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Os Patetas na Terra do Nunca


Os Patetas na Terra do Nunca

*Por Circe Cunha 

Iniciativas que visem à geração de empregos no Distrito Federal são sempre bem-vindas. Ainda mais quando se sabe que a capital, a exemplo do ocorre na maioria das cidades do país, tem elevado índice de desemprego. Ocorre que programas desse tipo precisam vir acompanhados, necessariamente, de uma série de medidas, que assegurem o pleno cumprimento dos projetos, com começo, meio e fim. Há a necessidade de garantir que essas ações se prolonguem no tempo e não venham se constituir em ações do tipo populista que resolvam o problema de visibilidade do político, mas que não surti efeito eficaz para o trabalhador.

Nesses últimos anos, os brasilienses têm assistido a divulgação de projetos mirabolantes, que no plano das ideias, pareciam perfeitamente exequíveis, mas que na prática, se mostraram verdadeiros desastres.

O Estádio Mané Garrincha, um dos mais caros do mundo, com capacidade para receber 70 mil torcedores é, talvez, o exemplo mais vistoso. Fincado em pleno coração da cidade, bem ao lado do Palácio Buriti, o monstrengo de concreto, apesar da promessa de que representaria um marco para a cidade, capaz de inseri-la, definitivamente entre as capitais com tradição no futebol, é hoje um elefante branco, sem valia, e o que é pior, gera seguidos prejuízos para os contribuintes. As pretensas benesses que seriam trazidas por essa obra, obviamente, ficaram apenas nos bolsos dos seus idealizadores, investigados num processo que vem se arrastando há anos, sem solução.

O Buritinga é outro exemplo de obra que prometia, não só o enxugamento da máquina pública, mas a racionalidade da administração, concentrando num mesmo ambiente todas as secretarias de governo, mas que hoje jaz sem serventia, consumindo recursos da população para sua manutenção, apesar de ter custado uma fábula aos cofres públicos.

A feira próxima à antiga rodoferroviária é outro exemplo de obra que prometia gerar empregos e resolver o problema da invasão de ambulantes. Abandonado ou subutilizado, o espaço é hoje uma feira fantasma que, aos poucos, vai se transformando numa invasão e numa dor de cabeça.

O mesmo se sucedeu aos tão festejados Polo de Cinema e Polo da Moda, todos abandonados ou com mudança de finalidade. Também os postos de segurança comunitários, instalados por todo o Distrito Federal, que prometiam acabar com a violência, tiveram começo e fim decretados pelo próprio governo. Depois de consumir uma fortuna da população para sua construção, muitos desses postos foram queimados por bandidos ou simplesmente abandonados. Graças à iniciativa da professora de canto erudito Denise Tavares, dezenas desses postos transformaram-se em salas na Escola de Música de Brasília.

É preciso, portanto, aprender com essas medidas, para não repetir os erros que custam tão caro ao contribuinte e que jamais são devidamente reembolsados. Faria melhor o governo local se cuidasse da continuidade das muitas obras inconclusas, que se encontram hoje espalhadas por toda a cidade, como é o caso do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), além da manutenção das que existem e são sexagenárias.

O anúncio de que a atual administração do GDF estuda a implantação de uma filial da Disney em Brasília deve ser visto por esse ângulo, ou mais precisamente pela lente da realidade prática e das inúmeras experiências malsucedidas de nosso passado recente. Antes de investir o dinheiro suado do cidadão em obras de infraestrutura e outras benesses, além de renúncias fiscais para trazer esse mundo de fantasia, com sua Terra do Nunca para a capital, é preciso atentar para um detalhe: por anos, os brasilienses têm sido tratados como verdadeiros Patetas por muitos políticos espertalhões. Só que agora, os tempos são outros.

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A frase que foi pronunciada
“Para realizar um sonho é preciso esquecê-lo, distrair dele a atenção. Por isso, realizar é não realizar.”
(Poeta Fernando Pessoa, em Livro do Desassossego) 

(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog – Google


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