O tesouro amazônico - "A Amazônia
chama mais a atenção pela importância ímpar, incomparável a qualquer bioma
mundial"
Visão do
Correio: o tesouro amazônico. "Fez bem o governo em acionar as Forças
Armadas para debelar o fogo. Fez bem em oferecer ajuda aos estados que enfrentam
o desafio de combater incêndios em seu território"
“As árvores querem ficar quietas, mas o vento não
deixa”, dizem os chineses do alto da sabedoria de 5 mil anos. “Água parada
apodrece”, afirmam os povos mais simples, de forma menos poética, mas capaz de
traduzir a mesma ideia. Ambos os provérbios ressaltam a importância do
movimento. A mudança impede a estagnação e, em consequência, permite que ares
novos circulem em ambiente às vezes tóxico.
É o que aconteceu com as queimadas na Floresta
Amazônica. Elas não são novidade. Ocorrem em período de estiagem e se agravam à
medida que a seca se prolonga como a deste ano. Também não são exclusividade
brasileira ou sul-americana. Portugal, Grécia, Sibéria, Califórnia, Rússia,
Estados Unidos e países da África viveram recentemente a tragédia das chamas
quase incontroláveis.
A Amazônia chama mais a atenção pela importância
ímpar, incomparável a qualquer bioma mundial. A floresta, durante muito tempo,
recebeu a alcunha de pulmão do mundo. Errado. O oxigênio por ela produzido é
por ela mesma consumido. O paraíso verde que ocupa mais da metade do território
brasileiro ganha relevo internacional por duas razões. Uma delas: a
biodiversidade. São mais de 13 mil espécies de plantas, a maior parte ainda não
catalogada. A outra: a manutenção do clima.
Nos bastidores do reino vegetal que se espraia pelo
norte do Brasil e pelas nações vizinhas se impede o aquecimento global. As
árvores retêm dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa. Com as
queimadas, libera-se o CO2 e se acelera o desequilíbrio do clima. No caso,
tamanho é documento. São milhões de toneladas de gás que, além de comprometer a
qualidade do ar nas cidades, elevam a temperatura média do planeta — como se o
aparelho de ar-condicionado responsável pelo frescor da Terra se rompesse e
jogasse países e pessoas à própria sorte.
A agropecuária também pagaria preço alto. Não em
razão de possível boicote internacional, mas em decorrência de alterações no
regime de chuvas. As árvores suam vapor de água. Trata-se da evapotranspiração.
São gotículas microscópicas que saturam as nuvens. Mais conhecidas por rios
voadores, elas saem da floresta e viram chuva em outras partes do país. É a
água que irriga as lavouras, enche os reservatórios das hidrelétricas e as
estações de abastecimento das cidades.
O Brasil é dono da maior parte desse patrimônio.
Não só. O país possui 12% das reservas de água doce do mundo — mais que todo o
continente europeu ou africano, que detêm 7% e 10% respectivamente. O
patrimônio natural requer cuidado. Fez bem o governo em acionar as Forças
Armadas para debelar o fogo. Fez bem em oferecer ajuda aos estados que
enfrentam o desafio de combater incêndios em seu território. Fez bem em aceitar
a oferta de Israel e em cobrar o desbloqueio de ajuda de emergência de 20
milhões de euros para a Amazônia. Passada a crise, deve ir além — conjugar o
verbo prevenir em vez de remediar.
Correio
Braziliense – (Foto: Mauro Pimentel/AFP)
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ÁGUA E MEIO AMBIENTE