"Quero
ser conhecido como o governador que recuperou Brasília" - Muitos governos, ao longo desses anos,
sucumbiram ao populismo e à demagogia. E eu resolvi que não ia fazer isso.
Brasília foi muito generosa comigo, tenho uma gratidão profunda. Em nenhum
momento, agi pensando em eleição"
Por Ana Dubeux –Ana Maria Campos – Helena Mader
Rodrigo Rollemberg (PSB) chegou a tomar a decisão de não
concorrer à reeleição. Comunicou a dirigentes partidários e a familiares. Mas
voltou atrás, incentivado por aliados como o governador eleito do Espírito
Santo, Renato Casagrande (PSB), a mulher, Márcia Rollemberg, e a mãe, Teresa
Rollemberg. Ele entrou em campanha com a sensação de que tinha um legado a
defender, mas ciente da dificuldade de vitória.
O chefe do Executivo atribui às medidas econômicas para o
ajuste, com suspensão de reajustes, sua derrota nas urnas. A atuação de alguns
sindicatos, como os da Polícia Civil e da saúde, é outra explicação de
Rollemberg para o resultado da eleição. “Eles fizeram um boicote ao governo,
que se transformou em um boicote à população”, afirma. Mas o governador garante
que deixa o cargo “com uma sensação de dever cumprido”. “Saio de cabeça erguida
e de consciência tranquila. E com um certo alívio, com certeza”.
Para Rollemberg, o grande temor era deixar um governo
desajustado nas contas públicas, com descumprimento da Lei de Responsabilidade
Fiscal e pendências judiciais.“Eu jamais aceitaria ser conhecido como o
governador que quebrou Brasília. Pelo contrário, quero ser conhecido como o
governador que recuperou Brasília”, afirmou.
Em entrevista exclusiva ao Correio, o atual chefe do Buriti
falou sobre seus últimos dias à frente do Governo do Distrito Federal.
Aproveitou a oportunidade para fazer um balanço sobre a gestão e apontou erros
e acertos. Seu grande mea-culpa são as concessões feitas aos deputados distritais,
que indicaram políticos para as administrações regionais. A atuação para sanear
as contas públicas foi, para Rollemberg, o grande legado. “Ele (Ibaneis) tem à
frente uma oportunidade que eu não tive. Se eu tivesse começado o governo com
R$ 600 milhões em caixa, tudo seria completamente diferente”, afirma.
Rollemberg diz que torce pelo sucesso do governo de Ibaneis
Rocha, mas acredita que o emedebista não conseguirá cumprir todas as promessas
de campanha, como a concessão de reajuste a 32 categorias, e às polícias Civil
e Militar. “Não acredito que ele vá conseguir cumprir os compromissos que
assumiu, com a situação atual da economia, ainda mais reduzindo impostos. Não
consigo ver essa equação fechar. Mas ele tem a legitimidade dada pelas urnas”,
acrescenta o chefe do Palácio do Buriti. “Não acredito que dará certo, mas
torço para que dê certo. Espero estar enganado”.
Rollemberg voltará ao Senado, como servidor, e deve trabalhar
na liderança do PSB. Diz que o partido “fará uma oposição diferenciada e
qualificada” ao governo Bolsonaro. Ele critica integrantes da bancada do
Distrito Federal, principalmente os senadores Cristovam Buarque (PPS) e Reguffe
(sem partido), a quem atribuiu “uma capacidade de articulação muito pequena”.
“Senti falta de ter uma bancada mais atuante, especialmente no Senado, em
defesa dos interesses de Brasília”.
Qual foi seu maior acerto nesses quatro anos de governo?
O maior acerto foi ter tido coragem de fazer o que era
necessário para entregar uma cidade melhor, para garantir o equilíbrio
econômico, o que permite hoje que todos os servidores tenham salário em dia,
que os prestadores de serviço recebam, criando condições para que a cidade
possa entrar em um período de franco desenvolvimento.
Isso custou a sua reeleição?
Fui vítima de um momento político e econômico muito difícil.
Tivemos que fazer um ajuste econômico no ambiente de maior depressão econômica
da história do país. Também fui muito prejudicado pelo corporativismo,
especialmente dos sindicatos da Polícia Civil e de alguns sindicatos da área de
saúde. Mas hoje tenho a consciência muito tranquila de que estou entregando uma
cidade infinitamente melhor do que a que recebi em 2015.
Em que situação vai entregar as contas públicas
ao próximo governador?
Em 3 de janeiro de 2019, o governador Ibaneis terá mais de R$
600 milhões em caixa limpinhos, depois de ter pago todos os salários dos
servidores públicos. É uma cidade infinitamente melhor do ponto de vista
econômico, em comparação com aquela que recebemos.
E qual é o maior arrependimento?
Não tenho arrependimento de nada. Tenho a percepção de alguns
erros que a gente cometeu. A maior fragilidade do nosso governo foi nas
administrações regionais. Eu não faria as concessões que fiz aos deputados
distritais nas administrações em um eventual segundo governo. As administrações
ficaram muito prejudicadas na interlocução com a população.
Pessoas indicadas por deputados distritais cometeram
irregularidades na gestão?
Quando tínhamos indícios de eventuais irregularidades,
afastávamos imediatamente. O problema era a capacidade de diálogo, por não
defenderem o governo e por não representarem os desejos da população. Se pegar
meu secretariado, a maioria não tem indicação política. Saúde, educação, gestão
do território, segurança pública, obras, nenhuma dessas áreas tem interferência
política. Fizemos as composições políticas nas administrações regionais, onde
tivemos a maior fragilidade. Mas, no começo do governo, antes das
substituições, havia várias indicações políticas…A saúde, a educação, em nenhum
momento, tiveram. Poucas secretarias tiveram. A gente demorou para fazer as
substituições na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, no Ibram, no DER. Se
tivéssemos feito essas trocas com mais antecedência, teríamos condições de
fazer mais entregas à população.
Que balanço faz da relação com a Câmara Legislativa
nesses quatro anos? É possível governar sem negociar com cargos?
Entramos em uma situação de conflito, de uma agenda muito
dura. Tivemos que suspender aumento de salários, tivemos que fazer ajuste de
alguns impostos. Mas considero que consegui, na Câmara Legislativa, feitos
extraordinários, que permitiram o equilíbrio das contas públicas: os dois Refis
que nós aprovamos, o Instituto Hospital de Base, e a reestruturação da
Previdência, que a gente fez sem conflito algum.
Vale a pena fazer ajuste fiscal?
O ajuste fiscal não é um fim em si mesmo. É fundamental para
que o Estado possa cumprir seu papel de suprir as necessidades básicas da
população e oferecer melhor qualidade de serviços públicos. Se não tivéssemos
feito o que fizemos, Brasília quebraria e estaria no caos. Eu jamais aceitaria
ser conhecido como o governador que quebrou Brasília. Pelo contrário, quero ser
conhecido como o governador que recuperou Brasília. E fizemos isso sem
corrupção. Hoje, posso ir a qualquer lugar do Distrito Federal de cabeça
erguida. Sou sempre respeitado pelas pessoas. Há um reconhecimento de boa parte
da população, até de pessoas que não votaram em mim, de que fizemos um governo
correto.
Esses R$ 600 milhões que estarão na conta serão ajuda para o
governador eleito Ibaneis cumprir os compromissos que ele fez, de reajustar salários?
Ele tem à frente uma oportunidade que eu não tive. Se eu
tivesse começado o governo com R$ 600 milhões em caixa, tudo seria
completamente diferente. Começamos o governo com 13º atrasado, sem condições de
pagar as férias antecipadas dos professores, o que gerou os primeiros
movimentos na Praça do Buriti. Ele vai começar o governo com salários pagos,
mais de R$ 600 milhões na conta, com as férias já empenhadas e liquidadas.
Naquela ocasião, não demos aumento da Polícia Civil porque era impossível
conceder e porque era injusto dar um reajuste de 37% a uma única categoria
profissional, quando havíamos suspenso, por necessidade, o aumento de 32
categorias profissionais. Não teria sentido dar aumento de 37% para a Polícia
Civil e não dar aumento para a Polícia Militar.
Acha que Ibaneis cumprirá as promessas?
Ele ganhou as eleições e terá condições de implementar seu
programa de governo. Eu torço pelo sucesso, porque tenho uma forma diferente de
fazer política. Brasília é a cidade que eu amo e o sucesso do governo é o
sucesso da cidade. Não acredito que ele vá conseguir cumprir os compromissos
que assumiu, com a situação atual da economia, ainda mais reduzindo impostos.
Não consigo ver essa equação fechar. Mas ele tem a legitimidade dada pelas
urnas.
O senhor decidiu não mandar para a Câmara
uma proposta para reduzir impostos, como havia pedido o
governador eleito. Por quê?
Nosso governo se caracterizou pela responsabilidade. Agora,
no fim do meu mandato, eu não faria qualquer movimento contrário a isso. Temos
uma questão legal, somos impedidos de reduzir impostos em ano eleitoral. E a
Lei de Responsabilidade Fiscal diz que só se pode reduzir impostos se houver um
estudo profundo mostrando como vai compensar essas receitas. E é claro que, se
reduzir a arrecadação, será preciso deixar de chamar concursados, reduzir
investimentos e o custeio de algumas áreas. Até a meia-noite de 31 de dezembro,
o governador sou eu. Se ele quiser reduzir impostos, pode fazer a qualquer
tempo a partir de 1º de janeiro. Eu entendo que a prioridade deve ser recuperar
a capacidade de investimento do Estado, para que haja melhorias nas áreas mais
carentes. É um círculo virtuoso, investimento gera emprego e gera desenvolvimento
da economia e aumento da receita. A população deu carta branca para ele, então
vamos avaliar. Não acredito que dará certo, mas torço para que dê certo. Espero
estar enganado.
Integrantes do futuro governo dizem que a atual gestão
não buscou recursos no governo federal como poderia. Isso aconteceu?
Tomara que ele ache todos esses recursos. A gente sabe que a
União não está propriamente derramando dinheiro. Ainda assim, creio que o DF
tenha sido uma das unidades da Federação que mais captaram recursos de financiamento
do governo federal nos últimos anos. Tivemos, no primeiro mês de governo, R$
500 milhões do Banco do Brasil. Depois, tivemos mais R$ 600 milhões do mesmo
banco para recursos de investimentos.
Quanto o governo investiu nesse período?
Estamos fechando os quatro anos com R$ 3,6 bilhões de
investimentos, que permitiram resolver a questão hídrica do DF por pelo menos
20 anos. Será a primeira vez na história que a barragem do Descoberto estará
com 100% de sua capacidade no mês de dezembro. Isso não é só chuva, são obras
inauguradas. A infraestrutura de Vicente Pires, do Porto Rico, do Sol Nascente,
de Buritizinho, foi feita com esses recursos. Fizemos o Trevo de Triagem Norte,
que é a maior obra viária da história de Brasília, e o novo Hospital da Criança,
que custou R$ 106 milhões. Garantimos o fim do lixão, com a construção do novo
aterro sanitário e de vários centros de triagem.
Quais são seus planos? Desistiu da política? Ou em
2022 estará em campanha novamente?
Acho que 2022 está muito longe. Estou pensando em 2019 ainda
(risos). Eu volto para o Senado como servidor, devo trabalhar na liderança do
PSB e vou ajudar o partido nos planos nacional e local. Teremos agendas
importantes e o fato de eu ter sido distrital, federal, senador, governador me
deu experiência que me permite contribuir muito com o partido.
O PSB fará oposição?
Uma oposição diferenciada, qualificada, uma oposição que quer
o bem do país. Eu defendo, por exemplo, que a gente faça uma Reforma da
Previdência que entre em vigor daqui a 10 anos. Isso vai permitir uma reforma
de verdade, e não um arremedo, com a possibilidade de evitar as pressões
corporativas. O Brasil precisa enfrentar a reforma do Estado. Brasília é um
exemplo disso. O Estado se transformou em um instrumento de aprofundamento das
desigualdades sociais, quando deveria ser exatamente o contrário. Não tem
cabimento ter 81% do orçamento consumido por folha de pagamento de servidores e
benefícios. Servidores têm que ser bem pagos, bem remunerados, mas temos que
ter recursos para um custeio adequado e para investimentos, especialmente nas
áreas mais pobres.
Como enfrentar o lobby do corporativismo do
funcionalismo?
É necessário e indispensável enfrentar esse corporativismo,
porque o governo não pode trabalhar apenas para uma pequena parcela da
população. É claro que isso tem um custo. Mas, se outros governos tiverem essa
capacidade de enfrentar, vai ser melhor para todos. Senão, o futuro é
insustentável para o próprio servidor.
E o Instituto Hospital de Base? Acredita que será mesmo
extinto?
Felizmente, o governador eleito já mudou de ideia. Esse é um
novo modelo de gestão, 100% público e gratuito. Não tenho dúvidas de que o
modelo do Hospital de Base será exemplo para o Brasil. De todos os nossos
secretários que estão indo para vários governos, o que demonstra a qualidade do
nosso secretariado, fiquei sentido com a ida do Ismael Alexandrino, diretor do
Hospital de Base, para ser secretário da Saúde em Goiás. Eu tinha muita
esperança de que o novo governador o mantivesse no cargo, porque ele está
fazendo um excelente trabalho e os resultados são fantásticos.
Os governadores de Brasília são reféns das
corporações?
Eu não fui refém das corporações. Eu as enfrentei. E é claro
que isso trouxe um ônus político, mas não me arrependo em nenhum momento.
Respeito os sindicatos, mas o papel que alguns deles desempenharam, como os da
Polícia Civil e alguns da saúde, de boicote ao governo, foram boicotes à
população. Isso depõe contra a própria instituição que eles dizem representar.
E eles fizeram isso em um momento em que estamos sendo reconhecidos no Brasil
inteiro pelos indicadores da segurança pública. Estamos fechando o governo com
a maior redução de homicídios do Brasil, de 42%. É a menor taxa de homicídio
dos últimos 32 anos. Se compararmos estes quatro anos com os anteriores, vamos
fechar com quase 800 homicídios a menos. Vamos ter ainda 416 menos mortes no
trânsito. A nossa política de segurança pública é um sucesso total, o que é
reconhecido até pelo próximo secretário de Segurança Pública.
A que o senhor atribui então a sensação
de insegurança da população, que ainda persiste?
Em grande parte pela ação política do Sinpol, que trabalhou
esse tempo todo tentando desconstruir ou desacreditar os números do governo, o
que elevou a sensação de insegurança. Mas isso depõe contra a própria
instituição a que pertencem, que é de muito valor.
E os sindicatos da saúde sabotaram de alguma forma
o atendimento, nessa sua avaliação?
Setores ligados ao sindicato sabotaram o nosso governo, sim.
E a grande prejudicada é a população. Na saúde, nós tivemos nossos maiores
problemas e a gente reconhece que, ao longo do governo, o atendimento ficou
muito aquém do que a população merece. Mas isso não veio do nosso governo. É um
problema que vem se agravando há anos, fruto de problemas como a corrupção. A
gente assumiu com R$ 600 milhões de dívidas na saúde.
O ex-secretário de Saúde Rafael Barbosa foi preso por
conta de um suposto esquema na saúde, semelhante ao do governo
Cabral, no Rio. Na sua avaliação, muitos dos problemas na saúde
se devem à corrupção?
Não tenho dúvida. A verdade é que fechamos a torneira da
corrupção no DF. E isso é reconhecido, é só perguntar a empresários de qualquer
setor, a fornecedores e empresas que fazem obras públicas no DF. E a saúde era
um grande foco. É claro que, em um ambiente com R$ 600 milhões em serviços
prestados sem contrato, isso se torna muito mais fácil.
Como foi a relação com a bancada do DF no Congresso?
Os nossos senadores, os três, tinham uma capacidade de
articulação muito pequena. O Cristovam é um senador ali à parte, que defende
suas teses, mas que tem pouca capacidade de articulação no Senado. Reguffe
também. Muitas vezes, quando eu precisava de alguma coisa, tinha que ir aos
demais senadores. Como foi no caso da lei que permite que o DF conceda os
mesmos incentivos fiscais de Goiás e dos outros Estados da Região Centro-Oeste.
Essa lei foi um marco no DF porque era uma luta de 20 anos do setor produtivo.
Eu precisei ir pessoalmente ao Senado conversar com 50 senadores. E ,depois,
fazer a gestão junto ao presidente Temer para que não fosse vetado. Senti falta
de ter uma bancada mais atuante, especialmente no Senado, em defesa dos
interesses de Brasília.
Havia uma expectativa na campanha de que o
senador Reguffe pudesse apoiá-lo na campanha, o que não ocorreu.
Ficou decepcionado?
Acho que essa é uma postura que será cobrada do senador
Reguffe no futuro. Não por mim, mas pela população de Brasília. E não de me
apoiar, mas de se ausentar do processo eleitoral e das questões mais
importantes da cidade.
A que atribui a derrota do Cristovam?
À percepção da população sobre qual foi a contribuição
efetiva que Cristovam deu a Brasília nesses últimos oito anos de mandato. Gosto
do Cristovam, sou grato a ele, porque tive a oportunidade de ser secretário de
Turismo do governo dele no começo da minha carreira. Mas, francamente falando,
se algum dos leitores do Correio tivesse que apontar qual a colaboração efetiva
que o Cristovam deu a Brasília nos últimos 8 anos, qual foi? Acho que muita
gente terá dificuldade de responder.
E com relação ao deputado Chico
Leite, que saiu da campanha magoado com o senhor. Houve uma gestão sua contra
ele?
Na política, a gente tem que saber ganhar e perder. O que
posso dizer é que eu dei todo apoio possível à candidatura do Chico Leite. Se
pegar meu material de campanha, minhas gravações, discursos, reuniões, em todas
elas, eu encerrava pedindo voto para o Chico Leite e para a Leila. Portanto,
fiz a minha parte. Sinceramente, acho até que, se ele tivesse feito uma
campanha mais colada à nossa, talvez tivesse tido um desempenho melhor.
Quais foram os momentos mais difíceis nesses quatro
anos? Teve a crise financeira do DF, nacional, impeachment da
presidente Dilma, manifestações, desabamento de viaduto, crise
hídrica…
Eu, nas minhas orações, perguntava: por que tudo isso justo
agora, que sou governador (risos). Esses momentos foram muito difíceis, como
quando o secretário de Fazenda disse que teríamos que parcelar salários, no
início do governo. Mas só parcelamos uma vez. As manifestações na Esplanada
também me deixaram extremamente tenso. Muitas vezes, fiquei na sala de controle
acompanhando até o último manifestante deixar o local, para evitar excessos da
polícia. E vejo que tomei uma posição correta de não me posicionar sobre o
impeachment, para não acirrar os ânimos naquele momento. Eram manifestações de
200 mil pessoas na Esplanada.
E o muro que separava os manifestantes?
O muro surgiu em uma reunião que eu convoquei às pressas um
dia na minha casa, às 6h da manhã, com os comandantes da PM e dos Bombeiros,
com o diretor da Polícia Civil, e eu dei a ideia de fazer uma divisão na
Esplanada com alambrados, colocando a cavalaria. Acho que foi a grande
salvação. Passamos pelo momento mais turbulento da história recente sem
incidentes graves. Mas aquilo ali ocasionou muitos dos cabelos brancos que hoje
eu tenho (risos).
Com qual sensação deixa o governo?
Tenho uma sensação de dever cumprido, que é um sentimento
muito bom. Saio de cabeça erguida e de consciência tranquila. E com um certo
alívio, com certeza.
Vai sentir falta de alguma coisa?
Acho que não. Mantive a minha vida com muita simplicidade,
moro no mesmo lugar em que morava antes. Não vou ter mais segurança, que é algo
que me incomodava em determinados momentos.
Agora que a eleição passou e o senhor não foi
reeleito, pode declarar em quem votou para presidente da República,
Bolsonaro ou Haddad?
Posso dizer que não votei nulo ou em branco.
Qual vai ser a posição do PSB no DF?
A nossa postura na transição foi de colaboração total. Eu
reuni os administradores e os secretários e passei essa orientação. Depois de
1º de janeiro, vamos dar um tempo para observar o governo. É claro que vamos
cobrar os compromissos assumidos. A população colocou o PSB na oposição, mas
não pode ser oposição a Brasília. Vamos apoiar tudo que é bom para a cidade.
Qual a expectativa para governo de Jair Bolsonaro,
que tem um viés mais conservador?
O grande desafio do presidente Bolsonaro será a relação com o
Congresso Nacional. A gente percebe que ele escolheu quadros qualificados para
muitos dos ministérios. Mas o governo precisa do Congresso. Nada vai caminhar
com desenvoltura sem uma boa relação com o Congresso.
Encararia uma nova eleição para o Palácio do Buriti?
Não descartaria, mas é cedo para dizer.
O senhor falou muito ao longo da campanha que
temia o retorno da velha política. Acha que isso pode acontecer
agora?
Eu prefiro aguardar antes de fazer uma avaliação sobre isso.
A gente percebe que o governador eleito venceu a disputa com um discurso de que
seria uma mudança. Ele tem trazido para o governo quadros antigos e também
muita gente de fora, que talvez encontre alguma dificuldade por não conhecer o
DF com profundidade. São até pessoas experientes, não posso fazer julgamento,
mas não são pessoas daqui.
Brasília não gosta de reeleger governadores? Só
Joaquim Roriz conseguiu se reeleger aqui...
Eu vou contar uma história… Eu quase não fui candidato.
Cheguei a reunir minha família e avisei que não disputaria eleição.
Comuniquei à direção do partido. Depois de uma semana, o Renato Casagrande me
chamou para conversar e disse que eu tinha que ser candidato. Ele disse que eu
tinha um legado importante, que eu tinha que defender. Pouco depois, Márcia
acordou de madrugada um dia e pediu que eu fosse candidato, porque eu fiz um
bom trabalho e não preparei a sucessão. Eu refleti e tomei a decisão de ser
candidato. A partir desse momento, eu sempre tive muita convicção de que eu
iria para o segundo turno e de que seria muito difícil a minha eleição. Porque
tudo que fiz e que precisava ser feito trouxe um ônus político muito grande.
Muitos governos, ao longo desses anos, sucumbiram ao populismo e à demagogia. E
eu resolvi que não ia fazer isso. Brasília foi muito generosa comigo, tenho uma
gratidão profunda. Em nenhum momento, agi pensando em eleição. E hoje, até o
governador eleito Ibaneis reconhece que fizemos um bom governo.
A bandeira de combate à corrupção não foi
suficiente para elegê-lo. Por quê?
Acho que há um reconhecimento muito claro da população,
especialmente da parcela mais esclarecida, de que nosso governo foi sério, e
que teve muitas dificuldades. Eu vou a eventos em locais como o Tribunal de
Contas e ouço comentários sobre as dificuldades que enfrentamos. Recebi a
visita de promotores, que vieram aqui parabenizar o governo pela seriedade com
que agimos nesse período.
(*) Ana
Dubeux – Ana Maria Campos – Helena Mader – Foto: Minervinoi Junior/CB/D.A.Press - Marcelo
Ferreira/CB/D.A Press – Correio Braziliense