*Victor Dornas
Conforme relatei no meu
artigo sobre Lockdown, a Economia não suporta uma interrupção. E não é por
meses como alguns estão divulgando. Basta algumas semanas para um colapso em
muitos setores. O regime de clausura imposto pelo governo não foi um ato
medido, pensado. A curva de contágio deste tipo de vírus SARS se alastra em
hiatos, então como houve um controle no país mais populoso do mundo e origem da
doença, imaginou-se que fazendo o mesmo aqui a situação seria controlada
também.
Não houve tempo para
uma projeção não apenas da curva de contágio, mas das particularidades de cada
país diante da interrupção, ou deste apagão na economia. Na coletiva da semana
passada, Trump disse o seguinte: “Nós somos a maior economia do
planeta, então nós podemos nos recuperar.” Trata-se não apenas de uma
frase populista e sim de risco medido. Mas ninguém disse que uma economia
retraída como a do Brasil também suportaria uma interrupção desse nível. Então
por isso que afirmei aqui em meu artigo sobre Lockdown que o mesmo governo que
suplica para as pessoas ficarem em casa será aquele que em breve suplicará para
que voltemos ao cotidiano normal, a despeito de haver ou não uma vacina.
Havendo uma vacina, tudo bem. Caso contrário, se preparem para a convulsão.
Uma demonstração de que
o governo brasileiro está completamente perdido foi a recente edição de uma
medida provisória que de forma peremptória imporia cláusula de força maior em
contratos trabalhistas para que o empregador pudesse converter o salário numa
espécie de remuneração parcial por licença de capacitação. Ou seja, ao invés de
arcar com o salário integral, o empregador dividiria o ônus com a classe
produtiva. Veja bem, mesmo que estejamos diante de uma pandemia, a invasão desmedida
do governo em milhões de contratos de trabalho já seria uma anomalia destrutiva
na cadeia produtiva, mas neste caso específico existe o problema da classe
trabalhadora brasileira em boa parte já operar em regime de remuneração
mínima.
Se uma família que
depende de quase nada tiver sua renda precarizada, acabou. Ainda que a medida
tenha como respaldo a emissão de um seguro desemprego, o aporte devido a algo
assim deveria ser muito maior. Essa anomalia deveria contar com o afrouxamento de
super salários custeados em grandes cargos por exemplo, fato que demandaria
participação do congresso e o tempo que o governo não tem. Agindo por impulso,
sem planejamento, o resultado foi o constrangimento de um presidente da
república que veta o artigo que ele mesmo fez, em sua medida provisória. Teve
que voltar atrás pois pecou não apenas na publicidade da questão, como
apoiadores do governo estão dizendo. Mas pecou na definição do aporte, uma vez
que algo assim dependeria de uma sincronia com o legislativo num momento onde
os poderes se repelem politicamente.
Além de tudo isso,
governadores decidiram afrontar o presidente da república. Ainda que exista um
interesse político de adversários que logicamente desejam depor um presidente
que não tem respaldo em seu próprio partido, não se vê por parte dele nenhum
movimento conciliatório. Em momentos de negociação extrema como este, muitas
vezes o chefe de estado deve lembra-se de conter seus personalismos, vestir a indumentária do
cargo e agir da forma impessoal que é melhor para o país. Então o presidente
deve entender que numa guerra como esta, os seus aliados não são os soldados
retratados em filmes de guerra que devotam sentimentos de lealdade uns pelos
outros.
Os aliados numa guerra
política são muitas vezes antipáticos ao líder, mas dispostos por possuírem um
interesse em comum. Não é hora para acirrar uma guerra institucional com vistas
às eleições. Não adianta tentar focar um possível fracasso de contenção
virótica em estratégias de delegação de responsabilidade pois o estrago
político causado pelo vírus arrasará tudo. Na parte do eleitorado, pessoas que
tiverem uma condição financeira mais abastada aderirão à fala presidencial de
que há motim generalizado contra sua pessoa. motim do legislativo, motim
midiátio, motim de governadores. Mas aqueles que experimentarão mais cedo e com
mais intensidade os efeitos avassaladores do Lockdown, ou seja, a maioria, não
aceitará pacificamente assistir as instituições agindo assim sem ter como
prover seu sustento ou sua dignidade.
Bolsonaro é pintado
como um bobo da corte pela imprensa que, em sua maioria, mesmo quando o ataca,
poupa figuras ministeriais de conduta não apenas ilibada, mas de confiança
inconteste. Tarcísio de Freitas, Luiz Henrique Mandetta, Paulo Guedes, Sérgio
Moro e o próprio corpo de militares que integra o governo tem por parte da
mídia uma confiança diferenciada em relação àquele que os colocou lá. Isso a
meu ver é bastante positivo pois significa que o governo opera descentralizado.
Muito pior seria um presidente aclamado por todos na mídia, assessorado por
ministros incompetentes ou corruptos. A questão é que o posto presidencial não
é uma figura meramente decorativa ou diplomática.
Bolsonaro não é um rei
e sim um executor. A canetada diária do presidente depende da percepção dele
próprio e não de seus ministros. No momento da pandemia, entretanto, a figura
presidencial assume mais um papel diplomático, daquele que se dirige ao seu
país para tranquiliza-lo e neste momento sim, seus ministros, principalmente o
da Saúde é que devem aparecer mais. Bolsonaro, entretanto, protagoniza os
embates pois, ao que parece, ele gosta de estar sempre em cena, mesmo quando
deve se conter. A sua canetada nessa medida provisória foi desastrosa e agora
testemunhamos um bate-boca diário entre ele, governadores e deputados. Ofensas
de parte a parte, ao vivo, em meio à uma pandemia.
Nessas alturas do texto
você deve estar pensando que o presidente é o bobo da história em face do
exposto. Mas não se engane meu caro leitor, o bobo é o povo. Eu e você.
(*) Victor Dornas – Colunista do Blog do Chiquinho
Dornas – Foto/Ilustração: Blog-Google