Prisão de
Temer aquece flerte entre Ibaneis e Doria pelo Planalto Governadores ensaiam
aliança em 2022. União pode dificultar planos do senador Izalci para o Buriti,
mas parlamentar nega desconforto
A prisão preventiva do ex-presidente Michel Temer
(MDB) apimentou
o flerte entre o governadores Ibaneis Rocha (MDB) e João Doria (PSDB). Os dois
sonham com o Palácio do Planalto em 2022 e namoram a construção de uma
pré-chapa. Esse movimento, contudo, coloca em posição desconfortável o
senador Izalci Lucas (PSDB).
Mirando a conquista da presidência nacional do
partido, o governador do DF marcou posição na defesa de uma faxina ética
dentro do MDB na quarta-feira (20/03), em Brasília. Caciques e políticos
tradicionais cerraram os dentes, mas o discurso do chefe do
Executivo distrital não era para eles.
“Ibaneis
fez uma aposta nos mais novos, nas bases. A juventude cresce no Maranhão,
Bahia, Rio Grande do Sul, São Paulo e em Brasília. Ele deu muita sorte de ter
se manifestado antes da prisão de Temer”, confidenciou um aliado do núcleo duro
do Palácio do Buriti.
Já o governador de São Paulo decidiu investir
na reformulação tucana após a prisão de Temer. Fontes do Metrópoles no Palácio do Bandeirantes revelam que ele
cogita inclusive desenterrar o debate sobre a possível expulsão do deputado
federal Aécio Neves (PSDB). Esse movimento pode pavimentar uma aliança com o
governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Detalhe: o secretário de Governo
mineiro, Custódio Mattos, é indicação Doria.
Por outro
lado, Doria ensaia um afastamento do governo de Jair Bolsonaro (PSL).
Os índices de aprovação do capitão da reserva começaram a derreter. O
governador chegou a fazer um aceno ao vice-presidente da República,
Hamilton Mourão (PRTB), na segunda-feira (18).
No plano
doméstico, a bancada paulista do Partido Social Liberal assumiu o papel de
oposição aos tucanos no principal poleiro do partido: São Paulo. A deputada
estadual Janaína Pascoal (PSL-SP) disputou a presidência da Câmara Municipal
contra o candidato de Doria, e o partido protocolou um pedido de CPI para
investigar o tucanato.
Obviamente nem tudo são flores no pré-romance.
Enquanto Ibaneis estava em viagem para Portugal, Doria fez uma reunião dos
estados do Sudeste e Sul, com a justificativa que seria um contraponto ao
movimento do Norte e Nordeste contra a reforma da Previdência. O gesto
repercutiu mal no Buriti. Mas a próxima reunião do Fórum
Nacional dos Governadores na terça-feira(26) será um bom termômetro para
a relação.
Desconforto
Se o “pré-match” for real, a posição de Izalci no tabuleiro pode ficar prejudicada. Nos bastidores, membros do grupo político de Ibaneis criticam o senador. “Ele já está pensando em disputar o governo”, alfinetou um aliado de primeira hora, em conversa reservada.
Se o “pré-match” for real, a posição de Izalci no tabuleiro pode ficar prejudicada. Nos bastidores, membros do grupo político de Ibaneis criticam o senador. “Ele já está pensando em disputar o governo”, alfinetou um aliado de primeira hora, em conversa reservada.
Ibaneis
pode não tentar a reeleição, mas certamente quer emplacar um sucessor ou
sucessora. O caldo encorpa com mais dois temperos. Primeiro, Izalci e o PSDB
não têm espaços no GDF. Segundo, nos bastidores, o advogado busca outros
interlocutores para representar o governo distrital no Senado.
Paralelamente, no ninho tucano, lideranças próximas
a Doria consideram que, no DF, o aliado preferencial é o governador. Izalci é
respeitado e reconhecido, afinal de contas, venceu uma eleição duríssima. Somado a isso, conquistou o posto de vice-líder do governo
Bolsonaro no Senado Federal. Mas a proximidade de Doria com Ibaneis
é evidente. Pelo menos uma vez a cada 30, 40 dias, o emedebista viaja para São
Paulo para falar sobre política com líder nacional tucano.
“Doria pensa em Ibaneis. Ninguém tem a intenção de
atropelar o Izalci. Mas essa disposição tem limite. E João tem perfil assertivo
e direto. Diferentemente do [ex-governador de São Paulo Geraldo] Alckmin”,
argumentou um membro da cúpula nacional do PSDB.
Por
exemplo, Doria cobra união no ninho com “bico de ferro”. Qualquer ato de
desobediência é punido. O deputado estadual Pedro Tobias (PSDB) entregou a
presidência do diretório regional de São Paulo, pressionado pelo governador. O
parlamentar está longe de ser um tucano de baixa plumagem. Além de comandar o
maior diretório regional, tinha influência sobre oito deputados estaduais e
seis federais.
Izalci nega qualquer atrito com Ibaneis ou Doria. O senador não descarta a
ideia de concorrer ao Buriti em 2022. Mas diz que ainda muito cedo para o
assunto. Neste ano, Izalci promete que o diretório regional terá eleições. A
princípio, o PSDB definirá os comandos municipais em março, os estaduais serão
eleitos em abril e o comando nacional vai ser escolhido em maio.
“Essa
história não procede. Temos um relacionamento cordial e respeitoso.
Realmente não estou participando do Governo do DF. Apoiei Alberto Fraga
no primeiro turno. No segundo turno, apoiamos Ibaneis e Jair
Bolsonaro. Por isso me sinto à vontade para não cobrar nada do governador e nem
ele me deve nada. Há sempre alguém tentando plantar uma intriga, gerar
especulações. As próximas eleições estão muito distantes. Nossa cidade está
acima dos interesses partidários e eleitorais”, disse Izalci.
Por Francisco Dutra – Metrópoles
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POLÍTICA