Os
candidatos do PSL e do PDT, bem cotados para a disputa, podem desidratar pela
fragilidade dos partidos que ocupam, advertem especialistas
*Por Rodolfo Costa
As agitações no mercado financeiro têm nomes e sobrenomes: Jair
Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT). Os dois pré-candidatos à Presidência da
República crescem não apenas em pesquisas de intenção de votos registradas no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas, também, em sondagens internas dos
principais bancos do país. Com destaque para o militar da reserva, apontado
como possível vencedor na última etapa eleitoral.
Para os agentes econômicos, essa é uma explicação para o recuo de 4,2%
do real ante o dólar no acumulado de junho. A moeda brasileira é a segunda que
mais perdeu valor em relação à divisa norte-americana. Na Bolsa de Valores, o
recuo acumulado no mês foi de 5,6%. Analistas políticos avaliam, no entanto,
que a situação não é tão preto no branco.
Muita coisa ainda pode acontecer no cenário eleitoral envolvendo os dois
pré-candidatos e todos os presidenciáveis. Alianças podem surgir e fortalecer
outras campanhas; debates e polêmicas devem influenciar positivamente ou
negativamente a corrida eleitoral. No período que compreende a Copa do Mundo
até as eleições, serão definidos os rumos da campanha e não existe nada certo,
adverte o diretor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de
Brasília (UnB), Paulo Calmon.
“É muito precipitado sustentar um segundo turno com ambos. São dois
candidatos que, na verdade, não têm, no momento, penetração
popular. Eles não são de grandes partidos e não dispõem de muitos minutos no
horário eleitoral gratuito”, pondera. O próprio cenário de uniões entre
partidos também não está definido, destaca. “Podem haver mudanças e alianças
que não estão tão claras”, analisa.
A depender de uma consolidação de Ciro e Bolsonaro no segundo turno, os
mercados podem reagir ainda pior. Há quem aponte, por exemplo, para um dólar de
R$ 5,30 em um quadro entre os dois. E não é uma situação impossível, avalia o
analista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice. “É um cenário possível?
É. Especialmente porque Bolsonaro está relativamente bem posicionado. Mas isso
não quer dizer que ele necessariamente esteja na etapa final das eleições”,
alerta.
O analista lembra que, nas eleições de 2014, Marina Silva atingiu 35% de
intenção de votos nas pesquisas antes do encerramento das candidaturas. Mas a
campanha dela desidratou e nem ao segundo turno chegou. Sem o financiamento
empresarial de campanha, a estrutura partidária fará muita diferença nas
eleições deste ano. Por conta disso, Noronha prega cautela nas análises, uma
vez que PSL e PDT não definiram coligações. “É importante aguardar para ver
como ficarão as alianças de Bolsonaro e Ciro”, ressalta.
Potencial
Outras pré-candidaturas que não podem ser descartadas com potencial para
chegar no segundo turno são as do PT e do PSDB. Embora os petistas tenham
confirmado na sexta-feira a pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, uma possível campanha de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo,
também poderia ter apelo e força, pondera Noronha. A união da candidatura
tucana de Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, com partidos como PTB,
PDS e PPS, pode impulsionar a chapa.
A ojeriza do mercado a Bolsonaro e Ciro se deve à postura autoritária de
ambos. Embora o pré-candidato do PSL tenha escolhido o economista Paulo Guedes
— um dos fundadores do Banco Pactual — para formulação de seu programa
econômico, as incertezas quanto ao gênio difícil do militar da reserva levantam
dúvidas quanto à liberdade que o auxiliar teria para gerir a economia. As
dúvidas não são muito diferentes em relação ao pedetista, sobretudo pela
intenção de revogar o teto de gastos e implementar medidas tributárias progressistas,
como taxação de grandes fortunas e ampliação de impostos sobre lucros e
dividendos.
(*) Rodolfo Costa – Correio Braziliense