Temas como a criação da região metropolitana e da Junta Comercial devem
ser tratados pela bancada brasiliense no Congresso Nacional: articulações
bem-sucedidas de parlamentares determinam a aprovação de matérias
*Por Jéssica Eufrásio - Alexandre de Paula
Os desafios da bancada do DF. Em momento de dificuldades financeiras,
senadores e deputados federais eleitos pelo Distrito Federal podem ajudar a
resolver as principais demandas da capital. No entanto, parlamentares ainda
seguem sem definir a coordenação da bancada
Buscar soluções e alternativas para problemas atuais e urgentes do
Distrito Federal — como a transferência de líderes da organização criminosa
Primeiro Comando da Capital (PCC) para Brasília e a aprovação de medidas
provisórias que possibilitam a criação da Junta Comercial e da Região
Metropolitana do Entorno — são alguns dos desafios da bancada brasiliense no
Congresso Nacional.
A articulação entre deputados federais e senadores pode afetar
positivamente a busca de saídas para impasses que surgiram nesses dois meses de
legislatura. Entre os problemas há, ainda, uma grave questão econômica: a perda
de recursos devido à decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) que tira dos
cofres do DF os valores do Imposto de Renda de servidores pagos com recursos do
Fundo Constitucional.
Parlamentares do Senado e da Câmara dos Deputados avaliam que a nova
bancada trabalha em sintonia. De acordo com eles, há consenso, apesar das
divergências ideológicas, nas temáticas que mais afligem a capital federal. No
entanto, deputados e senadores seguem sem definir quem será o coordenador do
grupo.
O senador José Antônio Reguffe (sem partido) avalia que a bancada está,
de fato, unida para tratar dos problemas mais espinhosos. Ele cita como
exemplos a transferência do líder do PCC Marcos Camacho, o Marcola, para a
Penitenciária Federal de Brasília e a defesa do Fundo Constitucional. Para ele,
senadores e deputados têm nas mãos um instrumento que pode auxiliar diretamente
nos problemas orçamentários da capital federal: as emendas parlamentares. “Com
elas, os recursos da União podem ir diretamente para o DF. São uma contribuição
prática que cada parlamentar pode fazer”, explica. “Mas isso precisa ser bem
aplicado”, defende Reguffe, que destaca ter destinado R$ 10 milhões de emendas
em 2019 para a saúde do DF.
Mobilização
A deputada federal Flávia Arruda (PR) tem avaliação parecida. Os temas
mais complexos, segundo ela, recebem tratamento conjunto pela bancada. Ela
destaca o encontro com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro
(leia Memória). Apenas dois deputados — Erika Kokay (PT) e Israel Batista (PV)
— não participaram da reunião. “Não é em todos os assuntos que a bancada se
senta para conversar, mas os temas mais importantes estão em debate”, explica
Flávia. A deputada ressalta a importância de o grupo se mobilizar para
articular a aprovação das duas medidas provisórias relativas ao DF que tramitam
no Congresso.
O prazo para avaliação das propostas é 14 de maio. Depois disso, elas
perdem a validade. No caso da medida provisória que possibilita a criação da
região metropolitana, há mais dificuldades devido a divergências com o governo
de Goiás, que demonstrou abertamente ter ressalvas à proposição. As barreiras
tornam a articulação dos parlamentares ainda mais importante para conseguir
tirar o projeto do papel, considerado fundamental para desafogar o DF e trazer
medidas e recursos em conjunto com os estados vizinhos.
A deputada Paula Belmonte (Cidadania) é a favor de sensibilização quanto
ao tema. Ela lembra que, nas regiões administrativas mais próximas ao Entorno,
parte da população de Goiás depende de atendimento público no DF. “Estamos
recebendo pessoas, mas, infelizmente, não temos suporte financeiro. É preciso
sensibilização, pois se tratam de muitas pessoas que eram do DF e, devido ao
alto custo de vida daqui, mudaram para lá”, analisa.
Alternância
A falta de um coordenador para a bancada do DF tem provocado
dificuldades, segundo a deputada Erika Kokay (PT). Ela afirma que a ausência de
uma figura que paute os parlamentares e encaminhe as matérias tira a força do
grupo. A petista critica a demora na escolha do representante devido a
discussões sobre premissas. “Ainda não houve uma reunião. Temos de pautá-la e
abrir prazo para que as pessoas coloquem se querem ou não ser coordenadoras e,
assim, possamos discutir (propostas)”, pontua.
O senador Izalci Lucas (PSDB) defende que seja mantido o critério da
alternância, com um representante de cada Casa na coordenação durante um ano.
Por essa ordem, em 2019, a vaga seria de um senador. O tucano quer que a vaga
fique com um dos parlamentares antigos para que levem adiante pendências
anteriores. “Cabe ao coordenador correr atrás de decisões paradas. Ainda não
fizemos nenhuma reunião. Não podemos perder milhões disponíveis por falta de
projetos”, alerta Izalci.
Para a deputada Celina Leão (PP), é preciso chegar a um consenso na
escolha do coordenador para evitar embates entre os próprios parlamentares.
“Todos temos maturidade para definir de maneira positiva para todos. Tenho
sugerido escolhermos o coordenador de uma Casa e o vice de outra”, ressalta.
Flávia Arruda também prefere um acordo entre os parlamentares. “Não pode ser
uma disputa, porque o coordenador é quem vai mediar, quem vai fazer um consenso
entre todos. Ele não tem independência, depende do aval dos outros
parlamentares”, reforça.
Memória: Encontro com Moro
Memória: Encontro com Moro
Em 29 de março, a bancada do Distrito Federal na Câmara dos Deputados e
no Senado se reuniu com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro
(foto), para discutir a decisão de manter uma Penitenciária Federal no DF. Moro
considerou o alarde exagerado e afirmou que pode rever o posicionamento caso
surjam indícios de que organizações criminosas tentem se instalar na capital
federal.
Em espera
O ex-presidente Michel Temer assinou, em dezembro, duas medidas
provisórias com foco no Distrito Federal. A primeira cria a região
metropolitana, formada por DF e municípios de Goiás e Minas Gerais. O objetivo
é simplificar os processos de captação de recursos da União, a elaboração de
planos de ação e a execução de obras. A segunda MP transfere da União para o
GDF a administração da Junta Comercial do DF, responsável pelo registro dos
atos de unidades empresariais de Brasília a fim de desburocratizar a abertura
de negócios. Para entrarem em vigor, elas precisam passar pelo Congresso
Nacional.
Decisão judicial
Em março, o TCU reconheceu que o valor arrecadado com o Imposto de Renda
incidente sobre o contracheque de servidores da Polícia Civil, da Polícia
Militar e do Corpo de Bombeiros do DF pertence aos cofres federais, não aos
distritais. O salário das categorias é custeado pelo Fundo Constitucional do
DF, abastecido, anualmente, com recursos da União. Com a decisão, o DF
precisará devolver R$ 10 bilhões aos cofres federais. O impacto na arrecadação
anual é de R$ 700 milhões.
Para saber mais: Rodízio anual na coordenação
Uma resolução estabelece que a escolha do coordenador de bancada precisa
do aval de cinco deputados e de dois senadores. Entre as funções do cargo está
a indicação de recursos de emendas impositivas. Tradicionalmente, há rodízio
anual do cargo entre senadores e federais. Além das emendas, os parlamentares
da bancada devem se articular para tratar de assuntos como a defesa do Fundo
Constitucional do DF e a ampliação de recursos do Fundo de Financiamento do
Centro-Oeste (FCO) para o Distrito Federal. No ano passado, quem liderou a
bancada foi o deputado Vitor Paulo (PRB).
(*) Jéssica Eufrásio – Alexandre de Paula – Fotos: Breno
Fortes/CB/D.A.Press – Isaac Amorim/MJSP – Correio Braziliense
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