Onyx diz que o apoio a Bolsonaro não caiu e o dono do Ibope deveria ser
preso! Diz que a reforma da Previdência é o caminho da prosperidade.
*Por Ana Dubeux, Denise Rothenburg e Leonardo Cavalcanti
Prestes a completar 100 dias, em
11 de abril, o governo Jair Bolsonaro conseguiu fechar a semana com um respiro
em relação a controvérsias e troca de chumbo entre aliados e parlamentares. A
dúvida é quanto tempo a trégua vai durar, até a próxima troca de tuítes ou
declaração agressiva. Mas não para o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, 64
anos. Para ele, os atritos eram esperados, mas a tendência é que as polêmicas
decantem e a reforma da Previdência — o principal projeto do Planalto — avance
no Congresso e seja aprovada antes do recesso de julho.
Quanto aos sobressaltos, diz que
isso era perfeitamente previsível. “A gente sabia que ia ser complexo. A alta
burocracia se defende, porque burocracia significa proteção e poder”, comenta,
ao ressaltar que a “nova Previdência” exige um pacto pelo Brasil. “Ou vamos ser
a Grécia e mergulhar no abismo ou vamos ser o Portugal, que em um belo dia
cortou 30% de pensões de aposentadorias. Os portugueses gritaram, choraram, mas
o que aconteceu? Tiveram que aguentar. Imagina cortar 30% de pensão hoje!”
O que dá pra ressaltar nos
primeiros 100 dias de governo?
Todos os ministros e secretários executivos
passaram por treinamento na Escola Nacional de Administração Pública. Estamos
praticando o procedimento tanto com metas finalísticas, quanto metas
transversais. Trabalhamos com a digitalização do governo até os primeiros
quatro anos. Reduzimos ministérios e níveis hierárquicos. Cortamos as primeiras
21 mil funções de cargos e comissões. Vamos implantar, antes dos 100 dias, as
primeiras unidades de integridade e combate à corrupção, uma no Ministério da
Saúde e outra, no Ministério de Agricultura, justamente por terem grande
capilaridade. No combate à corrupção, não adianta somente ter Polícia Federal
forte, o Judiciário… A gente precisa mudar a cultura na área pública,
trabalhando por dentro.
É a volta do controle interno?
Não, é um modelo semelhante às unidades de compliance aplicado às
empresas privadas.
Mas o governo tem apresentado muitas dificuldades.
Vamos lá, primeiro deixa eu falar da reforma, que é um nome ruim para
uma coisa boa e diferente. Quem fez reforma foi FHC. Lula, Dilma e Temer,
uma maquiagem, um conserto pontual. Nós apresentamos um novo sistema
previdenciário. Antes de mandar a reforma, mandamos a MP de fraudes do INSS e
entregamos o projeto que melhora a cobrança a devedores. Depois, pela primeira
vez na história republicana, desde o século XIX, separamos Previdência de
assistência, para a sociedade ter clareza. Quando lembramos de “João 8:32”, é a
verdade. A verdade é que Previdência é sistema de seguridade. O Brasil tem
sistema de repartição, e a assistência social é de outra natureza, tem que ser
coberta com taxas, imposto e contribuições. A sociedade tem que ter clareza do
custo e de como se faz essa rede de solidariedade, que tem que
existir. Então, a conjugação desses aspectos, a mistura de
Previdência e assistência, e a irresponsabilidade da gestão fizeram um buraco
no navio. E o que estamos fazendo? Estamos consertando com equidade. É para
todos, para todo mundo, a partir da cota de sacrifício no aumento das alíquotas
e na incidência de alíquotas para todos — mas, diferentemente das outras, não
há retirada de direitos para ninguém, nem no regime próprio, nem na Previdência
Geral.
Mas há uma dificuldade para que a sociedade apoie, principalmente em
relação à capitalização.
Isso é importante, a gente corrige e dá condição de flutuação para o
barco novinho para os nossos filhos e netos, que é o regime de capitalização. É
diferente do chileno, que foi em fundo. O nosso será em poupança individual
para aposentadoria. Escolhemos a poupança porque a poupança é conhecida dos
extratos menos “aquinhoados” da população, e a população confia. Na medida em
que seja assim, essa poupança individual vai ter característica importante: uma
portabilidade de 3 a 4 anos. Então imagina a disputa dos bancos para receber
poupança sobre remuneração. Usando mecanismo de mercado, o Brasil tem do PIB
15,5% de poupança interna, mas terá condições de bater 20%, com a capacidade de
alcançar 3% do crescimento ao ano. Além de que vai melhorar câmbio, reduzir
dependência do recurso externo, financiar o próprio crescimento e atualização
tecnológica, na medida em que seja assim, uma transformação profunda.
Mas o presidente parece não ter convicção da reforma, e a troca de
declarações com o Maia atrapalhou tudo. Como resolver?
Primeiro, com muita humildade. Somos um governo novo, que tem uma
herança terrível deixada pelo PT, para não falar maldita. São 13 milhões de
desempregados, R$ 139 bilhões de deficit primário, 9% de analfabetos, enquanto
que os funcionais são 30%. Parte dos alunos que entra nas escolas públicas e
privadas não faz interpretação de texto nem equação matemática. Isso é a
herança petista, sem falar na roubalheira. Estamos falando daquilo que mexe com
a vida da cidadania, 60 mil homicídios por ano. Evidente que, em um período
curto, essa tragédia se abateu sobre o Brasil, misturando incompetência com
projeto de poder continental, e é a dificuldade que nós temos. Por 30 anos o
Brasil criou presidencialismo de coalizão, em que o resultado, todo nós
conhecemos.
Essa dificuldade é a dificuldade com o Maia?
Não, isso é outra questão. Vou tentar equacionar para não cair no
reducionismo de o problema ser o “Maia e o presidente”, que é ótimo para a
manchete do jornal, mas é uma tragédia para o Brasil. Nós temos 30 anos de
presidencialismo de coalizão que está sendo modificado. O Congresso é o mesmo?
Não. São 249 deputados novos e 46 senadores novos. Então, é evidente que tudo
isso precisa de tempo, paciência, resiliência e humildade para poder persistir
no diálogo. Então o que aconteceu: quando começamos a ajustar, houve uma
situação de desentendimento de parte a parte, e a gente encontra razão de todos
os lados.
O senhor fala em paciência, tempo e humildade para que se
entenda esses 100 dias. Mas são muitos sobressaltos…
Está dentro do normal. Até porque a gente tem uma circunstância em que
todos estão se ajustando. Isso era perfeitamente previsível. A gente sabia que
ia ser complexo. A gente sabia que ia ser difícil porque estamos mudando uma
cultura. Por exemplo, quando a gente fala em avançar para a digitalização aqui,
nós temos forças da alta burocracia que impedem. A gente começou a fazer os
decretos de desburocratização para fazer o revogado. Nós já temos mais de 100
decretos para serem renovados. A alta burocracia se defende porque burocracia
significa proteção e poder.
Essa lua de mel tem um prazo de validade devido à opinião pública. Vai
ter uma hora em que as coisas começam a embaraçar. Isso afeta a reforma da
Previdência?
A nova Previdência não é apenas um projeto do governo Bolsonaro. Ela
exige um pacto pelo Brasil. Ou vamos ser a Grécia e mergulhar no abismo, ou
vamos ser Portugal, que, em um belo dia, cortou 30% de pensões de
aposentadorias. Os portugueses gritaram, choraram, mas o que aconteceu? Tiveram
que aguentar. Imagina cortar 30% de pensões hoje? Mas, em compensação,
Portugal, hoje, se equilibrou, é um dos países europeus que mais crescem, com
qualidade de vida. Então, nós podemos fazer tudo isso sem passar por esse
sofrimento. Vocês publicaram aquelas fotos das pessoas em filas
intermináveis em São Paulo, pessoas procurando trabalho. Aquilo é desumano. O
país que tem as riquezas que o nosso país tem, a biodiversidade que tem, o
capital humano que o nosso tem, um governo que é constitucional, que defende
liberdade, respeita contratos, propriedade… Está tudo pronto. O que falta para
o Brasil? Por que o Brasil não bomba? O grande lugar do planeta para fazer
investimento que retorna em curto prazo não é o México, porque, com a guinada
deles, eles saem do radar. Não é a Argentina, porque Macri não teve um norte
como este governo tem. Aí tem o Chile, mas que tem o mercado que já está
resolvido, pequeno, está com US$ 24 mil de renda per capita. Então, no momento
em que reequilibrarmos fiscalmente o Brasil, cabe estudar a palavrinha mágica
entre o investidor externo e o interno, que é previsibilidade. Ou seja, não há
risco de quebrar o governo. Não vai ter corte de pensões e aposentadorias ou, o
que é pior para o investidor, um tarifaço para recuperar equilíbrio fiscal,
porque aí você vai cobrir o lucro do cara e não permite que ele retome o
investimento. O Brasil tem um referencial de confiança que foi gerado pela
eleição do presidente Bolsonaro. Fizemos uma concessão de aeroportos,
arrecadamos R$ 2,37 bilhões. Então, o que é isso? Isso é confiança. Isso é
esperança.
O senhor disse que o governo não
precisaria da Previdência. Ele vai sobreviver a esse mandato com ou sem a
Previdência.
O Brasil tem US$ 380 bilhões de reserva externa, um deficit
primário que conseguimos administrar. O nosso problema é que o buraco vai
aumentar. O Brasil tem um cenário que nos permite, com muita dificuldade,
conduzir o país nestes quatro anos se eventualmente a reforma não passar.
Agora, é um cenário muito ruim para os brasileiros. A Nova Previdência é um
portal das prosperidades. A potência fiscal preparada pelo ministro Paulo
Guedes é de R$ 1,1 trilhão em 10 anos. Isso nos dá condição para mostrar ao
mundo que o Brasil é solvente.
Mas 13 partidos fizeram manifesto
pedindo mudanças no projeto da Previdência…
Nenhum projeto passa incólume pelo Parlamento, com raríssimas exceções. Isso vale para a Alemanha, Espanha, Brasil.
Nenhum projeto passa incólume pelo Parlamento, com raríssimas exceções. Isso vale para a Alemanha, Espanha, Brasil.
Mesmo que a economia seja menor?
Sabemos que ocorrerão modificações. Esse diálogo com os partidos é a
favor do Brasil. É o trabalho que nós vamos ter no momento que, mais ou menos,
no dia 17 de abril, vai sair da CCJ. Vamos para a comissão especial em pouco
mais de 40 dias. Nós vamos fazer um debate profundo tecnicamente consistente,
de parte a parte, e eu tenho certeza de que nós vamos encontrar o caminho.
O governo parece não precisar de oposição, por causa dos filhos do
presidente ou dos olavistas…
O que significou a vitória do Bolsonaro é que ela foi construída nem só
pelo Bolsonaro, nem só pelos filhos dele, nem só pelas ideias liberais do Olavo
de Carvalho, nem só pelas ideias liberais do Paulo Guedes, nem só pelas ideias
liberais que eu defendo. Eu fui um dos primeiros deputados a se eleger
defendendo ideias liberais há vinte e tantos anos. Lá no Rio Grande do Sul, eu
lembro que as pessoas diziam que, com aquelas ideias, eu teria apenas um
mandato. Eu estou fechando o meu sétimo mandato. Fui o segundo mais votado no
estado.
Mas não é isso o que dizem as pesquisas…
O dia em que o Ibope acertar uma pesquisa no Brasil, eu te pago um
jantar. Esse Ibope é um salafrário. Não deveria existir esse negócio, esse
troço. É um absurdo. Se fosse um país sério, já estava na cadeia o dono do Ibope,
e eu provo isso porque eles me roubaram uma eleição no Rio Grande do Sul, em
2004.
O senhor falou da burocracia que atrapalha o cidadão…
Estamos acabando com essa coisa de reconhecer firma e isso e aquilo e
papel para isso e para aquilo, ou seja, estamos construindo uma relação
completamente diferente do que foi historicamente. O cidadão votou na eleição,
depois chegava a vez do governo, e o governo desrespeitava. O cidadão tem razão
até que se prove o contrário. Nós vamos estruturar o arcabouço legal nessa
linha. Agora, é difícil porque essa burocracia que se instalou no Brasil nos
últimos anos é a alta burocracia mais resistente. Eu vou te dar um exemplo: a
presidente da Embratur resolveu fazer um jantar de R$ 299 mil. O presidente
descobriu e ela foi demitida na hora. A gente não brinca com essas coisas,
estamos trabalhando. Eu sou ministro desde 3 de novembro do ano passado, fui um
ministro de transição. Quantos aviões da Força Aérea Brasileira eu requisitei?
Nenhum. Sabe quantos centavos eu gastei do cartão corporativo? Nenhum. Olha o
que está acontecendo no MEC, talvez o órgão público mais aparelhado do Brasil.
Sabíamos que seria um dos focos da resistência, até porque, do ponto de vista
ideológico, é o lugar onde se expressam as influências desses quase 30 anos de
esquerdismo que o Brasil empilhou e que deu no que deu. Nós temos problemas
gravíssimos dentro das escolas brasileiras. Então, isso vai levar muito tempo
para recuperar.
Mas a impressão é que o ministro Veléz está perdido, não sabe nem os
nomes dos programas…
(Com ironia) 80 dias é um tempo longuíssimo para uma construção que
levou três décadas. Eu tomei uma decisão que foi a da exoneração e da
reconstrução. A maior parte dos ministros não topou a despetização, está
fazendo lentamente. A gente tem profundo respeito pela ação de cada ministro,
estamos em um time que está se afinando. A equipe tem alma verde e amarela, são
reuniões espetaculares de serem assistidas. O presidente, reiteradamente,
mobiliza a equipe no sentido pra servir o Brasil, ou seja, tem um tempo e tem
que ter paciência.
Quando a Previdência será
aprovada?
A nossa expectativa e a projeção são de que, até julho, a gente
tenha a Nova Previdência votada na Câmara e no Senado. Até o recesso. A gente
acha que pode ser antes. Mas, se a gente tiver ela aprovada até antes do
recesso, está perfeito. Aí, no segundo semestre, entra a descentralização dos
recursos. E o que ocorre: o projeto do Moro vai tramitando. Os projetos do
pacote anticrime, na verdade, têm um rito todo próprio. Tem uma série de
comissões para passar, e a gente sabe o trâmite médio de projeto de lei que não
seja PEC. Mesmo com urgência constitucional, tem uma tramitação de mais ou
menos um ano. Às vezes, até um pouquinho mais. É natural isso.
O que o servidor público pode esperar?
O que essa nova Previdência traz para os que estão atuando é apenas uma
contribuição maior e tempo de serviço, claro. Não podemos mais ter aquela
circunstância de pessoas se aposentarem aos 50 anos de idade.
(*) Ana Dubeux, Denise Rothenburg e
Leonardo Cavalcanti - Correio Braziliense
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Nota da redação do Blog – Tribuna da Internet – Onyx Lorenzoni é um parlamentar muito experiente, sabe se
expressar. A entrevista foi muito longa, fizemos um resumo aqui na TI. Reparem
que o ministro falou apenas “de passagem” no maior problema brasileiro, a
dívida pública, porque nada tem a dizer. Onyx segue a “teoria” de Paulo Guedes
e diz que a reforma da Previdência vai solucionar o problema, mas isso é “menas
verdade”, como diria o ex-presidente Lula da Silva. (C.N.)