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Perfil diversificado na Câmara Legislativa - Policiais e professores formam metade da nova Câmara - Desequilíbrio de classe e gênero


Perfil diversificado na Câmara Legislativa - Dezesseis categorias profissionais formarão a próxima legislatura, com peso maior para a segurança pública e a educação. Entre distritais, federais, senadores e suplentes, homens e brancos são maioria entre os eleitos no Distrito Federal

*Por Pedro Grigori 

A nova Câmara Legislativa será representada por pelo menos 16 categorias profissionais. Um quarto dela será ocupada por integrantes das forças de segurança. Foram eleitos seis deputados distritais vindos da Polícia Civil, militares dos Bombeiros e da Aeronáutica — o dobro da atual gestão. Os futuros parlamentares se elegeram com apoio das corporações e apoiados em pautas como o combate à violência e, segundo especialistas, caso consigam se unir, formarão a bancada mais forte da Casa.

O meio educacional também dobrou de tamanho e terá forte representatividade na próxima legislatura, com seis professores eleitos, sendo dois da rede pública. Mas o diálogo pode não ser tão fácil, pois o grupo divide-se entre tendências de direita, esquerda e centro, com visões diferentes sobre tópicos polêmicos, como o Escola Sem Partido. O terceiro maior conjunto será o do empresariado, com três nomes, que prometeram em campanha levar ao Legislativo local pautas voltadas ao incentivo ao empreendedorismo. Na atual formação da Câmara, a maioria dos distritais declararam ser empresários — no total, seis.

O crescimento na quantidade de professores e membros de forças de segurança pode estar relacionado à descrença dessas categorias com o governo de Rodrigo Rollemberg (PSB), segundo o professor de ciências políticas da Universidade Católica de Brasília (UCB) Creomar de Souza. “Os grupos perceberam a necessidade de representatividade no poder para lutar em defesa de seus interesses; com isso, lançaram diversos nomes na busca pelo pleito”, explica.

O especialista avalia que os concorrentes aproveitaram o interesse da população em relação às pautas representadas por esses segmentos profissionais. “A sociedade se mostrava preocupada com temas como a segurança pública e a educação, e os candidatos aproveitaram isso para relacionar seus nomes a essas áreas, fazer promessas e garimpar votos”, explica. Exemplo disso é a votação do delegado Fernando Fernandes (Pros), que chefiava a 19ª DP (Ceilândia Norte) e recebeu 29.420 votos. Além dele, fazem parte do grupo da segurança os policiais civis Reginaldo Sardinha (Avante) e Cláudio Abrantes (PDT), o militar da Aeronáutica Iolando (PSC), o bombeiro Roosevelt Vilela (PSB) e o PM Hermeto (PHS).

Mesmo de corporações diferentes, há uma possibilidade de os distritais eleitos se converterem em uma bancada, pois cinco deles farão parte da base de Ibaneis Rocha — apenas Roosevelt, do PSB de Rollemberg, afirmou que terá postura independente na Câmara. “Ainda não dá para afirmar se eles farão alianças ou não, ainda mais por serem novos nomes na política. Mas há mais chances de uma coesão formada pela segurança do que pela educação, setor em que os distritais têm um discurso que diverge”, analisa Creomar. Reginaldo Veras (PDT), Leandro Grass (Rede), João Cardoso (Avante), Daniel Donizet (PRP) e Jorge Vianna (Pode) integram o grupo dos educadores.

Religião e formação
Vinte e um dos futuros distritais são graduados. Chico Vigilante (PT) e Valdevino Barcelos (PP) têm ensino fundamental incompleto, e Martins Machado (PRB), ensino médio completo. O último deles é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus e foi o mais votado destas eleições no DF, com 29.457 votos. É o segundo pleito consecutivo em que o candidato da Universal foi o mais votado — em 2010, Julio Cesar (PRB) esteve nessa posição.

Mesmo assim, apenas metade do grupo de líderes religiosos da Casa será mantida. Delmasso (PRB), pastor da Sara Nossa Terra, voltará em 2019. Bispo Renato (PR), da Igreja Assembleia de Deus Campo do Guará, e Sandra Faraj (SD), do Ministério da Fé, não se reelegeram. Julio Cesar garantiu uma vaga na Câmara dos Deputados.
"A sociedade se mostrava preocupada com temas como a segurança pública e a educação, e os candidatos aproveitaram isso para relacionar seus nomes a essas áreas” (Creomar de Souza, professor de ciências políticas da UCB)
Desequilíbrio de classe e gênero

Por » Alexandre de Paula 

Homens e brancos serão a maioria dos representantes do DF no Legislativo em 2019. Entre os 38 escolhidos nestas eleições pela população para ocupar cargos de deputado distrital, federal e senador (além de suplentes), 71,1% são homens e brancos (68,42%). A maioria tem ensino superior (84,21%) e é casada (78,9%). O número revela um avanço de representatividade em relação às eleições de 2014. Naquele ano, 82,9% dos parlamentares vencedores eram homens e 77,1%, brancos. Para especialistas, o predomínio desses grupos reflete as questões sociais do país.

Apesar de o número geral revelar desequilíbrio de gênero entre os próximos parlamentares, o DF elegeu uma bancada feminina significativa na Câmara Federal. Cinco dos oito deputados são mulheres. O cenário mais desigual é o do Legislativo local, em que apenas três das 24 cadeiras são ocupadas por elas. Não haverá negro eleito pela capital federal no Congresso Nacional e apenas dois foram escolhidos para a Câmara Legislativa. Para o senado, Izalci Lucas (PSDB) foi eleito com dois suplentes homens e brancos. Leila Barros (PSB) tinha duas mulheres (uma delas, negra) na suplência.

Cientista político e especialista em políticas públicas pela Universidade de Brasília (UnB), Emerson Masullo destaca que a desigualdade entre o percentual de eleitos por raça e por sexo demonstra que não há isonomia nos Legislativos local e nacional. “Se o parlamento representa o povo, esse desequilíbrio significa que nós temos classes sociais que não estão conseguindo ser incluídas na vida política”, observa.

Para as eleições deste ano, além da obrigatoriedade de 30% de candidaturas femininas, havia a exigência de que 30% dos recursos do fundo eleitoral fossem destinados às mulheres. “A Constituição fala de isonomia; então, deveria haver vagas iguais. Por que não determinar que esse percentual seja de 50% e acrescentar a raça também nessa obrigação? Se há mais candidatos homens e brancos, os eleitos também seguirão essa tendência”, critica Masullo.

Igualdade
Para o especialista, as políticas públicas de inclusão e a legislação eleitoral falham ao tentar tornar o processo mais igualitário. “Talvez falte ao eleitor brasileiro consciência quanto à necessidade de igualdade de gênero e raça na política. As ações governamentais que estão em curso não são suficientes para tentar resolver isso”, avalia.

A educação pode ser outra chave para a promoção de igualdade entre os políticos, como defende o cientista político. O ensino de disciplinas que tratem desses princípios desde a base poderia moldar a consciência do eleitorado brasileiro. “Hoje, existe material qualificado e sem conteúdo ideológico e partidário produzido por brasileiros para isso”, reforça Masullo. 


(*) Pedro Grigori - Alexandre de Paula - Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press - Correio Braziliense


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