"Não posso abrir mão dos meus princípios. Tenho um nome
na cidade e, diante de pessoas que só estão preocupadas com o poder, pelo
respeito que tenho por Brasília, comuniquei ao Valdemar minha desistência - (Jofran Frejat, ex-secretário de
Saúde)
*Por Ana Maria Campos - Ana Viriato
O ex-secretário de Saúde queria autonomia para escolher a chapa, pensou
em encontrar uma solução, mas sentiu-se sabotado dentro do próprio grupo
político
A escolha do vice na chapa foi determinante para o médico Jofran Frejat
(PR) abandonar a candidatura ao Palácio do Buriti. Desde que aceitou o projeto
de concorrer contra a reeleição de Rodrigo Rollemberg (PSB), o ex-secretário de
Saúde deixou claro que não queria ao seu lado nenhum político ficha suja. Mesmo
contrariando aliados, disse e repetiu que não tinha nada a ver com o passado de
companheiros de campanha. Ao Correio, ele ressaltou que buscava autonomia para
tomar decisões.
Pela composição de sua coligação, o MDB deveria indicar o número dois na
chapa. Frejat não topou que fosse o deputado Rôney Nemer, presidente do PP, e
um dos políticos mais afinados com o ex-vice-governador Tadeu Filippelli, que
comanda o MDB no Distrito Federal. O partido tem o maior tempo de televisão: um
minuto e três segundos em cada bloco de nove minutos, que valem ouro numa
campanha curta, de apenas 45 dias, e uma aposta nos programas eleitorais.
O problema de Nemer é jurídico. Condenado em segunda instância por ato
de improbidade administrativa na Operação Caixa de Pandora, o deputado está
enquadrado na Lei da Ficha Limpa; portanto, inelegível. Pode ser que consiga
reverter essa condição, mas colocá-lo na chapa significaria, para Frejat, um
risco. Assim, surgiu outro nome para a vaga, o ex-presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), seccional do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.
Sem condenações judiciais e passado limpo, Ibaneis nunca escondeu também
que, dono de uma grande fortuna, poderia tirar dinheiro do bolso para ajudar na
campanha. Ele fez um gesto político ao retirar a candidatura ao governo,
lançada pelo partido, em apoio a Frejat, o líder nas pesquisas. Assim,
credenciou-se naturalmente como um possível vice. Frejat, no entanto,
demonstrou nos últimos dias que não aprovava essa sugestão de Filippelli. E
mais: não queria a contribuição de recursos privados em sua campanha. Disse
isso a alguns interlocutores próximos.
Frejat também demonstrou irritação com as articulações conduzidas pelo
ex-governador José Roberto Arruda (PR) com dirigentes nacionais em torno da
indicação do deputado Izalci Lucas (PSDB/DF) como vice. Arruda discutiu o
assunto com o ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), coordenador da
campanha de Geraldo Alckmin à Presidência, e com o dirigente nacional do PR,
Valdemar Costa Neto. Frejat também não gostou.
Princípios
Na manhã de ontem, Frejat acordou disposto a conversar com Valdemar e
buscar o entendimento. Mas recebeu demonstrações de que poderia estar sendo
sabotado dentro do próprio grupo político. “Estão dizendo que vendi a minha
alma ao diabo. Não posso aceitar isso”, afirmou.
E acrescentou em conversa com o Correio: “Pelo que estou percebendo,
parece que tudo o que aconteceu no país não adiantou nada. Eu não aceito. Não
posso abrir mão dos meus princípios. Tenho um nome na cidade e, diante de
pessoas que só estão preocupadas com o poder, pelo respeito que tenho por
Brasília, comuniquei ao Valdemar minha desistência”. Frejat, no entanto, não
aponta nomes nem dá detalhes do que o incomoda tanto.
Ana Maria
Campos - Ana Viriato - Correio Braziliense