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O VÍRUS DA EMPATIA Por Victor Dornas

O VÍRUS DA EMPATIA

O vírus da empatia - (*Victor Dornas)
Todos já ouviram falar no famoso armistício ocorrido no Natal de 1914, quando no fervor de uma guerra mundial que perdurava durante longos e penosos meses, as tropas alemãs e inglesas fizeram uma trégua. O episódio repercutiu na história como um exemplo de humanidade remanescente no nosso pior e também como inimigos podem cultivar respeito mútuo um ao outro. O que muitos não sabem é que tal episódio não decorreu de uma deliberação espontânea e tampouco repentina. Há algum tempo autoridades diversas, incluindo o poder papal, movimentos sociais em conjunto suplicavam por uma pausa ao menos na noite de Natal. Ainda que o pedido tenha sido aquiescido por algumas tropas, muitas outras continuaram com a selvageria, ignorando o clamor. Nos anos seguintes, tais manifestações de paz em datas sagradas foram proibidas pois no desumano não há pormenorização, remorso ou solidariedade.

Com o advento dessa realidade de clausura imposta por um vírus que por definição simboliza a impiedade, a humanidade tem visto recorrentemente manifestações genuinamente humanas vindas de partes mais diversas na adaptação ainda que efêmera diante do obstáculo que se apresenta. Redes de televisão disponibilizam sinais gratuitos para incentivar o protocolo das autoridades, que aliás foram criticadas como exageradas, mas após mais de trezentos óbitos anunciados em um único dia na fatigada Itália, percebe-se que os governos que agiram com rapidez e rigorosidade estavam corretos.

No momento de dificuldade abre-se espaço para a boa propaganda, para a delicadeza e esperteza daquele que enxerga que até numa pandemia existe uma oportunidade honesta de valorizar sua marca. Personalidades célebres que foram contaminadas então recorrem às redes sociais para tranquilizar seu público. Arnold Schwarzenegger ensina a forma adequada de lavar as mãos em vídeo “viralizado” (com o perdão do trocadilho neste momento) com bastante humor. A propaganda inteligente repercute um sentimento de que até mesmo na guerra capitalista nós somos seres gregários e em algum instante, mesmo que na hora de destruição, seremos um só. Até na geopolítica que desde sempre é mantida por litígios e hostilidade, nessas horas testemunhamos exemplos de humanidade, quando nações empregam recursos em auxílio daquele que mais amarga a dificuldade. No caso do Brasil, especificamente, o alerta pandêmico convergiu com as manifestações programadas para o dia 15. A manifestação da cisão de um país que não se envergonha mais de ser cindido. Cindido em representantes que chantageiam, cindido nos representados que se digladiam.

Assim como em 1914, em face do clamor da universalidade, da ética, por uma pausa para que a humanidade sobreviva, muitos se manterão convictos de que a guerra não pode parar. Não temos tempo para nos ajudarmos pois estamos cindidos e com isso o vírus talvez encontre um local que o sirva como habitat ideal. A boa nova é que, assim como as guerras, as epidemias, ainda que elevadas ao status globais, isto é, de pandemia, também passam. Nosso sistema resiste e se adapta. Ainda assim, talvez seja interessante observamos quem são as pessoas que, neste momento, deixam de lado suas particularidades, pretensões faraônicas, e raciocinem como um todo, como um ser gregário de compostura equânime.

(*) Victor Dornas - Colunista do Blog do Chiquinho Dornas - Foto/Ilustração: Blog/Google






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