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CED 06 de Ceilândia conjuga o verbo educar

CED 06 de Ceilândia conjuga o verbo educar

*Por » Vânia Rego 

Pasmem! O Centro Educacional 06 de Ceilândia aprovou 79,6% dos seus alunos do terceiro ano do ensino médio na Universidade de Brasília (UnB). Estão espantados com o percentual? São 152 aprovados dos 191 matriculados. Essa poderia ser uma notícia comum, caso o fracasso da escola pública não fosse o prato predileto do café da manhã, do almoço, do lanche e do jantar de grande parte da mídia brasileira e dos prognósticos econômicos de que não adianta investir na educação pública, tendo em vista que ela fracassou. Mas será que a história é essa? Toda escola pública fracassa? Todo modelo apresentado como substitutivo já foi testado?

Para muitos, a resposta para essa pergunta tem sido de que a solução é militarizar para disciplinar os estudantes, pois profissionais da educação não “deram conta do recado”. Disciplinar é a tônica! Não há estudos, porém, que evidenciem que as escolas militarizadas geram maior permanência, aprendizado significativo e resultados tão bons. E não confundamos as escolas militarizadas com as escolas militares que existem em vários estados brasileiros. Essas são de outra categorização, com outros orçamentos e profissionais que, mesmo sendo militares, têm  formação pedagógica na área em  que atuam.

Voltemos ao Educacional 06 de Ceilândia!  A escola atende quase 1.300 estudantes, distribuídos em 32 turmas de 1º, 2º e 3º anos. Os estudantes do primeiro ano chegam de várias escolas do Setor P Sul de Ceilândia; vêm com comportamentos diversos, como são todos eles em qualquer lugar deste imenso mundo. Diante disso, a equipe de profissionais da educação tem um desafio: mesmo sabendo que esses meninos e meninas não chegam em pé de igualdade em aprendizagem, precisam ser acolhidos para que confiem que aquele espaço é de equalização de oportunidades para todos eles.

O resultado começa a aparecer: eles, os estudantes, não querem ir embora da escola. Então, além desse acolhimento, é preciso oportunizar espaços/tempos que possibilitem permanecer no CED 06 com direcionamento para o bem-estar dos estudantes, mas, acima de tudo, para as intencionalidades técnico-pedagógicas que façam acontecer a aprendizagem significativa.

Contrariando o senso comum, que propaga a disciplina dos estudantes como objetivo da educação, a gestão do CED 06 compreendeu que ela é fruto de protagonismo estudantil trabalhado e alimentado pelos diversos projetos intencionais da escola ao longo do processo de formação desses estudantes. Compreendeu a importância da Meta 6 do Plano Distrital de Educação, que trata da oferta de Educação Integral, aliada à Meta 3, que trata da universalização do Ensino Médio e incorporou a seu fazer pedagógico a estratégia 3.14.

Garantir que as unidades escolares de ensino médio, no exercício de suas atribuições no âmbito da rede de proteção social, desenvolvam ações com foco na prevenção, na detecção e no encaminhamento das violações de direitos das crianças e adolescentes (violência psicológica, física e sexual, negligência, constrangimento, exploração do trabalho infanto-juvenil, uso indevido de drogas e todas as formas de discriminação), por meio da inserção dessas temáticas no projeto político-pedagógico e no cotidiano escolar, identificando, notificando e encaminhando os casos aos órgãos competentes.

Ressalte-se que a proposta pedagógica — amplamente debatida com a comunidade escolar —, os eixos transversais do Currículo em Movimento da SEEDF: educação para a diversidade, cidadania e educação em e para os direitos humanos e educação para a sustentabilidade. Toda essa transversalidade, que proporciona aos estudantes a segurança para tornar o CED 06 um espaço que valha a pena pertencer, não exime a prática pedagógica comprometida com o sucesso deles na vida acadêmica e profissional.

Após amplo debate com a comunidade escolar, foi percebido o quanto era almejado por todos que os estudantes tivessem o ingresso na universidade pública como parte do projeto de vida de cada um. Essa percepção precisava de materialidade nas aulas dos diversos componentes curriculares. A partir de então, os professores adequaram os conteúdos e suas abordagens metodológicas para esse fim, também. Nesse sentido, as avaliações foram ressignificadas e organizadas nos três turnos, com cursos preparatórios para o PAS e para o Enem, com monitorias.

Para além, há clubes de leitura montados, com incentivo de todos os profissionais, acervo diversificado e atualizado; há o Projeto Plateia, com apresentação de um ou dois espetáculos por ano e, ainda, há a Odisseia Cultural — uma feira de produções artísticas autorais de diversas áreas (literatura, cênica, música etc.).

Mas, o que se sobressai nessa escola é uma relação democrática e dialógica, que tem como início, meio e fim o interesse de todos em contribuir para o sucesso dos estudantes e um sentimento de pertencimento que toda a comunidade escolar hospeda em  si. Posto isso, precisamos, realmente, militarizar para disciplinar? Os profissionais do CED 06 de Ceilândia  compreenderam, como  de outras escolas públicas, que educar é verbo transitivo direto e indireto. É amplo! Ação de sujeitos sociais para sujeitos sociais!

(*) Vânia Rego, Professora da SEEDF, mestre em gestão e políticas públicas educacionais, pela Universidade de Brasília (UnB) e ex-subsecretária de Educação do GDF, Foto/Ilustração: Blog – Google
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