UnB:
pesquisador usa Twitter para identificar sinais de depressão. Tendo como base
informações públicas da plataforma, o estudante constatou que em 80% dos casos
analisados foi possível diferenciar os sinais. (Por Manoela Alcântara)
Pesquisa
de um estudante da Universidade de Brasília (UnB) mostrou ser possível identificar
sinais de depressão a partir das redes sociais. Tendo como base informações
públicas extraídas do Twitter, o bacharel em ciência da computação Otto von
Sperling diferenciou sinais em usuários com sintomas da doença e aqueles que
não apresentam indícios em 80% dos casos analisados.
“Comecei
a pesquisa motivado pelos casos de suicídio que via entre os colegas. Em cinco
anos, foram casos após casos. Quis desenvolver uma ferramenta para ajudar as
pessoas a identificarem a depressão e ajudar os profissionais com o
tratamento”, afirmou o autor da pesquisa ao Metrópoles.
Segundo
ele, existem diferenças nos sinais deixados nas redes sociais que são
correlacionados com mal em diversos estudos. O autor explica que a literatura
sobre modelos computadorizados que ajudam a detectar, analisar e entender
sinais de distúrbios de saúde mental nas mídias sociais têm prosperado desde os
anos 2000 na língua inglesa.
No
Brasil, essa área de pesquisa é promissora, com uma variedade de nichos a serem
explorados. No trabalho elaborado por von Sperling, foi construído um cenário a
partir de 2.941 usuários do Twitter. Entre eles, 1.486 depressivos e 1.455 sem
depressão. Diante dessas informações, foram induzidos modelos de inteligência
artificial para captar os sinais dentro do Twitter.
“Para
atingir nosso objetivo, extraímos sinais medindo o estilo linguístico, os
padrões comportamentais, os tweets e perfis públicos dos usuários. Os modelos
resultantes distinguem com sucesso entre o grupo positivo (depressivo) e de
controle (não-depressivo), com escores de desempenho comparáveis aos
resultados da literatura”, ressaltou o estudante.
A
expectativa dele é que a descoberta possa ser um trampolim para que mais
metodologias sejam aplicadas à serviço da saúde mental. “De forma alguma estou
afirmando que consigo diagnosticar depressão. Não tenho como verificar se o
auto-relato é verdadeiro ou não. A intenção é ajudar a compreender os sinais”,
diz.
Próximo
passo: Com o estudo, a ideia é que a pesquisa seja usada por psicólogos e
pelo governo para políticas públicas com caráter preventivo. Todos os dados
usados são de perfis e mensagens públicas. “Profissionais de psicologia, por
exemplo, podem ter uma visão mais completa do que o paciente precisa”,
ressaltou.
A pesquisa
foi baseada na extração de características propostas na literatura das áreas de
psicologia, psiquiatria e sociolinguística, que capturam alguns dos sinais
subjacentes do comportamento depressivo. Assim, foi possível ratificar
resultados da literatura estrangeira no Brasil, além de distinguir o grupo
depressivo do não-depressivo.
“Ao fazer
isso, demonstramos a utilidade das mídias sociais para detectar traços
relevantes de comportamento e estado de espírito dos usuários no Brasil. Como
trabalho futuro, propomos estender o conjunto de sinais extraídos dos dados de
mídias sociais para captar traços exclusivos dos brasileiros”, diz o estudante
na conclusão da pesquisa.
Depressão
e suicídio: De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS),
até 2020, a depressão será a doença mais incapacitante do mundo. Uma das
maiores causas do suicídio, o tema foi amplamente debatido durante o Setembro
Amarelo, uma campanha sobre a prevenção do suicídio. O Brasil é o país da
América Latina com a maior quantidade de pacientes diagnosticados, e 32
brasileiros tiram a própria vida por dia, o equivalente a uma pessoa a cada 45
minutos. No mundo, ocorre um suicídio a cada 40 segundos. Os números dão
dimensão da gravidade.
Segundo o
Informativo epidemiológico de violência autoprovocada no Distrito Federal, o
suicídio é considerado um problema de saúde pública. No período de 2013 a 2018,
foram notificados no Sinan/DF 19.388 casos de violências interpessoais ou
autoprovocadas na capital da República. Desse total, 3.816 (19,7%) foram
relativos à prática de lesão autoprovocada, sendo 2.691 (70,5%) em mulheres e
1.124 (29,5%) entre homens.
Segundo a
pesquisa, as notificações de tentativa de suicídio se concentram na faixa
etária de 20 a 39 anos em ambos os sexos. Além disso, a análise qualitativa dos
casos mostra que os suicídios estão relacionados a transtornos em 49% das
ocorrências em pessoas no sexo feminino e 18% do masculino.
Debate na
Secretaria de Segurança do DF: O tema desperta preocupação também nas forças
policiais do Distrito Federal. Por isso, nesta terça-feira (08/10/2019), a
Secretaria de Segurança Pública do DF, em parceria com o PNUD, promove o
Seminário Nacional de Prevenção ao Suicídio para Profissionais de Segurança
Pública.
O evento
será no auditório da Academia de Bombeiro Militar, no Setor Policial Sul, a
partir das 9 horas, e terá três mesas principais: o suicídio como desafio para
as políticas públicas institucionais; a vitimização dos profissionais de
segurança pública e avaliação de risco; e experiências exitosas de prevenção ao
suicídio.
A SSP/DF
e o PNUD escolheram debater o tema uma vez que a quantidade de suicídios entre
policiais civis e militares no Brasil cresceu nos últimos anos, totalizando 104
casos entre 2017 e 2018, de acordo 13º Anuário de Segurança Pública. O dado
significa que mais policiais foram vítimas de suicídio do que assassinados
durante o horário de trabalho neste período.
Por Manoela
Alcântara – Foto: Felipe Menezes - Metrópoles