O
jogo que nunca acaba
*Por Ana Dubeux
Não sei o que provoca em você, mas derrota me abala. Talvez seja o
leãozinho do Zodíaco que mora em mim torcendo para não ter que botar a vaidade
debaixo do braço e voltar para casa com o rabinho entre as pernas ou a juba
despenteada. Os olhinhos das crianças marejados — um sentimento expressado com
simplicidade e maestria pelo traço de Kleber, ontem, na capa do Correio —
também me comovem. Quatro anos de espera sempre me parecem tempo demais. Mas
eis que tudo isso passa... E bem mais rápido do que a gente supõe quando guarda
a camisa verde-amarela na gaveta.
Dói não ver o Brasil ser hexa. Dói o fracasso. Mas dói menos que outras
dores. Não podemos esquecer que tivemos um 7 x 1. Já rompi e voltei atrás
muitas vezes com o futebol. Desta vez, será diferente. Não pelo placar; apenas
porque é para ser assim. Estamos num momento de revisão das estruturas que
sempre nos sustentaram. Esquadrinhar nosso código genético em busca de outras
alegrias que não sejam futebol e carnaval ou qualquer coisa que o valha.
Festa é bom; rir é bom; torcer é uma delícia; brincar é maravilhoso.
Tudo isso tem seu valor e seu lugar. Mas me pergunto quando será que seremos de
fato felizes com algo que nos traga, além de orgulho, algum crescimento real —
e não, não estou falando do PIB.
Não comungo dos ideais extremos do politicamente correto, detesto
radicalismo, adoro humor e não pretendo ser monotemática. Mas, como se diz por
aí, ‘bora aprender com erros e derrotas, seja no futebol, seja na política,
seja na vida? ‘Bora crescer de verdade, pensar adiante, dar valor ao que
precisa? ‘Bora montar uma estrutura firme para escorar o Brasil?
Um país tão rico, potente e maravilhoso merece algo mais. Rir ou chorar
pelo futebol faz parte. Mas quando vamos rir ou chorar por outras coisas? Não é
pra ser discurso chato, mas um convite amável para pensarmos no que realmente
importa. Temos uma eleição pela frente e muitas coisas para refletir.
Aqui se mata e se morre muito. Vivemos em guerra. Destratamos a saúde
pública, a educação, as pessoas que não comungam das mesmas ideias, da mesma
cor, da mesma orientação sexual. Está na hora de repensar tudo, está na hora da
eleição. Vamos encarar esse jogo com fair play e consciência. Porque na
política não tem fim de jogo.
(*) Ana Dubeux -
Editora-Chefe do Correio Braziliense - Foto/Ilustração: Blog - Google