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Todos somos biógrafos de Brasília


Foto: Chiquinho Dornas, desde  1959 na Capital, com Carlos Magalhães, Oscar Niemeyer.

Todos somos biógrafos de Brasília

*Por Ana Dubeux 

Quando você chegou por aqui? Sou de uma época em que a pessoa usava essa frase como ponto de partida para uma conversa. A maioria havia chegado de algum lugar e o tempo de casa era uma espécie de credencial para excelentes histórias. O pioneirismo era e, para mim, continua sendo uma fascinante vantagem, que nos faz viajar pelo tempo e imaginar Brasília pouco a pouco sendo construída e reconstruída. A cada década, os nomes dos restaurantes na ponta da língua, as quadras que iam crescendo, as cidades ao redor surgindo...

Às vésperas de completar 60 anos, Brasília é um grande portal de histórias, contadas por sua gente e por muitos arquivos privados e públicos. Temos o privilégio, aqui no Correio, de ter um dos mais valiosos acervos sobre a capital criada por Juscelino Kubitschek. Ter nascido no mesmo dia reforça a responsabilidade de ser uma espécie de guardião de causos, contos, nomes e trajetórias. Somos e fomos testemunhas de muitos “tempos” de Brasília. E nos sentimos ainda na obrigação de levar toda essa narrativa ao público leitor, qualquer que seja o meio.

Uma das séries especiais do Correio em comemoração ao aniversário da capital, já em curso, conta a história dos monumentos e seus criadores. Cada pedacinho de arte plantado por aqui tem forte vínculo com o que a cidade se tornou: uma referência de arquitetura moderna, entre outras características singulares. Os monumentos são parte de nossa identidade e apresentam Brasília ao mundo. Estão nas nossas fotos e memórias de todas as épocas.

Estão também na biografia de seus habitantes, como a de José Carneiro, 70 anos, 50 deles de trabalho no Palácio do Planalto, um de nossos entrevistados. Entre as famosas colunas sinuosas de Oscar Niemeyer, José acumulou vasto repertório de histórias sobre o maior símbolo de poder do Brasil. O testemunho de pessoas como ele, que, durante o golpe militar, teve de dormir em um banco do Palácio, faz parte agora da nossa coleção de achados sobre a cidade que nos abriga.

Eu já tenho mais tempo de vida em Brasília do que em Recife, onde nasci. Com filhos e neta brasilienses, já guardo um baú de memórias afetivas que não contam só a trajetória da minha família em solo candango. Narram uma cidade em movimento. Fotos já amareladas, páginas de jornal destacadas, fitas cassetes guardadas... Você também deve ter muita coisa em sua caixinha de afetos. Manda para cá também.

Cada um de nós é um biógrafo de Brasília. Trabalhar em um lugar que permite e favorece esse compartilhamento de informações, a disseminação de farto conteúdo histórico e a guarda de um arquivo tão importante para a cidade é, para mim, um privilégio. O Correio  é, antes de tudo e acima de tudo, um depositário fiel dos 60 anos da capital do Brasil.

(*) Ana Dubeux - Editora-Chefe do Correio Braziliense - Fotos/Ilustração: Blog- Google 








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