Cadê
os distritais que estavam aqui? - Campanha eleitoral afasta deputados dos
trabalhos na Câmara Legislativa. Sessões no plenário estão às moscas
*Por Helena Mader
Desde o
início da campanha eleitoral, os deputados distritais recebem em dia o salário
de R$ 25.322 e mantêm os privilégios, como o direito de gastar recursos da
verba indenizatória. Mas os parlamentares não têm dado a contrapartida. Eles
praticamente desapareceram da Casa, depois que começou a correr o prazo legal
para pedir votos nas ruas. De 16 de agosto até ontem, houve 15 sessões
ordinárias, mas só em três foi registrado o quorum mínimo para votação de
projetos. Na maioria, não havia nem o número necessário para abrir os
trabalhos, com debates e discursos. Nesses casos, as sessões foram abertas e
encerradas logo depois. Dos 24 integrantes da Casa, 22 vão disputar algum cargo
no mês que vem.
O Correio
analisou as atas públicas das reuniões dos últimos 35 dias. Nos documentos é
possível verificar se houve deliberações e se a Câmara registrou o número
mínimo de deputados exigido no Regimento Interno. Para discursos e debates, é
preciso quorum de seis parlamentares — um quarto da Casa. No caso de votações,
é necessária a presença de ao menos 13 distritais.
Em 16 de
agosto, primeiro dia de campanha, a sessão foi aberta às 15h05 e encerrada 20
minutos depois, sem quorum. Em 21 de agosto, começou às 15h02 mas, sem a
presença mínima de deputados, foi interrompida e retomada às 15h28. Chico
Vigilante (PT), Cláudio Abrantes (PDT), Professor Israel (PV), Liliane Roriz
(Pros), Luzia de Paula (PSB), Wasny de Roure (PT), Júlio César (PRB) e Raimundo
Ribeiro (MDB) discursaram mas, às 16h23, não havia mais quorum para o
prosseguimento da reunião, encerrada pelo presidente, Joe Valle (PDT).
Em 22 de
agosto, não houve quorum nem para discursos. Às 15h30, Joe reclamou da
situação. “Estamos aguardando os deputados descerem para abrirmos os nossos
comunicados de parlamentares, mas como muitos passaram e não ficaram, temos
apenas três deputados em plenário. Então, declaro encerrada a sessão”, alegou
Joe. Em 23 de agosto, a Câmara fez uma comissão geral para debater o sistema
penitenciário. Os trabalhos foram presididos pelo Bispo Renato (PR). Após a
exposição de convidados, o parlamentar encerrou o debate sem a participação de
todos os que pretendiam discursar. “Sei que o doutor Celso gostaria de falar,
assim como tantas outras pessoas, mas extrapolamos tudo aquilo que eu podia
esperar. Estou sendo muito franco com vocês. Desde as 18h, há uma equipe de
filmagem nos esperando, é questão eleitoral”, argumentou Bispo Renato. Ele
pediu que o palestrante enviasse as considerações por escrito.
Na sessão
ordinária seguinte, em 28 de outubro, os trabalhos foram abertos com a presença
de Chico Vigilante, Delmasso (PRB), Bispo Renato e Telma Rufino (Pros). Sem
quorum para começar os debates, a reunião foi paralisada por 30 minutos. Na
reabertura, com a presença adicional de Lira (PHS), Cláudio Abrantes (PDT),
Rafael Prudente (MDB) e Wasny, depois de discursos, alguns parlamentares
reclamaram da falta de quorum para votações. “Pelo visto, mais uma vez, não se
votará nada no dia de hoje. Está começando a ficar feio”, disse, em plenário,
Chico Vigilante. “Depois, quando a população e a imprensa reclamarem, ninguém
venha dizer que a culpa é dos outros”, acrescentou o petista, de acordo com os
registros na ata da sessão.
“Senhor
presidente, vossa excelência vai encerrar a sessão, mas eu gostaria de
questionar, de repente, num último afago de esperança, num suspiro de afogados,
se não caberia uma suspensão e um apelo para trazermos os deputados ao
plenário. Mais um dia sem votação na Câmara”, comentou Abrantes. Presidindo a
sessão no momento, Reginaldo Veras também lamentou. “Peço desculpas a vossa
excelência por cercear sua esperança”, afirmou, encerrando a sessão às 15h57
Desabafo
Na sessão
de 29 de agosto, novamente sem quorum, Reginaldo Veras desabafou: “Voltamos aos
trabalhos legislativos há um mês e, até hoje, não produzimos nada significativo
nesta Casa. Em quase todas as sessões, não houve nem quorum para iniciar os
trabalhos e, nas poucas vezes que encontramos quorum, ficamos aqui nos
discursos de críticas, às vezes discursos vazios, enquanto nós temos um monte
de matéria importante para se votar nesta Casa. Não estou jogando para a
galera, mesmo porque não há galera, não há plateia. Só há uma moça lá em cima —
seja muito bem-vinda!”. Sem que ninguém mais quisesse discursar, a sessão foi
encerrada, sem quorum, às 15h41.
Na sessão
seguinte, só compareceram Professor Israel, Chico Vigilante e Reginaldo Veras.
Não houve nem discursos, nem debates. Em 4 de setembro, pela primeira vez desde
a campanha, houve quorum para votação, com 17 presenças e sete ausências. A
reunião do número mínimo, no entanto, demorou e foram necessários pedidos para
o comparecimento dos distritais. “Eu queria fazer apelo aos colegas. Sabemos
que a maioria está nas ruas em campanha política, o que é natural, mas acho que
pelo menos a terça-feira à tarde deveríamos reservar para que nós pudéssemos
dar uma satisfação, porque não faz sentido a Câmara estar aberta, e nós
recebermos salário, e ela não funcionar”, disse, em discurso, o líder do
governo, Agaciel Maia (PR). Ele defendia a votação de propostas de interesse do
Buriti, como o projeto do plano de uso do Arenaplex, que engloba o Estádio Mané
Garrincha. Com a chegada do número mínimo para votações, a sessão foi
realizada, com a aprovação também de moções e requerimentos.
No dia
seguinte, porém,sem quorum, os trabalhos foram encerrados às 15h30. Em 6 de
setembro, a sessão foi transformada em comissão geral para debater a
transparência do processo legislativo e os compromissos da parceria para
governo aberto.
Em 11 de
setembro, houve quorum para debates, mas não para votações. A reunião acabou às
17h31, sem nenhuma votação. No dia seguinte, não houve número suficiente nem
para discursos. Em 13 de setembro, haveria uma comissão geral para debater as
atividades do Instituto Hospitalar de Brasília. A sessão, que havia sido pedida
pelo deputado Delmasso, foi suspensa a pedido do próprio parlamentar, por conta
“do agendamento de outros compromissos”. As atas dos dias 18 e 19 ainda não
foram disponibilizadas, mas, na última terça-feira, houve quorum e os
distritais votaram alguns projetos próprios.
O
presidente da Câmara, Joe Valle, e Liliane Roriz são os únicos parlamentares do
DF que não são candidatos. Joe reclama da falta de quorum nas sessões. “A
dificuldade é muito grande”, reclamou Joe.
Plenário vazio - 24 Deputados que compõem a Câmara Legislativa - 22 Distritais disputam algum cargo em 7 de outubro - 15 Sessões ordinárias realizadas desde o início da campanha - 03 Votações realizadas na Câmara desde o início da campanha - R$ 25 mil Salário dos distritais
Plenário vazio - 24 Deputados que compõem a Câmara Legislativa - 22 Distritais disputam algum cargo em 7 de outubro - 15 Sessões ordinárias realizadas desde o início da campanha - 03 Votações realizadas na Câmara desde o início da campanha - R$ 25 mil Salário dos distritais
(*)
Helena Mader - Correio Braziliense
Tags
ELEIÇÕES 2018