Parlamentares querem entregar a Moro levantamento capaz de mostrar
possível crescimento do PCC no DF desde a transferência dos presos
*Por Ana Viriato - Alexandre de Paula
DF faz pressão contra a Penitenciária Federal - Deputados federais e
senadores da capital encontram-se com Sérgio Moro para tentar desativar a
prisão que abriga líderes do PCC. Ministro não recua, mas pode rever
posicionamento caso haja dúvida na segurança da região
Insatisfeitos com a transferência de líderes de organizações criminosas
para Brasília, os deputados federais e senadores do Distrito Federal montaram
uma força-tarefa e encontraram, ontem, o ministro da Justiça e Segurança
Pública, Sérgio Moro, para tentar demovê-lo da decisão de manter uma
Penitenciária Federal na capital. No encontro, Moro negou mudanças no
planejamento e classificou o alarde como exagerado. Entretanto, assegurou que
pode rever o posicionamento, caso surjam indícios de que grupos como o Primeiro
Comando da Capital (PCC) tentam se estruturar no DF. Agora, os parlamentares
requisitarão às forças de segurança brasilienses dados sobre a possível
aproximação de comparsas dos criminosos para confrontar com as informações que
estão nas mãos do governo federal.
Mesmo sem citar diretamente o governador Ibaneis Rocha (MDB), o ministro
Sérgio Moro fez críticas ao posicionamento do chefe do Executivo local. Para
ele, a postura foi alarmista e criou temor infundado na população. Moro também
demonstrou incômodo com declarações públicas do chefe do Palácio do Buriti. O
emedebista chegou a dizer que o ministro “não conhecia nada de segurança” e que
judicializaria a questão.
José Antônio Reguffe (sem partido), que havia discursado na tribuna do
Senado contra a transferência de presos federais para Brasília, afirmou que
“não há um paralelo com o cenário em todo o mundo”. “O que se faz, como
política pública, é isolar as organizações criminosas e separar seus líderes, e
não uni-los em uma penitenciária da capital da República”, argumentou. “Aqui,
além da população, há 186 representações diplomáticas e integrantes dos três
poderes”, complementou.
Para o senador Izalci Lucas (PSDB), a presença de líderes do PCC na
capital, como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, condenado a mais de
300 anos de prisão, incentiva a aproximação de integrantes da associação
criminosa e pode potencializar a criminalidade no DF. “A preocupação não é com
uma possível fuga dele. Temos confiança nas forças de segurança que cuidam do
local e na inteligência do governo. O grande problema é o que acontece fora da
cadeia. Chegam advogados, colegas, armas, drogas”, pontuou Izalci.
O tucano criticou a gestão do ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB),
período em que ocorreu a construção da Penitenciária. “Ele nunca conversou com
a bancada para checar o que senadores e deputados pensavam sobre a questão,
tampouco com outros poderes”, alfinetou. Izalci ainda criticou a posição do
atual chefe do Palácio do Buriti. “Ficou ruim, porque isso é algo que deve ser
resolvido politicamente, e não juridicamente”, assinalou Izalci.
Fiscalização
A deputada federal Flávia Arruda (PR) destaca que, apesar de considerar
a argumentação do ministro Sérgio Moro coerente, a preocupação permanece. “Ele
deixou claro que é uma decisão da qual não voltará atrás e, mesmo com toda a
explicação, não deixamos de ter receio por mantermos no DF um preso de tanta
relevância”, disse. Segundo a parlamentar, Moro alegou que houve o reforço de
segurança necessário nas instalações do presídio, mas que, em relação ao
cuidado com a cidade, a responsabilidade será do GDF. “Essa reunião foi uma boa
oportunidade da bancada toda se posicionar em relação à insatisfação de receber
um preso desses aqui”, comentou.
Para a deputada federal Bia Kicis (PSL), ficou claro que é de total
interesse do governo federal manter Brasília, por questões estratégicas, em
segurança. “De todo modo, não vamos esperar quietos algo acontecer.
Analisaremos os números e acompanharemos com atenção todo o movimento para,
caso exista algum indício, procurarmos novamente o ministro Moro e pedir as
devidas providências”, assegura. “Segundo Moro, não existe nenhuma evidência de
risco, mas, se houver qualquer mudança nesse sentido, eles adotarão medidas
para prevenir.”
Do partido de Jair Bolsonaro, Bia Kicis diz que não procurou o
presidente para tratar do assunto, mas tem confiança de que o estudo feito pela
equipe, que inclui a Polícia Federal, o Gabinete de Segurança Institucional
(GSI) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), tem o aval do chefe do
Palácio do Planalto. “Falei diretamente com o ministro, que era a pessoa mais
adequada para discutir esse tema. Mas tenho certeza de que o presidente estava
ciente da análise feita por eles, até porque o general Augusto Heleno, do GSI,
participou do estudo e é uma pessoa da extrema confiança dele”, frisou.
Rigor
Transferido para a Penitenciária Federal em Brasília há uma semana,
Marcola cumpre pena em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Em razão de não
poder sair para tomar banho de sol diário de duas horas, ele fica em uma cela
de 14 metros quadrados com uma pequena fresta por onde o sol entra. As demais
têm 6m². O contato com advogados ocorre via parlatório e não há visita íntima.
Memória - Regime diferenciado
Em 13 de fevereiro, três líderes do PCC chegaram a Brasília em uma
operação que retirou 22 integrantes da cúpula da organização criminosa de
Presidente Venceslau (SP) para presídios federais. Eles ficarão no Distrito
Federal pelo menos por um ano — os dois primeiros meses são em regime de
isolamento. Em 22 de março, vieram mais quatro cabeças da organização
criminosa. Entre eles está o comandante do PCC, Marcos Willians Herbas
Camacho, o Marcola. A Penitenciária Federal de Brasília foi inaugurada em
outubro de 2018. A unidade está apta a receber, ainda, presos condenados ou
provisórios sujeitos ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) e réus
colaboradores presos ou delatores premiados que correm risco de vida na
prisão.
O presídio: 12.300 m², Área construída
da Penitenciária Federal em Brasília. R$ 45 milhões: Custo
do investimento em construção e aparelhamento da
unidade. 208: Número de vagas individuais no
presídio. 12: Número de celas do Regime
Disciplinar Diferenciado (RDD)
(*) Ana Viriato - Alexandre de Paula - Fotos: Ed
Alves/CB/D.A.Press - Correio Braziliense