Risco e falta de fiscalização. A ausência de regulamentação de veículos
compartilhados, como patinetes elétricos e bicicletas, pode comprometer a
segurança do brasiliense. Projeto que define regras está em tramitação na
Câmara Legislativa
*Por Walder Galvão
Marcelo Roseira usa bicicletas compartilhadas para chegar ao trabalho no
Setor de Embaixadas Norte
Há seis anos, meios de locomoção compartilhados começaram a fazer parte
do cenário do Distrito Federal. Hoje, dezenas de bicicletas e patinetes
elétricos ficam à disposição dos usuários nas ruas do Plano Piloto e de Águas
Claras. Entretanto, a falta de regulamentação e fiscalização para o uso desse
tipo de transporte traz risco aos condutores e pedestres. A exposição aos
acidentes e a falta de equipamentos de segurança, segundo especialistas,
precisam estar na pauta do Executivo.
No caso das bicicletas, o usuário pode contar com o Código de Trânsito
Brasileiro (CTB). As normas estabelecem que os equipamentos devem ter buzina,
espelho, sinalização. Entretanto, não exigem que o ciclista use capacete. Não
há regras para o uso do patinete elétrico. As empresas que alugam esse tipo de
equipamento apenas divulgam dicas de segurança para os clientes, como idade
mínima de 18 anos para locação e outras recomendações (veja Prevenção).
Em junho, o Governo do Distrito Federal (GDF) encaminhou à Câmara
Legislativa um projeto que insere os patinetes na lei que delimita a política
de mobilidade urbana cicloviária da capital. A ideia é criar diretrizes para o
uso deles, como a exigência de equipamentos de segurança. A proposta tramita
nas Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e de Transporte e
Mobilidade Urbana (CTMU) e nem sequer chegou a Plenário.
Especialista em engenharia de transporte da Universidade de Brasília
(UnB), Pastor Willy Gonzales Taco explica que, além de estabelecer as regras de
segurança e fiscalização, o governo precisa promover campanhas educativas sobre
esse tipo de transporte. “Quando você tira habilitação, o Detran debate sobre
conscientização. Alguém precisa dar ajuda para as pessoas saberem o que
significa usar essa tecnologia. Tudo isso partindo de um ponto de vista
educativo e preventivo”, destaca.
De acordo com o estudioso, os usuários devem compreender que,
principalmente, os patinetes elétricos não são brinquedos. “Agora, você tem
esses veículos entrando no espaço comum das pessoas, públicos. É necessário ter
a consciência de que estão se deslocando junto a outras pessoas, veículos e
ciclistas”, afirma. Ele alerta que é preciso definir uma série de critérios
pessoais antes de começar a circular.
“O usuário precisa ter uma percepção de risco e saber se vai conseguir
dominar todas situações, como uma batida ou um desvio. Além disso, é necessário
que se tenha um plano de trajeto e não improvisar, porque isso gera
imprevistos”, aconselha. Questões como clima, iluminação, conhecimento sobre as
condições das vias e do fluxo de veículos também devem ser observadas, segundo
o especialista.
Pedro Barbosa e Alessandra Ferraz defendem uso de equipamento de
segurança apenas em locais urbanos
Apenas orientações: Em maio deste ano, o Departamento de Trânsito (Detran), em conjunto com
o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a Polícia Militar, elaborou uma
cartilha de orientação para os usuários de patinetes. Porém, para o diretor de
policiamento e fiscalização de trânsito do Detran, Francisco Saraiva, a falta
de regulamentação deixa os agentes de mãos atadas na tratativa desse tipo de
transporte.
“No caso dos patinetes, não temos muito o que fazer. A partir do momento
em que criarem uma lei específica, o Detran vai saber qual é o papel dele”,
ressalta. De acordo com Francisco, atualmente, o órgão consegue apenas passar
orientações ao usuário, como fez com a cartilha. O material recomenda o uso de
capacete e que o usuário evite circular em vias públicas e respeite o espaço de
pedestres.
No caso das bicicletas, apesar de existirem normas para o uso, Saraiva
afirma que ainda faltam orientação e campanhas de educação para os motoristas.
Ele acredita que o tipo de ocorrência desse segmento tende a crescer no Distrito
Federal. “Brasília é a segunda cidade do país com maior número de ciclovias.
Temos a fiscalização, porém, não temos algo específico. Nossas ações acontecem
mais no sentido de verificar as ocorrências”, esclarece.
Uso: Enquanto os trâmites de fiscalização e regulamentação são debatidos, a
população adere cada vez mais a esses transportes compartilhados. As empresas
que fornecem os veículos aos brasilienses funcionam por meio de aplicativo de
celular e cobram taxas pelo uso.
O auxiliar de manutenção: Marcelo Roseira Araújo, 25 anos, usa as
bicicletas compartilhadas para chegar ao trabalho. Morador de Luziânia (GO),
ele desembarca diariamente na Rodoviária do Plano Piloto e opta por usar esse
tipo de transporte para chegar ao trabalho, no Setor de Embaixadas Norte. “Nem
sempre há ônibus disponível. Quando vejo que vai demorar a passar, pego a
bicicleta e vou direto. No caminho de volta, faço a mesma coisa”, ressalta.
Marcelo não anda com equipamentos de segurança, mas reconhece a
necessidade: “O correto é que a gente use para prevenir acidentes graves.
Acredito que, se tivesse mais fiscalização, as pessoas teriam mais atenção
quanto a isso”, destaca. De acordo com ele, o serviço ajuda muito e o ideal é
que seja incentivado. “Precisamos de melhoria e concorrência. Com isso,
vai melhorar ainda mais”, diz.
Há quem use os transportes compartilhados por lazer. O bancário Pedro
Barbosa Moris, 42, saiu com a namorada, a autônoma Alessandra Ferraz Peixoto
Tavares, 30, para experimentar os patinetes elétricos no Parque da Cidade.
“Sempre via muita gente usando e tive a curiosidade. Baixamos o aplicativo e
fomos usar. Vi que, na verdade, é uma alternativa muito interessante”, afirma
Pedro.
O casal considera que o uso de equipamento de segurança é importante,
porém, não precisa ser exigido para quem usa o dispositivo em áreas de
diversão, como o Parque. “É importante para quem usa no trânsito, mas esse
espaço é feito para isso”, diz Alessandra.
Para saber mais: Exemplo paulista: Em outras
unidades da Federação, os patinetes elétricos passaram por regulamentação. Em
São Paulo, ficou estabelecido o uso obrigatório de capacete. Além disso, a
norma proíbe circulação desses veículos nas calçadas. Eles podem andar apenas
nas ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas ou em ruas com limite de velocidade de
até 40 km/h. O condutor que desrespeitar a legislação poderá responder civil,
penal e administrativamente. Quem descumprir as regras também pode pagar multa
que varia de R$ 100 e R$ 20 mil.
Prevenção: » Andar apenas em locais adequados, como ciclovias e ciclofaixas; » Mesmo não sendo obrigatório, usar equipamento de proteção individual como capacetes, luvas, joelheiras e cotoveleiras » Crianças devem usar os equipamentos apenas com supervisão de um adulto; » Não andar com patinete em velocidades superiores a 20 km/h; » Manter distância dos pedestres; » Caso consuma álcool, não usar os veículos.
(*) Por Walder Galvão - Fotos: Ed Alves/CB/ D.A.Press - Correio Braziliense
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