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Tombamento e eleições - (Motivo: ambos (políticos e empresários) não sabem o que isso significa para a capital e sua gente nem a importância disso para o futuro da cidade)


Tombamento e eleições

*Por Circe Cunha

Passados 31 anos desde que Brasília recebeu o honroso título de Patrimônio Cultural da Humanidade, segundo avaliação feita pela Organização das Nações Unidas para a Ciência Educação e Cultura (Unesco), as comemorações sobre essa conquista inédita, desbancando, naquela ocasião, bens muito mais antigos e famosos como as Pirâmides do Egito, a Acrópole de Atenas e a Grande Muralha da China, as preocupações acerca da manutenção dessa façanha se sobrepõe as próprias comemorações.

O descuido com a preservação de nosso patrimônio histórico é patente e pode ser conferido com o dramático incêndio que consumiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, reduzindo a cinzas boa parte do acervo material que conta nossa história. Embora o tombamento como Patrimônio Cultural e o processo de emancipação política da capital tenham se dado em datas muito próximas , a decisão da Unesco em aceitar Brasília nesse distinto rol internacional, significou um enorme empecilho burocrático contra a investida destrutiva da especulação imobiliária que, nessa altura, atuava com grande desenvoltura.

A saída, pensada para driblar e romper as novas restrições veio justamente da união entre os empreendedores da construção civil e a nova classe política que emergiu com a emancipação. Dessa união, surgiu uma profusão de candidatos bancados diretamente pelos próprios empresários de olho nos rendosos negócios de terras no Plano Piloto e em todo o Distrito Federal. Não por outra razão, que a partir desse encontro formado por empreendedores gananciosos e políticos locais sem escrúpulos que os ataques contra o patrimônio passaram a acontecer numa constante surpreendente, o que necessariamente levou os técnicos da Unesco a incluir a decisão de reverter o ato de tombamento, pouco anos depois, incluindo a capital modernista entre os sítios passíveis de perderem, para sempre, o status de Patrimônio da Humanidade.

Com a maior área tombada do mundo — 112Km² —, Brasília poderia explorar muito mais a condição de turismo voltado para a arquitetura e urbanismo, mas os repetidos ataques especulativos ao seu desenho original, único em todo o mundo, tem afugentado a maioria dos turistas que viajam ao redor do planeta apreciando essas obras do gênio humano.

Para piorar uma situação, que se agrava a cada ano, com as alterações ao gabarito original da cidade que vão sendo costuradas a cada novo ciclo de governo e, principalmente, a cada nova legislatura que comporá a Câmara Legislativa, o silêncio e mesmo a ignorância demonstrada pelos novos postulantes que pretendem governar a capital, torna visível a pouca importância que dão ao tema do tombamento.

Para esses candidatos que ora se apresentam nas eleições gerais do DF, o tema tombamento significa, antes de tudo, a extinção da moeda política de troca de lotes por votos, o que viria, inclusive, a decretar o fim da tão propalada emancipação política feita em cima desses ativos. De fato, a preservação de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade não interessa nem aos políticos que ora correm atrás de votos nem aos especuladores que os financiam. Motivo: ambos (políticos e empresários) não sabem o que isso significa para a capital e sua gente nem a importância disso para o futuro da cidade.

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A frase que foi pronunciada
A arte, como a natureza, cria formas para seus próprios fins, num mundo onde tudo é tanto tangível como intangível.
(Tomie Ohtake, artista plástica) 

(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog - Google






1 Comentários

  1. Chiquinho Dornas, para variar, volto ao meu "samba de uma nota só": Que a Bacia do Paranoá seja considerada FORMALMENTE como sendo o que de fato é: o CENTRO HISTÓRICO DA CAPITAL FEDERAL. Por que? para que seja instituído um modo de preservar a identidade original de Brasília além e independente do Tombamento, mediante a formação de uma comissão TÉCNICA fiscalizadora com direito de veto a cuja aprovação estaria sujeita TODA E QUALQUER intervenção que venha a ser proposta!

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