As linhas do festival de
cinema. Secretário de Cultura e Economia Criativa do DF fala sobre o
evento, os projetos e as perspectivas para a área cinematográfica no DF
Em meio à realidade de
uma corrente de blockbusters, a cada semana, posicionados no circuito de
cinema; junto com uma turma de adoradores da sétima arte, o secretário de
Cultura do DF, Adão Cândido, celebra a mudança de curso, com a chegada do
Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na 52ª edição, a partir da próxima
sexta-feira. Por 10 dias, a capital vai respirar fotogramas.
“O Festival
reestabelece a visão brasileira, a nossa língua e o nosso olhar. Posso dizer
que os curadores foram bem felizes. Teremos documentários, questões de
identidade e de gênero estão em alta, há temas políticos”, explica Adão,
gaúcho, há 20 anos em Brasília.
Depois da injeção de
R$ 2,4 milhões, via governo local, no festival, a perspectiva é a de que outros
R$ 900 mil venham de novas fontes, a fim de complementar o evento, que ganha um
caráter algo internacional. “O filme de abertura, a coprodução O traidor, dá
sinal da nossa vontade de integração com a cadeia produtiva internacional, já
que se trata de uma coprodução de altíssimo nível, das que pretendemos ter na
cidade, futuramente”, comenta o secretário. Entre as novidades, o festival
conta com identidade gráfica que bebe da linguagem de Mauro Martins, “um ícone
do design na cidade”, trazendo elementos como cidade e a arquitetura. Outra
marca foi a adoção da Mostra Brasília pelo BRB. Sem prejuízos, a Câmara
Legislativa ainda promete formatar outro evento para a produção local
Qual é o seu gosto particular de
filmes? Gosto do cinema mais cultural e
nacional. Em Porto Alegre, sempre frequentei muito a Casa de Cultura Mário
Quintana, um centro cultural com política de ter ingressos acessíveis. Lá,
trazem muitas mostras: foi isso que formou meu gosto e a que me trouxe a visão
ampla pelo cinema francês, pelas realizações europeias e pelo apreço junto ao
cinema asiático. Isso, aliás, faz diálogo com nossa realidade, de formação de
público.
Que metas renovam o
Festival? Queremos que o festival seja uma
política pública, e não apenas um evento. Pretendemos apostar num projeto de
desenvolvimento, ao longo do tempo: a marca do festival pode atravessar
iniciativas que temos relativas à formação de público e de mão de obra para
cinema. Queremos estruturar parte do festival, na combinação de mostras de
cinema internacional que o corram no Cine Brasília. Temos a peculiaridade ainda
das embaixadas que têm interesse de mostrar filmes deles no cinema. Assim se
forma a integração com linguagens diferenciadas. Ao longo do ano, ofereceremos
atividades que culminem com um grande festival.
Quais as regiões administrativas
que estarão alinhadas ao Cine Brasília? A mostra competitiva do Festival estará em Samambaia, em Planaltina e no
Recanto das Emas. Nós teremos em várias outras cidades as atividades formativas
de cinema. Levamos a experiência do Festival para determinada região
administrativa e isso reflete na diminuição de carga para o Cine Brasília, já
que há um limite de 600 lugares. A experiência não pode ser sobrecarregada.
Qual diferencial do evento para
2019? Há sempre a expectativa do debate
político. Para o Ambiente de Mercado — um dos segmentos importantes do evento —
chamamos o Governo Federal e um conjunto de players de mercado com
representação de 11 novos participantes. São nomes como Netflix, Discovery e
Amazon, e estamos atraindo o mundo das plataformas para formularmos o debate.
Haverá abertura de oportunidades para a produção local. Isso é uma nova
realidade com a qual os profissionais precisam ter contato. Como as plataformas
de streaming e produtos audiovisuais pretendem agir no Brasil? Como os
produtores podem interagir? No universo das plataformas de distribuição do
audiovisual que vivenciamos, o que está em jogo não é apenas cota, mas criação
de produtos de qualidade. Em debate, estará também o estabelecimento de
porcentagem mínima de programação nacional nas plataformas. Não é simplesmente
um festival de estrelas. Celebramos, mas refletimos.
Como anda a estruturação do
audiovisual e dos projetos no DF? Neste
ano, recepcionamos o edital feito ao final de 2018. Ele contava ainda com os
arranjos regionais da Ancine (Agência Nacional do Cinema). Eram R$ 12 milhões
do FAC (Fundo de Apoio à Cultura) e mais R$ 14 milhões da Ancine — daí o valor
de quase R$ 27 milhões. É um edital que já andou, e está sendo pago. Para 2020,
há a indefinição de quais serão as políticas da Ancine. Não há clareza da
manutenção dos arranjos regionais. Não podermos esperar as ações deles. O edital
futuro será debatido na mesa do festival. Estivemos em Los Angeles e
apresentamos nosso Festival de Cinema e ainda apresentamos nosso conceito do
futuro Polo de Cinema. Com o novo edital, e as experiências nos painéis
internacionais, determinamos a pretensão de elevar o nível dos profissionais da
cadeia produtiva. Temos, em Brasília, um cenário maravilhoso, um período de
seca muito bem determinado, que é fundamental para o cronograma de filmagens, a
luminosidade é perfeita. Mas, produtores estrangeiros não vêm apenas por causa
disso. Precisamos, para sermos mais competitivos, de mais estrutura, base
técnica e mão de obra.
Como está o andamento da
implantação do futuro Polo de Cinema? Entramos com projeto junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
por ser área tombada. O primeiro projeto foi rejeitado. Estamos reapresentando
o material, numa nova versão, que deverá avançar, depois de muitas reuniões de
ajustes. Há variáveis que não controlamos. Mas, temos tido respostas positivas
de investidores. Passada a parte burocrática, a gente consegue lançar isso em
2020. Vamos erguer o Polo, por partes: uma área para estúdios públicos (com
material trazido do Polo de Sobradinho), outra destinada à cinemateca (para a
guarda do acervo de filmes) e uma para incubadora para recepcionar e moldar
starups do segmento audiovisual.
Ricardo Daehn - Foto: Emanuelle
Sena/Divulgação - Correio Braziliense
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CULTURA