Emprego e desemprego no Distrito Federal
*Por Aldo Paviani
Pode-se prever qual será o comportamento das atividades em tempos de crise econômica e instabilidade política? É desafiador antever o futuro do Distrito Federal (DF) e de sua área metropolitana, formada com Brasília. Contudo, há pesquisas em andamento que nos fornecem dados sobre o emprego e desemprego na atualidade, que podem colaborar com a necessária reavaliação de rumos a seguir. A primeira questão a examinar é o constante aumento da População Economicamente Ativa (PEA). Ela segue o incremento populacional do DF, que supera os 2,9 milhões de habitantes, segundo estimativas recentes. A esse montante, acrescentem-se os moradores da periferia metropolitana (1,3 milhão de pessoas) em 12 municípios goianos próximos. A Pesquisa Metropolitana por Amostra de Domicílios (Pmab/Codeplan) indica que esses municípios dependem do mercado de trabalho e dos serviços oferecidos pelo DF. Com isso, temos uma metrópole de mais de 4 milhões de habitantes e um quadro de atividades pouco elástico, isto é, a população urbana cresce mais do que o surgimento de oportunidades de trabalho.
Os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego — PEA — atestam que, em 2018, a PEA somava 1.653 mil pessoas; estavam empregados 1.346 mil, enquanto se estimou em 307 mil o total de desempregados ou 18,6% da PEA, uma das mais elevadas taxas em relação às demais metrópoles brasileiras. Embora a taxa seja inferior à de 2017 (19,3%), há preocupação com o fato de o desemprego ir se elevando ao longo dos anos. Para ter uma ideia, em março de 1997, a taxa de desemprego em Brasília atingiu 18% e era a segunda mais alta em seis metrópoles onde a pesquisa era realizada, apenas abaixo de Salvador, 20,9%. Nas outras metrópoles, as estimativas eram as seguintes: Belo Horizonte, 13,3%; Curitiba, 14,4%; Porto Alegre, 13,5% (a mais baixa) e a grande metrópole de São Paulo, 15% ou 1.409 mil desempregados no mesmo mês e ano. Já no ano de 2000, o desemprego na capital da República atingiu 19,6%, caindo para 15,9% em 2009, a mais baixa em duas décadas.
Abrem-se parênteses para informar que, ante os resultados negativos, várias metrópoles deixaram de realizar as respectivas PEDs. Ao longo dos últimos anos, examinavam-se as pesquisas de emprego e desemprego de seis metrópoles, depois quatro e, na atualidade, apenas São Paulo, Brasília e Salvador. Elas são importantes para se entender o processo e tudo o mais que a ele está associado, como o desempenho das atividades econômicas, a estimativa dos ocupados, segundo a posição na ocupação (quais os que são contratados com carteira e sem carteira, quantos autônomos, quantos empregadores, quantos empregados domésticos e o montante de assalariados do setor privado e do setor público). Quer dizer, uma cobertura estatística confiável e extremamente válida para a gestão e efetivação de políticas públicas e orientação para o setor privado da economia.
No caso de Brasília, há duas considerações: a) aumenta o número de jovens que se apresentam para trabalhar, sem que surjam atividades novas no mercado de trabalho; b) há desigualdades socioespaciais, pois o desemprego não se distribui de forma homogênea no território do DF. A PEA classificou as regiões administrativas (RAs) por faixas de renda, sendo estabelecidos quatro grupos. Na faixa de renda mais alta, o Grupo 1, o centro metropolitano, apresentou a mais baixa taxa de desemprego em 2018 (8,4%). Na faixa seguinte, de média-alta renda, Grupo 2, o desemprego quase duplicou (5,7%). No Grupo 3, de média-baixa renda, o desemprego foi estimado em 22,1%, muito superior ao Grupo de alta renda. No Grupo 4, de mais baixa renda, o desemprego é de 25% da PEA ou quase três vezes superior ao Grupo 1.
Esses números mostram que os lugares mais pobres do DF – Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas, Estrutural e Varjão – devem receber atenção e políticas públicas para que desenvolvam atividades e ocupem a população no próprio local de moradia. O mesmo ocorre com a média-baixa, Brazlândia, Ceilândia, Planaltina, Riacho Fundo, Samambaia, Riacho Fundo II, Santa Maria e São Sebastião, que igualmente dependem do Grupo 1 (Plano Piloto, Lago Sul, Lago Norte, Jardim Botânico, Park Way e Sudeste/Octogonal) para exercer atividades e procurar serviços de vários tipos. Saliente-se que o centro metropolitano concentra 41,2% das atividades do DF, segundo a Pdad/Codeplan 2018. Conclui-se: 1 – há necessidade de descentralizar atividades; 2 — ao que parece, o atual perfil de atividades no DF se esgotou e exige mudanças urgentes.
(*) Aldo Paviani - Geógrafo, professor emérito da UnB e membro do Neur/Ceam e do Núcleo do Futuro da UnB - Foto/Ilustração: Blog - Google
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