Corrupção e atraso
*Por Circe Cunha
“Acreditar que a corrupção não é um crime grave e violento e que os
corruptos não são perigosos nos trouxe até aqui, a esse quadro sombrio em que
recessão, corrupção e criminalidade elevadíssimas nos atrasam na história e nos
retém como um país de renda média que não consegue furar o cerco.” A fala do
ministro do Supremo Tribunal Federal, Luis Roberto Barroso, feita durante a
votação do indulto concedido pelo então presidente Temer, em novembro de 2018,
e que alcançava também os criminosos do colarinho branco, sintetiza bem o
sombrio momento que vai sendo experimentado pelos brasileiros nessas duas
últimas décadas.
Na opinião desse magistrado, que tem se revelado uma grata surpresa em
meio a tantas decepções, infelizmente ainda avistadas no mundo jurídico, mostra
que o que problema maior a ser enfrentado pelos brasileiros para livrar o país
do atraso não reside propriamente na base da pirâmide social, mas encontra-se
encastelada justamente no topo, de onde controla e resiste como pode para manter
o status quo eterno. Essa é, sem dúvida, a grande Bastilha a ser posta a baixo
pela sociedade, caso almeje atingir um nível de desenvolvimento compatível com
os demais países do chamado primeiro mundo.
Para o ministro, foi graças a essa prolongada leniência em combater
esses delitos e desmandos nos estamentos superiores que criamos um país que
adjetivou como feio e desonesto. Em entrevista dada há alguns anos a uma
emissora de televisão, Barroso já havia diagnosticado o Brasil como um caso de
país excessivamente hierarquizado e dividido em classes, o que, na sua análise,
provocava reflexos também na própria Justiça.
Naquela ocasião, chegou a afirmar que a justiça penal brasileira era
dura com os pobres e mansa com os ricos e que essa distorção não vinha sendo
corrigida na velocidade em que a sociedade, desde sempre, reclamou e desejou.
Entende o ministro que o que a população anseia é a prestação de serviços
públicos de qualidade, mais ética na política e uma melhor perspectiva de
futuro. Para ele, o Estado e as instituições não conseguiram ainda atender
essas demandas que se criaram, daí a razão para a persistente crise que vem há
anos contaminando a vida pública de cima a baixo.
Em sua opinião, a corrupção em nosso país não é fruto de pequenas falhas
e fraquezas individuais, mas é produto de esquemas profissionais, de
arrecadação e distribuição de dinheiro desviados e que levou ao envolvimento de
agentes públicos, agentes privados, empresários, empresas estatais, empresas
privadas, membros do Legislativo, membros do Congresso, membros dos partidos
políticos e outros importantes e destacados atores.
Diante de tantos descalabros, a sociedade, em suas palavras, “deixou de
aceitar o inaceitável”. “Quem anda por esse imenso país, diz, com olhos de ver
e ouvidos de escutar, verifica a imensa demanda por integridade, por idealismo,
por patriotismo, vindo de baixo para cima.” Luís Barroso acredita que essa é a
verdadeira energia que empurra a nossa história na direção certa, para longe de
uma espécie de atraso que é, desde há muito, bem defendida pelas elites.
Nesse sentido, anistiar e conceder indultos a corruptos e corruptores é,
no julgamento desse juiz, colaborar para essa reação vinda do alto da pirâmide
e que pretende manter o país e os brasileiros acorrentados a um passado de
desmandos e de atrasos pretendidos por esse pacto oligárquico que encontra,
ainda, em parte da justiça, um aliado necessário e poderoso.
****
A frase que foi pronunciada: “Em que pese vivermos hoje em um cenário
de incertezas e dificuldades, o judiciário não tem medido esforços para mitigar
os problemas sofridos pela sociedade brasileira, ao desempenhar as tarefas que
lhe competem com altivez e senso de responsabilidade”. (Ministro Ricardo
Lewandowski, durante o discurso de abertura do ano judiciário em 2016.)
Jó: Nunca se viu tanto engarrafamento para acesso à ponte do
Bragueto. A impressão que se tem é que o TTN foi criado para dificultar a vida
dos motoristas. É preciso ter paciência até que toda a obra fique pronta.
Servindo à comunidade: Depois de tantas operações que prenderam
bárbaros que traficavam imagens de crianças, o Brasil precisa adotar o mapa de
pedófilos. Como o Waze, casais com filhos pequenos consultariam um mapa
disponibilizado pelas polícias para saber se alguém da redondeza, tanto do
local de trabalho quanto residência, já foi acusado de pedofilia.
E nada: Uirá Lourenço nos brinda com 10 anos de trabalho. O
material produzido foi sobre a EPTG acompanhando de perto as obras da “Linha
Verde”. Fazia o trajeto de bicicleta, diariamente, entre Águas Claras e o Plano
Piloto. Dez anos depois? Caos e imobilidade. (Vídeo)
(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Fotos: Nelson Jr./STF/Divulgação - Charge do Sponholz (sponholz.arq.br) - DER-DF/Reprodução - Charge do Ricardo Jottas – Correio Braziliense
(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Fotos: Nelson Jr./STF/Divulgação - Charge do Sponholz (sponholz.arq.br) - DER-DF/Reprodução - Charge do Ricardo Jottas – Correio Braziliense
Tags
JUSTIÇA