Ibaneis planeja VLT para ligar Plano Piloto ao
Aeroporto e Taguatinga - No
planejamento do governador, há previsão de compra de 30 veículos para
transportar passageiros pelos 22km entre as duas cidades
Quem mora em Taguatinga e trabalha no Plano Piloto
sofre diariamente com a falta de políticas públicas eficientes de mobilidade
urbana. Com trânsito quase sempre engarrafado nos horários de pico, não há
alternativas para motoristas e passageiros do transporte público. O transtorno,
no entanto, pode ser minimizado caso o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), tire da prancheta um ambicioso
projeto: construir um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) ligando a Avenida Hélio
Prates ao Eixo Monumental.
As informações estão contidas no Relatório do Governo de Transição 2019-2022, produzido pela
equipe de Ibaneis nos dois meses que sucederam as eleições. O documento, ao
qual o Metrópoles teve acesso, foi elaborado por 58 grupos de
trabalho temáticos e baliza as ações da nova gestão, com metas para 100
dias, dois anos e quatro anos.
No planejamento da equipe emedebista, há previsão de compra de 30 carros
para transportar os usuários do sistema pelos 22 quilômetros que separam as
duas regiões administrativas. O prazo para a execução das obras é de dois
a quatro anos.
Moradores
do Recanto das Emas também devem ficar atentos aos planos de Ibaneis para a
mobilidade. O mesmo relatório sugere a construção de um VLT entre o Recanto das
Emas e Taguatinga.
Neste
caso, para vencer os cerca de 15 quilômetros, o Governo do Distrito Federal
(GDF) prevê a compra de 22 carros do VLT. O empreendimento ficaria pronto, no
máximo, até 2023, segundo as projeções.
Outra proposta do grupo do primeiro escalão do novo governo é
ressuscitar um antigo projeto: o VLT que liga o Aeroporto Juscelino
Kubitschek à W3 Sul e à W3 Norte.
Informações
sobre traçado e valor das obras dos três projetos do VLT serão conhecidas ao
longo da execução dos projetos, pois o relatório não prevê o custo das
intervenções nem de onde viriam os recursos.
Promessas antigas
O projeto
de Ibaneis para levar o VLT do Aeroporto JK à W3 Sul não é novo. Em 2012, a
obra chegou a ser anunciada como uma das principais intervenções para a Copa do
Mundo realizada em 2014, mas, após inúmeros questionamentos da Justiça e do
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), acabou retirada
da Matriz de Responsabilidades do Mundial.
Somente o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) pediu cinco vezes a anulação do contrato. O órgão
entendeu existirem indícios de que um estudo de impacto
ambiental não havia sido realizado, pois as obras previam a derrubada de
árvores na W3.
Um ano
antes, o então governador, Agnelo Queiroz (PT), chegou a anunciar que haveria
nova licitação, mas o certame não avançou. O VLT foi orçado em R$ 1,5 bilhão,
com percurso que ligaria o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek ao
final da Asa Norte, em um trajeto de 22,6 quilômetros, além de 25
estações.
A ressalva
dos especialistas
Na
opinião do presidente da Associação dos Usuários
de Transporte Público do Distrito Federal (Autrac-DF), Vidal Guerra,
dotar a cidade de VLTs não resolve todos os transtornos de quem não
tem automóvel, mas minimiza bastante os problemas. “Só peço ao novo governador
que não dê falsas esperanças ao povo. VLT é um excelente meio de transporte,
mas precisa realmente sair do papel”, ponderou.
Para o
especialista em transporte pela Universidade de Brasília (UnB) Flávio Dias, o
governo Ibaneis está no caminho certo para melhorar a mobilidade da cidade por
meio de VLTs. Contudo, ele ressalta que as intervenções devem vir
acompanhadas de ações de desenvolvimento nas localidades por onde passará o
transporte sobre trilhos.
“O VLT não pode ser pensado simplesmente como meio
de transporte. Com ele, o governo deve criar polos de desenvolvimento a fim de
revitalizar essas regiões por onde ele passará. Partindo desse raciocínio, o
VLT é uma excelente ferramenta para a cidade”, destacou o docente.
Trilhos
de Brasília a Valparaíso (GO)
No que
depender de Ibaneis Rocha, sua gestão na área da mobilidade será marcada por
investimento maciço em transporte sobre trilhos. No último dia de 2018, o Metrópoles revelou que está tudo pronto para os
primeiros testes do VLT ligando Brasília e Valparaíso de Goiás,
no Entorno do DF.
No fim de
janeiro deste ano, dois vagões iniciarão as viagens experimentais, sem
passageiros. A fase de testes vai durar dois meses, período em que serão
avaliadas estabilidade, velocidade e segurança do meio de transporte. A ideia
original era que a linha fosse até Luziânia (GO), mas a atual malha ferroviária
não chega até lá. Não há previsão para estendê-la até o outro município goiano.
Na ocasião, Ibaneis demonstrou empolgação com o
futuro novo meio de transporte. “Estou depositando muitas fichas nesse projeto
do Ministério das Cidades, porque são necessários apenas pequenos reparos nos
trilhos e nas ferrovias, além de construir algumas estações de apoio.
Dando certo como esperamos, será uma alternativa barata, rápida e eficaz para
quem mora no Entorno e trabalha no DF”, disse.
Conexão
a Luziânia e metrô na Asa Norte
Para a
ampliação até Luziânia, o governo local terá parceria com o governo federal e o
governo de Goiás. A obra consiste na reestruturação de um trecho concedido à
Ferrovia Centro Atlântica (FCA), interligando a Rodoferroviária de Brasília e a
Rodovia GO-010, na cidade goiana.
A linha
tem potencial de encurtar o tempo gasto pelos moradores de Luziânia no
trajeto até o centro da capital federal, que, no horário de pico, pode chegar a
duas horas.
O corredor será uma das obras incluídas no Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC), que também vai financiar a modernização e a
ampliação do metrô do Distrito Federal – incluindo a compra de novos trens
e a extensão até a Asa Norte.
De acordo
com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o valor da linha
ferroviária Brasília–Luziânia ainda não pode ser calculado ou sequer garantido.
A ampliação ainda está em fase de discussão.
“As
tecnologias ferroviárias deverão ser apresentadas com suas especificações,
vantagens e desvantagens, limitações, custos e prazos relativos ao
fornecimento, instalação e manutenção, entre outros aspectos considerados
relevantes”, observa a agência.
Reaproveitamento
de linhas
O VLT foi
escolhido para reaproveitar linhas férreas já existentes. O modal é mais
silencioso do que o metrô, por exemplo, e muito menos poluente, considerado um
meio de transporte ideal na ligação entre centros urbanos e regiões com
potencialidade rural. A velocidade pode chegar a 76km/h, e o combustível usado
é o diesel.
O governo
ainda analisa o valor da passagem, mas pretende utilizar a nova linha para
desafogar as vias do DF que fazem ligação com a região mais densa do Entorno.
Até Valparaíso, de carro, o trajeto de 37km pode levar 45 minutos. De trem, o
percurso deve ser feito em até 30 minutos, e os dois vagões farão duas
viagens diárias.
Relatório
O
Relatório do Governo de Transição 2019-2022, que norteará a nova administração
do GDF, tem 170 páginas, nas quais estão compilados dados do plano do novo
governo – como compromissos feitos durante a campanha – e do documento
elaborado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico
do Distrito Federal (Codese), intitulado O DF que a Gente Quer
2018-2030. Além disso, foram ouvidas entidades e representantes de comunidades.
Esse
conjunto inicial de proposições será usado para orientar o início da nova
gestão. É um resumo sistematizado, com desenho organizacional das pastas,
cargos, funções e atribuições que compõem a administração do novo governo.
Nele, existem diagnósticos, metas e propostas de solução de problemas.
Saulo Araújo - Editora de Arte Metrópoles