Encantadores de serpentes
*Por
Circe Cunha
Herança maldita, expressão que ganhou notoriedade na boca do governo Lula, quando tentou imputar ao seu antecessor as mazelas produzidas por sua própria gestão desastrada, vai se perpetuando tanto na política nacional quanto na local. Em Brasília, as notícias sobre os pretensos candidatos aos principais cargos eletivos mostram, além do ressurgimento de velhas caras manjadas tanto pelo cidadão quanto pela Justiça, a movimentação de herdeiros dessa gente, seja por descendência de sanguinidade, seja por afinidade com os ideais desses personagens, para dizer o mínimo, polêmicos. Aliás, a utilização de prepostos fantoches por políticos impedidos de disputarem abertamente as próximas eleições virou uma espécie de estratagema dessa gente, pra driblar os impedimentos legais e mesmo as condenações mais severas, como a prisão.
Num país onde políticos conseguem exercer cargo
eletivo mesmo estando detido, não surpreende a desfaçatez com que esses
fantasmas do passado prossigam arrastando suas correntes em busca de novas e
rendosas oportunidades. A experiência ensina e recomenda que não se deve
conceder brechas ao retorno desse tipo de político que, em ocasiões passadas,
deixou bem claro a que veio.
Uma observação mais atenta aos palanques que vão se
formando aqui e ali pela cidade mostra que a falta de pudor desses postulantes
em se apresentar aos seus como novidade deixa patente que eles nada aprenderam,
nada esqueceram. Vivem e proliferam, dando ninhadas, seguros da pouca memória
dos eleitores e da morosidade da Justiça.
Mulheres, filhos, apaniguados de toda a espécie,
todos servem como opções aos espertalhões que fazem da política um negócio.
Sobrevivem nessa condição não apenas por esperteza pessoal, mas, sobretudo,
porque sabem que podem contar também com a cumplicidade de parte de seus
eleitores fiéis, seduzidos por recompensas e outras migalhas, arrancadas,
depois, deles mesmos.
Agem como prestidigitadores, encantando a plateia
com a rapidez ilusória de sua verborreia. Peritos em habilidades, organizam
reuniões de apoio em que cobram dos ouvintes para cobri-los de falácias e de
promessas vãs . O que surpreende nessa pantomima quadrienal é a capacidade com
que repetem os mesmos discursos diante da plateia domada e crente.
A prosseguir esse desfile de fichas-sujas, o futuro
da cidade e de seus cidadãos de bem promete ser ainda mais turvo que o
presente. Na impossibilidade de a Justiça vir a tempo de tolher-lhes a
pretensão marota, o melhor é fazer orelhas moucas a esses encantadores de
serpentes.
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A frase que não foi pronunciada
A frase que não foi pronunciada
“Todo
homem que se vende recebe muito mais do que vale.”
(Barão de Itararé)
(*) Circe
Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha - Correio
Braziliense – Foto/Ilustração Blog - Google