Para repetir uma antiga ideia
*Por Jane Godoy
Brasília na plenitude dos 60 anos
precisa “arrumar a casa” e, para isso, o tempo é tão curto quanto necessário
para que tenhamos uma aniversariante digna de sua idade e da importância que
tem: a capital do Brasil.
Brasília, terra de grandes belezas arquitetônicas,
imortalizadas nas pranchetas de Oscar Niemeyer. Desde “a menina de seus olhos”,
a Catedral Metropolitana, ao Congresso Nacional, Museu da República, Torre
Digital, Ponte JK e tantas outras atrações tão visitadas e fotografadas por
turistas do mundo inteiro, há um detalhe que destoa diante dessa imponência
toda, dessa beleza e plasticidade toda: a Ponte das Garças, aquela que une as
quadras 610/611 ao Centro Comercial Gilberto Salomão e ao Lago Sul de modo geral.
Os governadores passados, se tiverem boa memória,
vão saber direitinho o que é e sobre o que estamos falando.
Desde 2007, esta coluna vem observando e sugerindo
que prestem mais atenção à Ponte das Garças.
Com a proximidade do primeiro cinquentenário de
Brasília, em 2010, comentamos, em matéria aqui veiculada, que em vésperas de
aniversário a gente procura arrumar a casa, consertar o que está estragado,
pintar e restaurar o que está descascado e feio, caprichar no visual de tudo o
que diz respeito ao foco da comemoração.
No caso, naquela época, nos referíamos à abandonada
e desprezada ponte que, com a proximidade das comemorações do cinquentenário,
de Brasília, pensamos que tudo — inclusive ela — deveria estar bem preparado e
arrumado para a festa, como acontece em todo lugar.
Em outra matéria, fizemos até uma “chantagenzinha”
ao escrever cartas ao governador, como se fosse ela, reclamando da beleza e do
prestígio “das irmãs”, a Ponte Costa e Silva e a caçula, a lindíssima Ponte JK.
Em vão! Primeiro, não tivemos comemoração coisa
nenhuma (não como esperávamos) e sim escândalos e fatos que marcaram, de forma
nefasta e para sempre, a história de Brasília, deixando a população cabisbaixa
e envergonhada. Segundo porque, diante de transições e novo governo, que já
recebeu a cidade com a grande responsabilidade de receber a Copa do Mundo e
aprontar, o quanto antes, do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, a
coitada da ponte ficou em quinto plano, reduzida à sua insignificância e do ostracismo.
E, para a feiosa Ponte das Garças, que sofria
bullying e era chamada de “pinguela” pela população, tal a contrariedade de ver
aquela ponte se deteriorando e sem os cuidados que tanto merece, tudo continuou
como antes.
Mas não pensem que nos esquecemos daquela que nos
serve diariamente, que suporta toneladas e toneladas de veículos de passeio,
ônibus e caminhões, que encurta os caminhos, que nos leva mais rápido para
casa, que une também e de forma pioneira os dois lados da cidade, que nos serve
tanto.
Como naquele tempo, agora de governo novo, não
custa nada voltarmos à carga, numa força tarefa pró-Ponte das Garças. Não vamos
desistir de reivindicar melhorias para ela, mesmo sabendo que não podemos
demoli-la ou substituí-la por outra. Sabemos, isso sim, que muita coisa poderá
ser feita por ela, deixando-a mais decentemente “vestida”, mais moderna, com
iluminação mais moderna, mais segura. Ao lado “das irmãs” vai fazer bonito, não
vai destoar e vai compor de forma econômica e eficaz aquela paisagem tão
exuberante que a natureza em volta oferece aos brasilienses.
Para movimentar o mundo cultural da cidade, sr.
governador, que tal criar um concurso entre arquitetos, designers e engenheiros
de Brasília — e só de Brasília — e criar, com regulamento e normas a serem
cumpridos rigorosamente, um grande concurso para a restauração e embelezamento
da Ponte das Garças? Seria o chamamento à criatividade e à vontade de trabalhar
por uma Brasília mais preparada para atingir os seus gloriosos 60 anos, sem que
aquela ponte tão importante fique, mais uma vez, relegada a quinto plano.
Que tal criar o Projeto Ponte das Garças de Cara
Nova? Estabelecendo-se prazos para entrega dos projetos e maquetes, que serão
expostos, votados e escolhidos por júri técnico e popular?
Brasília seria a meca do design durante esse
período e o ganhador seria aclamado e premiado como bem merece. Aí serão três
pontes dignas dos maiores elogios, orgulho e satisfação dos brasilienses.
Ganha a cidade, ganham os profissionais de criação
de Brasília, ganha o governo e, claro, ganha a Ponte das Garças.
Linda, limpa, cheia de luz e com guardrails à
altura de uma capital como Brasília. Simples!
(*) Jane Godoy – Coluna 360 Graus – Foto:
Edilson Rodrigues/CB/D.A.Press – Correio Braziliense