Amor pelas palavras e olhar atento e crítico à
diversidade de pensamentos. Características marcantes que fizeram o jornalista
Olimpio de Melo Pires ser considerado um sujeito ímpar aos que conviveram e
trabalharam com ele. Conseguiu trazer as habilidades para o âmbito
profissional, atuando como editor e revisor final de Opinião no Correio
Braziliense. Mesmo aposentado pelo jornal, continuou se dedicando à missão de
valorizar as escritas propositivas. A caminhada do paulista, nascido na cidade
de São José do Rio Preto, se encerrou aos 85 anos. Internado após passar por
uma cirurgia no coração, não resistiu às complicações e faleceu na noite de
quinta-feira.
Os colegas de trabalho — que fez durante a longa
passagem pelo Diários Associados, iniciada em 1975 — consideravam Olimpio de
Melo um jornalista extremamente competente. “Tudo de Opinião passava pelas mãos
dele antes de ser publicado. Tinha um zelo imenso pelo trabalho e não deixava
nada passar. Ao mesmo tempo em que era rigoroso, sempre se mostrou flexível e
aberto com aqueles que sabiam argumentar”, lembra a atual editora de Opinião do
jornal, Dad Squarisi, que trabalhou com Olimpio por cinco anos. Ele também
exerceu a profissão em rádios de São Paulo, foi assessor de imprensa no Governo
do Distrito Federal e secretário de comunicação na Universidade de Brasília
(UnB).
Mesmo fora do jornal, Olimpio frequentemente
enviava contribuições e análises a respeito das publicações e acontecimentos.
Para a sobrinha e jornalista Laura Bettini, o importante era estar por dentro
dos fatos e expondo impressões. “Opinião ele tinha de sobra. Era muito
interessado no ontem, mas profundamente conectado no hoje, no fato, e por isso
lia de ponta a ponta todo o jornal do dia. Escrevia e enviava ainda críticas e
elogios aos redatores. Sua profissão lhe serviu de sacerdócio.”
O gênio forte e intelectual não camuflou o lado
companheiro, amoroso e fiel. Era querido pelos familiares, amigos, vizinhos e
cuidadoras. Com carinho, o filho Marco Antônio Bettini conta os momentos de
infância ao lado de Olimpio, após a mãe dele, Maria Aparecida Bettini, se casar
com o jornalista — à época já viúvo e pai de três filhos. “Livros e mais
livros, quanta leitura e cultura. O pôquer com amigos, jornalistas e políticos,
que varavam a madrugada e nevoavam a casa com a fumaça dos cigarros. As mais
diversas, divertidas e curiosas histórias das viagens pela Europa com minha
mãe, por quem nutria um lindo amor. Mesmo com suas manias e características de
um bom ariano, acolheu três crianças pequenas como filhos do coração e se
empenhou em cultivar um amor que se estendeu às netas e aos netos do coração.
Sou imensamente grato por tudo que compartilhamos nessa linda jornada”,
agradeceu Marco Antônio.
A neta Bruna Bettini também lembra: “Saudades de quando
a gente brincava e você me contava histórias. Te guardo no meu coração.” O
corpo de Olimpio foi velado e cremado em uma cerimônia íntima, em
Florianópolis, onde passou os últimos anos de vida ao lado de familiares. O
jornalista — que era viúvo das duas mulheres com quem se casou e pai de três
filhos que já faleceram — deixa outros três filhos de criação e seis
netos. (Bruna Lima)
Correio Braziliense – Foto: Carlos Moura/CB/D.A.Press .
Correio Braziliense – Foto: Carlos Moura/CB/D.A.Press .
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