Projeto de Niemeyer abre debate. Construção do Museu da Bíblia, a partir
de desenhos do arquiteto, leva a questionamentos contra execuções de obras de
autores falecidos. Entidades de arquitetura e urbanismo do Distrito Federal
desaprovam iniciativa. (Lote no Eixo Monumental, próximo à Catedral Rainha
do Paz, está destinado para a nova obra)
*Por Agatha Gonzaga
Um grupo composto por oito entidades de arquitetura e urbanismo do
Distrito Federal publicou uma nota de preocupação com a construção do Museu da
Bíblia. Para as entidades, a execução da obra sem um debate democrático sobre a
necessidade e conveniência fere os princípios de Brasília como Patrimônio
Cultural da Humanidade. Para o colegiado, o projeto de Oscar Niemeyer não pode
ser desenvolvido por outro profissional. “Reconhecemos, sem qualquer dúvida,
que o gênio criativo de Oscar Niemeyer é central na construção de Brasília e em
sua valoração como obra universal. Acredita-se, no entanto, que a autoria se
estende por todas as etapas do processo de projeto e construção de um bem. (…)
Estas entidades recomendam que croquis, estudos preliminares, anteprojetos etc.
de autores falecidos, conquanto sejam valiosos registros de sua inventividade,
não sejam desenvolvidos e levados à execução por terceiros”, defende a nota.
O documento é assinado por representantes do Conselho de Arquitetura e
Urbanismo do DF (CAU/DF), do Sindicato dos Arquitetos do DF (Arquitetos/DF), do
Instituto dos Arquitetos do Brasil — Departamento Distrito Federal (IAB/DF), da
Associação dos Escritórios de Arquitetura (AeArq), da Associação Brasileira de
Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea), da Associação Brasileira de
Arquitetos Paisagistas (Abap/DF) e da Federação Nacional dos Estudantes de
Arquitetura e Urbanismo — Departamento Distrito Federal (Fenea).
Nele, as entidades reforçam que não há descontentamento com a escolha do
rascunho de Niemeyer. “Se um pintor morre e deixa um rabisco de uma obra, outro
pintor vem e desenvolve aquele rabisco em uma tela, a autoria é de quem? A
gente tem de acabar com essa ideia de que Oscar Niemeyer vive e seus projetos
ainda podem ser executados. Ele deixou uma ideia do que pensava para o Museu da
Bíblia, sim, mas isso não é um projeto. Projeto precisa de lançamento
estrutural, de fachada, de toda uma compactabilidade”, avalia o presidente do
CAU/DF, Daniel Mangabeira.
Plano de preservação: A construção do projeto de Oscar
Niemeyer, desenhado nos anos 1990, foi anunciada pelo GDF no início de outubro.
A previsão é de que o Museu da Bíblia seja entregue até 2022, ao custo de R$ 63
milhões, pagos com verba de emendas parlamentares. O monumento deve ser erguido
no Eixo Monumental, na altura do Cruzeiro. O espaço cultural prevê cinema,
praça de alimentação, teatro, biblioteca, estacionamento interno e salas para
palestras e exposições.
À época da assinatura da Carta de Intenções e Compromissos, o governo
sinalizou que, antes de iniciar as obras, aguardaria avaliação do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para encaminhar o projeto ao
Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do DF (Conplan).
Em nota, o Executivo local informou que contratou o detalhamento do
projeto com o escritório do próprio arquiteto. E acrescentou que a construção
não ferirá o que é proposto no plano de preservação do Eixo Monumental. “A
criação do lote toma como base as diretrizes da Portaria nº166, de 2016, do
Iphan).” O artigo 28 detalha que, nesses casos, “não poderão ultrapassar 10% de
ocupação do trecho do canteiro central do Eixo Monumental, que compõem esta
área de preservação, excluídas as vias adjacentes”.
(Croqui do Museu)
(*) Agatha Gonzaga – Foto: Breno Fortes/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
(Croqui do Museu)
(*) Agatha Gonzaga – Foto: Breno Fortes/CB/D.A.Press – Correio Braziliense