Valdir Oliveira
- Superintendente do Sebrae/DF
As finanças do DF
estão bem mais apertadas do que previa a campanha do governador
Ibaneis Rocha. O que houve?
Na política temos
dois momentos específicos: o palanque e a gestão. No palanque, o candidato
vende a esperança; na gestão, o governo entrega resultados. Nem sempre a
esperança é alinhada com os resultados. A esperança vendida foi de
prosperidade, com aumento para servidores e de estruturas de governo e redução
de impostos para ajustar a uma anunciada justiça tributária. Essa equação é
difícil porque os tempos das receitas e das despesas são diferentes. A redução
da carga tributária levará um tempo para se transformar em oportunidade de
negócios e consequente aumento de arrecadação, mas o incremento das despesas
com os aumentos salariais anunciados na campanha, bem como a ampliação de
estruturas governamentais, tem efeito imediato na despesa. Esse descompasso
entre o tempo da receita e da despesa pode trazer problemas para as contas
públicas do Distrito Federal. Não é fácil sair do palanque para a gestão.
Acha que Ibaneis
conseguirá cumprir os compromissos?
Não acredito.
Pelas soluções e as perspectivas apresentadas, não me parece possível a
concretização dos aumentos prometidos, a não ser que a economia do DF responda
positivamente com o aumento de renda. Precisamos deixar que o GDF tenha tempo
para implantar suas propostas. Não é fácil iniciar um governo com expectativa
tão alta e limitações profundas. Tudo vai depender da distância entre a
esperança vendida e os resultados construídos na gestão. Se essa diferença
crescer muito no primeiro ano, será difícil a recuperação dos rumos e tornará
difícil o cumprimento das promessas de campanha ou a esperança vendida no
palanque eleitoral.
A LDO do próximo
ano não prevê reajustes e reduz investimentos no setor público. Qual será
o impacto disso na economia do DF?
A ausência da
previsão de aumentos frustra a expectativa dos que acreditaram na esperança. A
inexistência de perspectivas de aumento de renda acarreta queda na confiança do
consumidor, o que se traduz em tendência de queda do consumo e do faturamento
das empresas. A redução de investimentos públicos é catastrófica para nossa
economia. Hoje há uma doença que afeta nossa sociedade e traz mazelas sociais
irreparáveis nas nossas famílias, o desemprego. Na minha visão, o desemprego
será combatido com uma ação de grande impacto, essencialmente com o incremento
das obras públicas. Se inexistem recursos orçamentários, se ausenta a
capacidade de endividamento, há que se vender ativos e implementar obras importantes
no DF, a exemplo da ampliação do metrô e obras de infraestrutura. Se o GDF
tiver R$ 1 bilhão para investir, esse valor triplica. Com R$ 3 bilhões, haverá
grande impacto na economia do DF. Se houver redução do investimento, haverá
retração da economia e a situação certamente piorará muito.
Você foi secretário
de Desenvolvimento Econômico do governo Rollemberg. O que deixou de
fazer por falta de dinheiro?
Na minha opinião,
para enfrentar o desemprego, mais obras públicas. O governador Rollemberg fez o
que pôde de obras, com a limitação de recursos que tinha. Os recursos
disponíveis foram revertidos em importantes obras para enfrentar a crise
hídrica e a saída do trevo norte, além de infraestrutura em Vicente Pires e Sol
Nascente. O governo de que fiz parte tentou, com o que era possível, conseguir
sem a venda de ativos, mas não foi suficiente para reverter a crise econômica e
o desemprego no DF.
A redução de
impostos vai incentivar investimentos no DF?
Por si só, não.
Nenhum empresário toma a decisão de investir pelo simples motivo de que o
imposto foi reduzido. Quando reduzimos o custo tributário, a primeira atitude
do contribuinte é se apropriar do lucro. Depois ele olha o ambiente de negócio,
se não for favorável, ele não ampliará seus negócios. Na minha opinião, modelo
de desenvolvimento não pode ser ancorado no simples ato de redução tributária.
Precisa haver uma convergência de benefícios fiscais e econômicos, com
alavancagem de crédito produtivo, principalmente o de fomento para o momento
que estamos vivendo. Esses fatores devem estar em um ambiente ágil,
desburocratizado e com segurança jurídica. Por isso, não acredito que apenas
uma redução de impostos seja estímulo para melhorarmos a economia e o emprego.
Ana Maria Campos –
Coluna “Eixo Capital” – Correio Braziliense
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