Vista
aérea da Barragem do Descoberto: setembro com melhor nível do reservatório nos
últimos três anos
Como cada candidato enfrentará a crise hídrica- Construção de
novos sistemas de captação, uso sustentável do recurso na lavoura e
privatização de parte da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
(Caesb) são algumas das propostas dos concorrentes ao Palácio do Buriti
*Por Pedro Grigori
Três meses após o fim do racionamento no Distrito
Federal, os reservatórios que abastecem a capital apresentam o maior volume
para o período desde 2015. Apesar do resultado, especialistas alertam que a
situação ainda não é confortável e que deixar o tema fora dos planos de governo
pode levar a uma nova crise hídrica em menos de uma década. O Correio ouviu as
propostas de combate à escassez do recurso dos 10 candidatos ao Palácio do
Buriti, mas as soluções são divergentes. Entre as projetos estão a construção
de novos sistemas de retirada de água, investimento no uso consciente pelo
setor agrário e privatização de partes da Companhia de Saneamento Ambiental do
Distrito Federal (Caesb).
Durante o mandato, a aposta de Rodrigo Rollemberg
(PSB) no combate ao problema teve foco em obras de retirada de água. Em dois
anos, o Executivo investiu quase sete vezes mais na construção de captações do
que nos 15 anos anteriores, sem contar a cifra aplicada no sistema Corumbá IV,
com previsão de conclusão para dezembro. Apenas dois candidatos ao GDF
pretendem seguir os passos do governador e investir em novos sistemas: Eliana
Pedrosa (Pros) e Ibaneis Rocha (MDB), que querem retirar recursos do Rio
Maranhão.
O objetivo é melhorar o abastecimento da região
norte do DF. A empreitada seria em parceria com Goiás, onde fica grande parte
do manancial, seguindo o exemplo de Corumbá IV, que passou por diversas
paralisações e ainda não foi entregue, mesmo 15 anos após a conclusão do
projeto inicial. Especialista em recursos hídricos da Universidade de Brasília
(UnB), Sérgio Koide alerta, no entanto, que o rio não abriga grande quantidade
de água por estar próximo à nascente. “É uma possibilidade para complementar o
abastecimento da região, mas ainda é necessário estudo completo sobre a
viabilidade”, disse.
Koide alerta que a obra de captação prioritária
deve ser a do Lago Paranoá. Em 2005, após atrasos na conclusão de Corumbá IV, a
Caesb conseguiu autorização para retirar água do espelho d’água. Uma obra de
urgência foi concluída no ano passado e capta cerca de 700 litros por segundo
(l/s) por meio de um flutuante instalado no Lago Norte, mas o projeto original
autorizado há mais de uma década permite captação de até 2,5 mil l/s. Essa obra
está orçada em R$ 500 milhões, 10 vezes mais do que o gasto no sistema
emergencial.
A captação definitiva do Lago Paranoá não aparece
entre as propostas dos candidatos ouvidos pela reportagem. Mesmo Rollemberg,
que afirmou durante a crise hídrica buscar parcerias para viabilizar a
construção, adiantou que esse não é um projeto prioritário, tendo em vista o
alívio hídrico viabilizado pela entrega de Corumbá IV.
Preservação
O ecossociólogo Eugênio Giovenardi explica que,
mundialmente, enfrenta-se um momento crítico de escassez hídrica. “No DF,
dependemos exclusivamente da irregularidade da chuva. Apenas em dois dias desta
semana choveu mais do que em todo mês de setembro do ano passado. Por isso, não
podemos pensar só no hoje. São necessários programas a longo prazo”, ressaltou.
Esse tipo de planejamento maior de Miragaya (PT), Fátima de Sousa (PSol) e
Rollemberg estão ligados à conservação das áreas de nascentes e ao incentivo ao
uso consciente da água pelos pequenos agricultores.
O candidato do PT ao GDF destaca que a destinação
principal da água no DF é para a agricultura. “Há formas de irrigação por
gotejamento, por exemplo, que consomem menos. Vamos facilitar o acesso a esse
material por meio de linha de financiamento para a agricultura familiar”,
explica. Rollemberg quer implantar o programa Produtor de Água, no qual há
remuneração a quem presta serviços ambientais. O governador também pretende
investir em canais de passagem. “Vamos tubular 18km do Canal do Rodeador, em
Brazlândia e, com isso, reduzir a infiltração e a evaporação, garantindo que um
volume maior de água chegue ao Rio Descoberto”, detalhou.
Fátima garante que a sustentabilidade terá muito
espaço na agenda de governo. O objetivo é planejar e antecipar problemas, a fim
de evitar um novo racionamento. “A resposta do Rollemberg (rodízio de cortes)
caiu sobre os pobres. Eu moro no condomínio Ilhas do Lago (Asa Norte) e nunca
fiquei sem água”. A candidata esteve na Serrinha do Paranoá no começo do mês,
onde, acompanhada de Miragaya, Alexandre Guerra (Novo) e Paulo Chagas (PRP),
assinou uma carta de compromisso de preservação da região, que abriga mais de
100 nascentes.
IPTU
Verde, reúso e educação
Alberto
Fraga (DEM) e Alexandre Guerra apostam no fortalecimento da Caesb. O que difere
das propostas deles é o modo de fazer isso. Fraga quer manter a companhia como
empresa pública, enquanto o candidato do Partido Novo pretende abrir parte da
estatal para capitalização pelo setor privado. “Vai impactar mais recursos para
necessárias obras de captação”, defendeu Guerra, que alerta não se tratar de
uma privatização total, mas de vender apenas partes da empresa.
O especialista Sérgio Koide é contrário à abertura
da Caesb ao setor privado. “Nas últimas décadas, países desenvolvidos passaram
a privatizar o setor de saneamento urbano, mas o resultado não foi positivo,
com sucateamento e aumento no valor do produto. Por isso, mundialmente, o setor
passa por uma desprivatização”, analisou.
A principal proposta de Rogério Rosso (PSD) para a
pauta da sustentabilidade é o IPTU Verde, projeto que segue modelo de cidades
como Salvador, Curitiba e Rio de Janeiro. O objetivo é dar desconto no imposto
a empreendimentos residenciais ou comerciais que investirem em iniciativas
sustentáveis, como captação da chuva, reutilização de água cinza (de uso
doméstico) e energias renováveis, como a fotovoltaica. “É o meu compromisso
tanto para empreendimentos novos quanto para atuais. Temos chuva plena em cerca
de quatro meses no DF. É um desperdício não utilizar essa água”, avaliou Rosso.
Eliana Pedrosa quer elaborar o Plano Distrital de
Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca no DF. A candidata do
Pros pretende também investir na educação, incentivando projetos que integrem
escola com os órgãos públicos para desenvolver trabalhos práticos de tratamento
de água e saneamento básico.
Saneamento básico
Para Paulo Chagas, é preciso investir em reúso. “Os
lava a jato deveriam ter um sistema de reaproveitamento, com as pessoas
limpando a água suja e reaproveitando”, defendeu. Ibaneis quer investir no
combate às perdas da Caesb. “Hoje, elas atingiram o vergonhoso índice de 30% do
volume total da água captada e tratada. Da mesma forma, é preciso investir na
automação das redes e nos sistemas de distribuição para buscar a melhoria do
atendimento”, detalhou.
Guillen (PSTU) tem como principal bandeira impedir
a privatização de estatais responsáveis por tratamento de água e saneamento
básico. É previsto também no plano de governo do professor a valorização do
Instituto Brasília Ambiental (Ibram) por meio do aumento de recursos e
contratação de servidores.
“Não podemos pensar só no hoje. São necessários
programas a longo prazo - (Eugênio Giovenardi, ecossociólogo)
(*) Pedro
Grigori – Foto: Breno Fortes/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
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