Ajustes possíveis
*Por Circe Cunha
Sinais de fumaça no atual governo
indicam o aparecimento dos primeiros problemas, que são visíveis e vão aos
poucos escapando do controle do Palácio do Planalto e ganhando contornos de uma
pré-crise. Curioso notar que passados 83 anos da publicação da obra Raízes do
Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, ainda hoje é possível identificar traços
da presença do mítico “homem cordial”, no governo que se inicia.
Apresentado nesse clássico de nossa
sociologia como o indivíduo originário do nosso sistema patriarcal, incapaz de
distinguir as fronteiras do público e do privado e que coloca seus
consanguíneos e amigos sempre em primeiro plano, os homens cordiais, avessos
aos ritualismos, ainda sobrevivem entre nós e são facilmente encontrados em
nosso sistema político.
Mesmo no caso da renovação das duas
Casas do Congresso é possível identificar, nos sobrenomes, muitos eleitos,
filhos, irmãos, netos, sobrinhos e outros parentes de sangue de antigos
caciques da política nacional.
Sérgio Buarque de Holanda considerava
que a figura do controvertido homem cordial desapareceria aos poucos com a
intensificação do processo de urbanização e com o aprimoramento da democracia e
dos ideais republicanos. Nesse quesito, o intelectual e pensador dos problemas
e do homem brasileiro, se equivocou. Pelo que temos observado ao longo do
tempo, a mistura de parentes com a administração política da coisa pública,
quase sempre não tem resultado em algo positivo. Em alguns casos tem sido não
só a ruína de muitos governantes, como tem levado ao descrédito a própria
classe política.
Exemplo dessa relação perigosa e
contaminante entre parentes e gestão pública tem sido observada com relação a
atuação dos filhos de Jair Bolsonaro. Seguidamente, os três filhos do atual
presidente têm sido apontados como fontes de crises para o governo. A
desenvoltura com que esses “meninos” tem imiscuído nas ações de governo, todas
de forma, absolutamente desastradas, formam hoje, sem dúvida, a principal fonte
de desgaste do governo.
Dentro e fora do governo existe hoje
uma unanimidade de opinião em torno das intromissões indevidas desses
indivíduos nos assuntos de Estado. Para alguns analistas inclusive, esse é um
sério fator de desgaste tanto para o presidente como para a sua autonomia na
administração.
Ações negativas desse tipo, partindo de
dentro da casa do próprio presidente é tudo o que as oposições, ainda
desarticuladas, desejam para formar um bloco de peso contra Bolsonaro.
O pior, numa situação como essa é que o
homem cordial, muito pouco pode fazer, sob pena de criar ressentimentos no seio
da família. Isso, evidentemente, nem tem passado pela cabeça do presidente. A
continuar, como se diz, “tomando bolas nas costas” o atual governo, pelo menos
com relação ao próprio Bolsonaro, corre o risco de ele próprio ficar numa
posição subalterna em relação ao seu vice-presidente, que vem mostrando bom
desempenho, livre da ação predatória de consanguíneos.
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A frase que foi pronunciada
“A inimizade pode ser tão cordial
quanto a amizade.”
(Sérgio Buarque de Holanda, historiador
brasileiro)
Memória
Como se não bastassem os milhões de metros quadrados de cerrado
arrancados para satisfazer a gana imobiliária, chega de mansinho um projeto
pela orla livre. Há regras a serem cumpridas. Bons tempos aqueles em que a
comunidade candanga preservou o Parque Olhos D’Água. Isso sim é amor pela
cidade.
Oásis
Nossos agradecimentos a Chiquinho Dornas, criador da página Brasília das
Antigas que Amamos Muito”. Muita gente com fotos lindas e depoimentos
emocionantes de quem viu e participou do crescimento da capital do país. Ler
sempre essa página no Facebook é uma verdadeira terapia.
Campus Party - (Vídeo)
No principal evento tecnológico do país que acontece em São Paulo, uma
ideia que agradou a todos. São dois preços para a entrada: R$ 350 ou qualquer
lixo eletrônico como equipamentos antigos, celulares sem conserto ou
computadores inúteis. A iniciativa fez com que o Ministério da Ciência
arrecadasse meia tonelada de lixo eletrônico em dois dias de evento.
(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog do Ari Cunha
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POLÍTICA