Inaugurado em março de 1985, o Jardim Botânico de
Brasília teve sua proposta de localização registrada no documento Plano Piloto
para a Nova Capital, de Lucio Costa. Ou seja, desde o início da cidade.
Com 5 mil hectares – 4.500 deles intocáveis –, o
espaço é um convite à contemplação do cerrado, vegetação predominante local em
perfeito estado de conservação. Peculiaridade que eleva esse enorme cenário
verde à categoria de Estação Ecológica, ou seja, está entre as cinco mais
restritas unidades de conservação do país, um selo instituído pelo Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).
O local é um exuberante museu da natureza
contemplado por mais de 30 mil visitantes por mês – entre 200 a 800, só de
estudantes de escolas públicas e particulares, todos amparados por relevante
projeto de educação ambiental. Vinculado à Secretaria de Meio Ambiente do DF
(Sema), o Jardim Botânico de Brasília tem entre suas principais atividades a
constituição e manutenção de coleções de plantas, desenvolvimento de pesquisas,
trabalhos de conscientização ecológica e lazer orientado.
Nesta entrevista a diretora-executiva do espaço,
Aline De Pieri, fala sobre as ações de revitalização realizadas nessa gestão e
apresentou novidades, como a construção de uma loja de souvenires com produtos
relacionados ao Jardim Botânico de Brasília, que ficará pronta até o fim deste
ano. Aline também comentou a vocação da Estação Ecológica para pesquisa e
estudos científicos. “Às vezes as pessoas não têm essa noção, acham que aqui
simplesmente é um parque dentro da cidade, mas não. Nós abrigamos coleções
aqui”, constata.
Como você define o Jardim Botânico de
Brasília? É um
órgão relativamente autônomo, subordinado à Secretaria de Meio Ambiente. O
Jardim Botânico é um espaço de contemplação, de lazer contemplativo, é um museu
aberto. As pessoas visitam as espécies que temos aqui, nossa flora e nossa
fauna. Elas geralmente são entusiastas da natureza, pesquisadores, mas, também,
há o público normal. E é um lugar que fomenta pesquisa e educação ambiental.
Quais são as principais atividades
oferecidas? O espaço
em si, com toda a sua riqueza da flora e fauna, já é um atrativo. Mas temos
diversos pontos que interagem com o público de diversas maneiras, como o
anfiteatro, que é aberto a projetos culturais, o herbário, o jardim evolutivo,
que fala da evolução das plantas e seu sistema reprodutivo, o jardim sensorial,
que é um jardim de cheiro que traz o resgate das ervas medicina, fazendo as
pessoas terem contato com os aromas. Entre outras coisas, temos a Estação
Ecológica, espaço dedicado,exclusivamente aos pesquisadores. Às vezes as
pessoas não têm essa noção, acham que aqui simplesmente é um parque dentro da
cidade, mas não. Nós abrigamos coleções aqui.
O que mudou, quais as novidades
apresentadas? Fizemos a revitalização total em vários espaços, fomos vendo o que
estava errado e melhorando aqui e ali. Banheiros e mirante foram reformados,
fizemos a duplicação da via de acesso que era dividida com pedestres,
bicicletas e carros. Reformamos os quiosques e a portaria. Colocamos novas
lixeiras, arrumamos as placas de trânsito. O orquidário estava um pouco
abandonado e arrumamos. Há novidades, alguns projetos estão acontecendo. Vamos
fazer licitação para construir um restaurante. Até o final do ano sai uma loja
de suvenires do Jardim Botânico porque é um lugar que as pessoas visitam e
querem levar alguma coisa. Uma emenda parlamentar vai permitir a construção de
um projeto de irrigação o que será ótimo porque os meninos que atuam nos
jardins vão para lá e para cá com o caminhão-pipa e não dão contam de atender
toda demanda, ainda mais com esse tempo seco do DF, que demanda grande
quantidade de água.
Como vocês trabalham a educação
ambiental? Uma de
nossas principais ações é o atendimento às escolas públicas e particulares, que
fazem o agendamento. As informações estão no nosso site. Também recebemos
pessoas ligadas às instituições filantrópicas, mas o grande público é o de
escola. Em média, são 15 mil alunos por ano, que fazem uso do espaço de
diversas formas. Elas são recepcionadas pela equipe de educação ambiental do
Jardim Botânico, que coloca a garotada em contato com a natureza, dão aula
sobre o meio ambiente, mostram as nascentes, falam da importância das fontes do
cerrado. O trabalho que fazemos de educação ambiental é nosso carro-chefe e
temos várias frentes voltadas ao tema. As visitas das escolas podem ser guiadas
ou não. Às vezes, a escola dispensa o acompanhamento do educador ambiental,
passeiam e conhecem o local por conta própria. Outra coisa bacana envolvendo a
educação ambiental é que eles estão ensinando as crianças a fazerem uma roça, a
trabalharem com agricultura em casa, ou seja, a terem o seu cantinho, sua
própria horta.
Quais são os projetos de
pesquisa? Desenvolvemos
vários tipos de pesquisas. Um deles é o de coleta de sementes e espécies da
flora dentro das áreas da Estação, isso porque temos uma base de semente, um
projeto de coleta desse material para alimentar nosso herbário e outros
herbários da cidade, permitindo as trocas dessas informações e das plantas.
Também desenvolvemos o projeto de monitoramento de fauna, com o uso de câmera
trap (equipamento típico para registros no meio ambiente) dentro da estação
ecológica. Outro dia a gente viu que nasceu um lobinho, o que é uma coisa muito
boa, porque mostra que há um equilíbrio lá dentro, que eles estão conseguindo
fazer a reprodução aqui. Outro trabalho de pesquisa envolve o monitoramento de
atropelamento da DF 001 (via que circunda a bacia do Rio Paranoá e passa pelo
Jardim Botânico). Fazemos o controle das espécies invasoras na Estação, aquelas
que precisam ser manipuladas, retiradas. Por fim, fazemos o monitoramento de
incêndio aqui com a nossa brigada.
E a preservação do meio ambiente? É uma semente que a gente planta
e que tem a ver com esse trabalho de educação ambiental que começa com as
crianças desde pequenas. Usamos muito as redes sociais para falar do assunto,
sempre postando informações que valorizam o espaço, falando da importância
desse lugar, qual é a missão dele, orientando as pessoas a respeitar o
ambiente. Fora isso tem as campanhas junto ao à Secretaria de Meio Ambiente
(Sema).
O que é exatamente a Escola Superior do
Cerrado? Trata-se
de um projeto que o governador quer muito que aconteça, mas ainda não está
implementada. Quando eu cheguei aqui houve a inauguração das salas de aulas.
Estamos correndo atrás de credenciamento, atrás de licença da seção ambiental,
do Corpo de Bombeiros. Estamos em negociação com a Funab – Fundação
Universidade Aberta do Distrito Federal (Funab), pois é ela que vai fornecer o
quadro de professores.
Quantas nascentes existem no Jardim
Botânico? Cerca de
25 nascentes. Elas são intermitentes, desaparecem e voltam. E temos aqui,
também, quatro captações da Caesb dentro de um acordo de captação de água. Como
contrapartida, a empresa pública nos fornece os veículos oficiais, nos ajuda
com pessoal na fiscalização do espaço. É um termo que vai acabar agora em
novembro e que quero renovar apostando em contrapartida mais substanciais para
a apostar em novos projetos. O que mais precisamos aqui é de cercamento do
espaço e acredito que a Caesb pode nos ajudar nisso. Temos problema aqui porque
a área da Estação não é permitida à visitação e há ciclistas que vão até lá,
pessoas que tomam banho nas cachoeiras, burlam a fiscalização e pulam a cerca.
E aqui temos nascentes que são intocáveis porque garantem o abastecimento dos
moradores da região do Lago Sul e Jardim Botânico.
Como funciona o projeto da Alameda das
Nações? É um
projeto que temos na Alameda das Nações. Basicamente entramos em contato com as
embaixadas que queiram participar dessa parceria nos cedendo um pedacinho do
seu país. A gente gostaria que nesse espaço tivesse espécies de cada país
especificamente. Mas, às vezes, isso não é possível devido à climatização.
Então, fazemos uma homenagem aos países que topam fazer parte do projeto usando
plantas nossas. Assim que entrei o jardim da Polônia estava em andamento. Temos
o jardim de Israel e agora estamos em conversa com a embaixada de Bangladesh. A
ideia é revitalizar essa área para que as pessoas possam andar dentro do jardim
e conhecer um pouco da cultura dos outros países.
Por Lúcio Flávio – Notibras