagatela de R$ 600 mil. É um prejuízo imenso com dinheiro que
poderia ser investido em projetos que beneficiam a população.
Eu concordo com o Tostão: a derrota
humilhante de 7x1 do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014 talvez
tenha sido um castigo divino pela corrupção.
Severino Francisco – Jornalista, colunista do Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google
Severino Francisco – Jornalista, colunista do Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google