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Entrevista: Luís Felipe Belmonte » Um partido conservador em fase final de criação


Um partido conservador em fase final de criação. Suplente de senador, o advogado é o terceiro na hierarquia do novo partido de Bolsonaro, atrás apenas do presidente e de seu primogênito, Flávio Bolsonaro. Com discurso afinado com o Planalto, diz que combate "cartilha de Lenin"e defende valores cristãos
"O meu interesse financeiro na política é zero. Não quero nenhum centavo. Tenho minhas atividades empresariais

O advogado Luís Felipe Belmonte é um dos nomes fortes do novo partido do presidente Jair Bolsonaro, o Aliança pelo Brasil. O político do DF participa da gestação da legenda, que precisa ser oficializada, e ganhou lugar de destaque no cenário nacional nos últimos dias. Depois de passar mais de 8 anos e meio na Inglaterra, Belmonte voltou ao Brasil recentemente e se lançou direto na política com ascensão rápida ao centro do poder.

Com patrimônio declarado nas eleições do ano passado em R$ 65 milhões, ele disputou o pleito como suplente de Izalci Lucas (PSDB), que se elegeu ao Senado. A mulher dele, Paula Belmonte (Cidadania-DF), também foi candidata e conquistou uma vaga na Câmara.

Em entrevista ao Correio, ele diz que entrou na política também porque sentia ter uma dívida social com o Brasil e pela vontade de realizar um trabalho a favor das crianças. “Talvez o bom senso recomendasse que deveria cuidar da minha vida. O meu interesse financeiro na política é zero. Não quero nenhum centavo”, disse.

Cotado para dirigir a nova sigla no DF, Belmonte se mostra alinhado com Bolsonaro nos valores professados pelo presidente.  A defesa da família, dos valores cristãos e a luta contra ideais, segundo ele, do Foro de São Paulo, são prioridade. “Têm determinados princípios e conceitos, chamados judaico-cristãos, que nós honramos e achamos que devem ser respeitados. Afinal, se respeitamos as opções de outras pessoas, elas devem respeitar as nossas”, afirma.

O senhor morou na Inglaterra por muito tempo. O que o fez voltar? Tinha nascido nosso quinto filho e queríamos trazê-los para cá, para ter contato com a cultura brasileira. A segunda razão é que estávamos muito empolgados em  criar um instituto para cuidar de crianças, fazer um trabalho social e tirar meninos da rua. Além disso, víamos um vento novo de defesa da família e da moralidade. Havia um sentimento de patriotismo. Nós tínhamos uma dívida social com o Brasil.

E por que já entrar na política? Quando olhamos a situação dessas crianças em locais como o Sol Nascente, vimos que o problema era muito mais grave. Entendemos que o meio da política seria o mais eficaz para tentar resolver as questões. Qualquer outro meio seria paliativo.

Na última eleição, o senhor deu apoio financeiro (R$ 3,9 milhões) para mais de 30 candidatos, qual foi o critério e a motivação? A convicção de que não se faz nada sozinho. É preciso formar um grupo. Nós nunca tínhamos tido uma atividade eleitoral. A primeira coisa a se fazer era formar um grupo e começarmos a fazer contatos. Uma das condições era de que não apoiaríamos quem tivesse mandato. Fizemos um sistema de entrevista para entender o que as motivava. Não busco a nova política, mas a política de raiz, da Grécia, que era cuidar da polis, da cidade. Assim, selecionamos pessoas que acreditávamos estar imbuídas desses mesmos ideais.

Pensando como empresário, dedicar-se à política atrapalha os negócios? Se fosse meramente pela situação que vivo hoje, não teria qualquer motivação ou vontade de entrar na política. Tenho minha vida profissional bem resolvida. Temos o suficiente para uma vida bem confortável. Tudo indicava que eu devesse me dedicar à família e às minhas atividades. Talvez o bom senso recomendasse que deveria cuidar da minha vida. O meu interesse financeiro na política é zero. Tenho minhas atividades empresariais. Acho  importante um conceito de Margaret Thatcher de que o dinheiro é público e deve ser muito bem usado, com transparência.

Quando alguém com patrimônio entra na política, há  o receio de que o dinheiro possa influenciar o resultado ou a chance de abuso do poder econômico. O senhor não teme ser visto assim? Não. Primeiro porque não tenho tanto dinheiro quanto as pessoas acham que tenho. Apenas o suficiente para viver bem. Na eleição, todos os valores que usei foram dentro dos limites legais. Qualquer pessoa que tivesse disponibilidade entraria em igualdade comigo. Claro que a pessoa com mais recursos tem mais facilidade, mas, por isso mesmo, a Justiça estabeleceu os limites.

Como o senhor tem acompanhado o trabalho da sua mulher, a deputada federal Paula Belmonte? Estou tendo que dividir o tempo com a dedicação dela à sociedade. O tempo que temos para lazer e filhos e fazer coisas que a gente quer é menor, mas é em prol de uma causa nobre. A Paula é uma pessoa sincera, leal e que tem um compromisso efetivo com a palavra dela. Ela não precisa prometer nada porque realmente se empenha. É da natureza dela. E ela tem tido resultados extraordinários, uma participação muito elogiada na CPI do BNDES, com resultados concretos, o que é raro numa CPI. Ela conquistou uma harmonia muito grande com os colegas de parlamento. Recebeu alguns reconhecimentos, como ter sido eleita a melhor parlamentar do DF. 

Como se deu a aproximação do senhor com Bolsonaro? Por intermédio de uma amiga, fui apresentado à Karina Kufa, advogada do presidente. Nas primeiras conversas, tivemos muita afinidade, porque temos as mesmas propostas, as mesmas formas de agir. Quando surgiu a crise do PSL, ela comentou que o presidente estava desconfortável porque queria a auditoria nas contas. Ele achava importante saber quem fez o quê e quem era responsável. Nesse tempo, também chegou o Admar Gonzaga, ex-ministro do TSE, e nós começamos a pensar em soluções para aquela situação partidária. Entendemos que o melhor seria que ele criasse um partido.  Verificamos que faltava uma sigla de natureza conservadora, que preservasse os valores de família, da tradição cristã. 

O senhor falou sobre valores do presidente. Compartilha os mesmos que ele? Compartilho dos valores cristãos, de honestidade, de defesa da família. Também sou a favor da oportunidade de que as crianças possam ser crianças e defendo o combate à ideologia de gênero. Até porque isso é um problema que afeta 0,01% das crianças, não é justo botar na cabeça das outras um problema que elas não têm. Também compartilho o combate às práticas do Foro de São Paulo e da cartilha de Lenin.

Mas não há algo que o senhor não concorde. A questão do armamento, por exemplo... Nunca usei, não uso e não pretendo usarem armas, mas sou absolutamente contra proibir as pessoas de usar. Eu tenho uma fazenda. Ela foi assaltada por pessoas fortemente armadas e nós não tínhamos como nos defender. Elas chegaram com a certeza de que todo mundo estava desarmado. No mínimo, o bandido deve ter dúvida. A questão do desarmamento foi discutida em 2005 e, de 2006 para frente, o índice de criminalidade aumentou muito. Quando você vai à cartilha de Lenin, está lá: “Desarme o povo. Assim, ele não reagirá quando a revolução for implantada”. Então, é claro que nós temos de combater esse tipo de preceito.

O senhor fala em Foro de São Paulo e da cartilha de Lenin. Acredita que existem mesmo no Brasil pessoas imbuídas em colocar esses ideais em prática? Isso foi aplicado no Brasil há  14 anos rigorosamente. As atas do Foro de São Paulo estão disponíveis. Isso é uma coisa clara. Começaram a esconder recentemente porque a coisa começou a ficar visível. Envolvia inclusive o controle dos meios de comunicação.  Talvez, se tivessem tido êxito, você não estaria nem libertos para me entrevistar. Não é uma questão se acredito. Apenas constatei a aplicação, a tentativa de aplicação disso em diversos setores. “Dê liberdade sexual à juventude, destrua seus valores morais”. Era o que estava sendo feito. E ainda tinha o nome de arte. Não concordamos com isso. Têm determinados princípios e conceitos, chamados judaico-cristãos, que nós honramos e achamos que devem ser respeitados.

Como o senhor avalia o governo Bolsonaro até agora? Extraordinário. Não vou dizer que tudo seja perfeito porque seria exigir demais de um ser humano. Ele tem uma visão, um objetivo muito claro. Tem um senso estratégico bem definido, um planejamento bem-feito e uma execução de qualidade. Tivemos uma redução da taxa Selic que vai a 4,5% em dezembro com a previsão de chegar a 4. Isso significa que o capital especulativo passou a ser capital produtivo. Isso significa geração de emprego e possibilita acesso ao crédito para o consumidor. A inflação está sob controle. Houve uma redução fortíssima dos índices de criminalidade. O trabalho do ministro (da Justiça) Sergio Moro é extraordinário, à altura do que ele fez antes. O ministro Tarcísio (Gomes de Freitas), na infraestrutura, está fazendo um trabalho extraordinário. Há 30 mil obras no Brasil e, só este ano, foram 126 concluídas, por um único motivo: porque não teve roubalheira. O presidente conseguiu aprovar a Reforma da Previdência, ninguém fazia e ele conseguiu. Tenho falado que o problema do Brasil não é tanto desmatamento, mas o “desmamento”, porque muita gente se valia de benefícios do Estado e o governo está tratando essas pessoas de forma republicana. Estou confiante de que o ano que vem será de grande progresso, porque o governo estará trabalhando com o orçamento produzido por ele.

Quais os planos para o partido no DF? Primeiro, vamos criar comissões provisórias em cada estado porque hoje o partido precisa da coleta de assinaturas e isso demanda um certo trabalho braçal. Tem de se ter muita cautela, com pessoas de confiança para evitar boicotes. Haverá, então, primeiro um presidente dessa comissão provisória e, só depois do registro, o presidente do partido de fato. No DF, temos lideranças como a deputada Bia Kicis. Há algumas outras pessoas que querem participar desse trabalho. Então, debateremos quem assumirá a presidência de forma harmônica.

Como está a relação com o senador Izalci Lucas (PSDB), de quem o senhor é suplente? É uma relação excelente. Uma pessoa que admiro muito. Grande trabalhador. Pessoa muito preparada e que tem muito a ensinar na política. Ele me acolheu no PSDB. Saí porque precisava participar da criação do novo partido, precisava não estar filiado a nenhum outro. Isso foi conversado com ele, com respeito.

Há a possibilidade de acordo para que o senhor assuma o Senado? Isso é uma consequência natural, mas não é algo que tenho como ansiedade.

O que o senhor acha do desempenho do governador Ibaneis Rocha? Eu lhe confesso que não tenho acompanhado tanto. Até porque me envolvi com o Congresso, com a Paula e outros amigos. A percepção que tenho é que ele montou uma equipe de alta qualidade. São pessoas que demonstram muita capacidade. Isso, para a cidade, é muito bom. É um acerto por parte dele. Há alguns reclames da sociedade com relação a metas que não foram ainda atingidas, uma deficiência no aspecto da saúde bastante gritante. Sei que não há possibilidade de, num curto tempo, solucionar tudo. Também enxergo a necessidade de alguns ajustes na área de educação. Mas sou entusiasta da militarização das escolas, porque precisamos garantir segurança, disciplina, respeito aos professores e aos alunos. O transporte público também não está no patamar que se pretende. Faço uma avaliação boa, apesar dessas questões e de algumas divergências pontuais.

Quais divergências? Sou liberal, a favor do estado mínimo, mas discordo de algumas privatizações, como a da Caesb. Isso precisa ser pensado. É uma área muito estratégica, com muitas restrições. Na campanha, também vi muito a situação dos profissionais da segurança, policiais militares, civis e bombeiros. Vi a realidade deles e pessoas com necessidades gravíssimas. Essas pessoas precisam ter tranquilidade porque cuidam de uma área nevrálgica. Queria muito que o governador desse uma atenção muito especial.

Por Alexandre de Paula - Correio Braziliense


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