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À QUEIMA-ROUPA: Carlos Valenza - Presidente do Sindicato dos Procuradores do DF


Carlos Valenza - Presidente do Sindicato dos Procuradores do DF

“O contribuinte deve entender que o pagamento do tributo é importante. Não dá para uns pagarem e outros não”

Ibaneis Rocha quer negociar dívidas com grandes devedores para arrecadar recursos. A Procuradoria do DF está preparada, em termos de estrutura, para atuar nesse projeto?
Queremos ajudar, mas precisamos ser ajudados. Precisamos de estrutura. A Procuradoria, dentro do projeto do governador Ibaneis, terá um papel de protagonismo muito grande. O projeto de repactuação das dívidas, que hoje chegam a R$ 31 bilhões, é importante. Essa dívida aumentou quase 100% nos últimos cinco ou seis anos. Esses R$ 16 bilhões são de uma dívida nova e que, portanto, tem uma probabilidade grande de ser recebida.

Por que a dívida aumentou tanto nos últimos cinco anos?
São vários fatores. Primeiro, é a crise que fez aumentar muito a inadimplência. Quando chega a hora de escolher entre pagar o imposto ou comprar o prato de comida, o cidadão vai pagar o prato de comida e deixar o imposto para depois. Temos várias pessoas que compraram o veículo e parcelaram e perderam o emprego. Os tributos vão ficando sem serem pagos.

Quantas ações tramitam hoje?
Há hoje na Vara de Execuções Fiscais algo em torno de 400 mil execuções fiscais e que totalizam esses R$ 31 bilhões. Dentro desse estoque de dívidas, há de tudo. Tem ICMS, IPTU, IPVA e outros. Hoje só temos uma vara de execuções. Um dado histórico: a demora é em média de um ano e meio apenas para intimar um devedor. 

O que pode ser feito para agilizar?
Historicamente têm sido feito algumas coisas. Primeiro, são esses pacotes de refinanciamento de dívidas, do tipo Refis, Recupera/DF. O devedor é chamado a pagar com descontos de juros e multa. O problema é que o contribuinte acaba se acostumando a pagar apenas depois. Você beneficia o mau pagador e prejudica o bom pagador. Esse tipo de deseducação acaba causando impacto no crescimento da inadimplência. A nossa dívida ativa quase dobrou. Isso contribuiu muito.

E qual a diferença agora?
A proposta do Ibaneis é um pouco diferente. É um projeto pelo qual vários estados vêm adotando e que abre a possibilidade de fazer um acordo. Não é um projeto de recuperação fiscal. Ele é um projeto assim: se o contribuinte está em dificuldades, vamos sentar e negociar com ele. Essa lei terá de ser regulamentada para haver critérios objetivos que permitam ao procurador executar o acordo.

Desses R$ 31 bilhões em dívidas, qual a probabilidade de fato de serem recuperados?
Esse estoque da dívida é absolutamente diversificado. Tem dívidas que já não se tem condições de receber, porque o devedor morreu, não tem mais patrimônio ou o veículo foi sinistrado e não há mais como recuperá-lo. A probabilidade de receber uma dívida de mais de 10 anos é muito pequena. Mas tem um percentual alto de receber, por exemplo, esses R$ 16 bilhões de dívidas mais recentes. 

Se o DF conseguir 10% desse valor, o governo já resolve muitos problemas...
Exatamente. É R$ 1,6 bilhão. Já equaciona a crise de 2019. 

O que Ibaneis pode fazer que Rollemberg não fez?
A Procuradoria tinha projetos de negociação dessas dívidas. E não era com desconto. Simplesmente se chamava o devedor para avisar que ele deve. A lei já faculta um parcelamento para todo devedor de 60 vezes. Esse é um dado estatístico interessantíssimo: de cada 100 pessoas convocadas, 88 faziam parcelamento. É muito alto. Para que esse projeto continuasse, precisava de servidores e o governo Rollemberg desarticulou a iniciativa por falta de pessoal. Esse projeto, que ganhou prêmios no CNJ, foi diminuindo com o tempo. 

As principais dívidas são relacionadas a que impostos?
Temos uma pirâmide invertida. O número de devedores de ICMS é o menor. Mas o valor da dívida é o maior. São os grandes empresários. O ISS é o segundo maior. Quando se fala de IPVA e IPTU, já tem muitos devedores e algumas dívidas em valor insignificante. O que a gente luta é por cidadania fiscal. O contribuinte deve entender que o pagamento do tributo é importante. Não dá para uns pagarem e outros não. E quem não paga são os grandes  devedores. 

Ana Maria Campos – Coluna “Eixo Capital” -Foto: Daniel Alves/CB/D.A.Press – Correio Braziliense 


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