Muita luz para Brasília
*Por Jane Godoy
Brasília na
Plenitude de seus 60 anos! Estamos a caminho do 21 de abril de 2020. Vamos
pensar nela com o maior carinho e empenho!
Em um compromisso
social no último sábado na cobertura de um edifício no Setor Hoteleiro Norte,
em meio ao bate-papo com as amigas, abraços e manifestações de carinho e
alegria de ver quem há muito a gente não via, parecia que uma força magnética
me atraía para o terraço, de onde se descortinava uma vista maravilhosa do
skyline da cidade.
Não resisti. Aos
poucos, passando de um grupo a outro, consegui me deixar levar por aquela
sensação de que algo me chamava, parecendo querer me contar alguma coisa.
Ao chegar ao
parapeito daquele terraço, completado por uma alta proteção de vidro temperado,
o encantamento causado pelas luzes ao longe que, como vagalumes começaram a
piscar aqui e ali, anunciando o anoitecer, aos poucos aquela sensação boa foi
se esmorecendo, esfriando, me deixando triste.
Isso porque, bem
em frente à cobertura em que eu estava, como que a se mostrar e dizer o quanto
estava abandonado, sujo, triste e se decompondo, todo pichado e com suas
escadas perigosamente à mostra, estava aquele lugar para onde a gente ia, nos
fins de semana, degustar as delícias da gastronomia árabe. Quibes gigantes,
fritos, crus ou assados, deliciosos, esfirras e pratos com grão de bico,
charutos de folha de parreira e muito mais vieram à minha mente, me deixando
até aquele cheirinho de comida boa e água na boca.
O fantasma do
Torre Palace Hotel ali estava me assombrando e me deixando triste de ver, bem
no coração de Brasília, no valorizadíssimo Eixo Monumental, numa cidade de
apenas 59 anos recém-completados, um cortiço como os que a gente vê em cidades
centenárias.
Mesmo sabendo “das
pendengas” judiciárias, dos trâmites da morosidade de tudo o que gira em torno
desses conflitos, lamentamos ver tudo como está e nos questionamos quando tudo
isso será resolvido e aquele edifício será recuperado e complementará a beleza
daquele espaço.
Escurece mais e
saio das reflexões sobre o edifício abandonado e me deparo, logo à minha
direita, com uma beleza camuflada pela escuridão que se abatia a cada minuto,
depois “da hora do Angelus”.
Lá estava ela, a
“menina dos meus olhos”, aquela que já foi motivo e alvo de tantas e tantas
matérias veiculadas neste espaço: a Torre de TV.
Sempre tão escura,
tão sem vida, tão sem a pompa e a circunstância que as suas irmãs europeias e
asiáticas ostentam. Quase invisível, se não fosse a luz de alerta em seu topo e
o que parecia uma vela acesa logo acima do mirante.
Também sei que ela
está em fase de restauração, de reforma dos maravilhosos e respeitáveis pilotis
que, antes numa crise de mau gosto e total desconhecimento dos efeitos da cor
na arquitetura, tiveram a audácia de “fantasiá-los” com duas cores. Um desastre
que motivou matéria nesta coluna, depois de protestos veementes de leitores
revoltados com o que fizeram com aquela obra arquitetônica.
Esse desabafo de
hoje deve se transformar em um apelo para que os órgãos e as pessoas
responsáveis pela nossa Torre de TV e pelo finado Torre Palace Hotel, pensando
com o maior carinho nos 60 anos de Brasília, que vamos comemorar em 2020, os
transforme em motivo de orgulho e satisfação de todos os brasilienses. Felizes
e recompensados, teremos motivo de sobra para exibir a nossa tão querida e
respeitada Brasília, a capital de todos os brasileiros.
Ela merece!
(*) Jane Godoy –
Coluna 360 Graus – Correio Braziliense