Uma saudosa Avenida W3
*Por Jane Godoy
No mês de abril, quando o assunto mais em pauta é o
aniversário de Brasília, parece que a gente começa a olhar para trás, a
recordar tudo a respeito da época da construção, a epopeia e a verdadeira
loucura que se tornou este Planalto Central e, a cada momento, a cada lampejo
de lembrança, um misto de nostalgia e de orgulho se misturam na cabeça de
pioneiros (entre 1956 e 1960) e não tão pioneiros (1960 em diante) como eu, que
cheguei em 1969.
A gente começa a comparar tudo aquilo com que JK
sonhou, tudo aquilo que os candangos viveram, as dificuldades que passaram, o
sofrimento fazendo parte do dia a dia, as perdas de entes queridos durante as
obras, a distância das cidades e estados de origem e das famílias — tudo
isso para fazer surgir, no meio do nada, uma grande cidade, a nova capital do
Brasil, fruto do projeto ousado e corajoso de um homem que, como disse Winston
Churchill ao definir um estadista, “decide pensando nas próximas gerações”. Foi
o que JK fez. Decidiu construir Brasília pensando no futuro do Brasil e nas
próximas gerações.
Cinquenta e nove anos depois, quando faltam exatos
357 dias para comemorarmos os 60 anos da “nova” capital, temos que ouvir e
sentir, bem no fundo do coração, o lamento de um pioneiro de primeira grandeza,
Hely Walter Couto. Aos 93 anos, ele se lembra de tudo o que aconteceu durante a
construção e a inauguração de Brasília.
Hoje, decepcionado e triste, ele afirma que “a W3
Sul está completamente abandonada. Lojas fechadas, desde que os shoppings
centers começaram a carregar as lojas todas e a W3 Sul ficou às traças. Há 25
anos, eu venho lutando pela revitalização dela” assegura e lamenta.
Surgiu, então, em nossa lembrança, a existência de
mais um local em Brasília que, infelizmente, consideramos preocupante. É realmente
lamentável transitar por aquela via e, fechando os olhos, nos lembrarmos do
quanto ela era movimentada, alegre, como um centro comercial a céu aberto.
Hoje, com poucos remanescentes — como a
Pioneira da Borracha, do próprio Hely Walter Couto, o fenomenal e sobrevivente
Restaurante Roma, mais o Espaço Cultural 508 Sul, denominado Espaço Cultural
Renato Russo, a Casa das Ferramentas, Casa Nova Capital, algumas lojas de
tecidos, bancos, bancas de jornais, outras poucas e heroicas lojas “daqueles
tempos” —, assistimos a um desfile de portas fechadas, lojas pichadas, calçadas
perigosamente desmanteladas. Um quadro dantesco a que nós, pioneiros, nunca
pensamos assistir.
O apaixonado pioneiro Hely comentou sobre as
inúmeras praças que existem por lá, “que poderiam e deveriam ser revitalizadas,
com a colocação de fontes luminosas, flores, iluminação adequada, bancos para
as pessoas se sentarem e parquinhos para as crianças.”
Então, pensativa, a gente questiona: será que
podemos ter esperança de ver a nossa W3 Sul revigorada, ressuscitada e admirada
como uma das mais importantes artérias brasilienses?
Tiradentes disse, durante a sua luta durante a
Inconfidência Mineira: “Se todos quisessem, poderíamos fazer do Brasil uma
grande nação!”
Nós pedimos emprestadas as eloquentes palavras e
garantimos que, da mesma forma, se todos quisessem, poderíamos fazer de
Brasília uma capital-exemplo e modelo. Simples!
Por Jane
Godoy – Coluna 360 Graus - Fotos: Ed Alves/CB/D.A.Press – Carlos
Vieira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense