Por Victor Dornas
Ninguém duvida que existem inúmeras intercorrências políticas
feitas de modo oportunista num cenário de mudança econômica abrupta. Antigos
inimigos se aliam, porém o terreno é mais fértil para a insurgência da figura
mais tacanha da politica de ocasião: O parasita. Ninguém duvida, também, que
numa pandemia, a maior parte das questões prioritárias avançam seguindo a
lógica ou coordenadas científicas, porém deve-se ressaltar que a
ciência não é apenas a biologia.
Ao usarmos um biólogo para debater uma pandemia, estamos
limitados ao único ponto de vista de um profissional de uma área específica,
ainda que essa área seja o estudo de epidemias. A forma como se deve avisar uma
população a respeito dos prováveis riscos de contaminação também é uma ciência, pois deve
haver um equilíbrio entre a histeria e o descaso. A distribuição dos materiais
envolve outra série de ciências. A forma como um chefe de estado se dirige a
seus representados também envolve ciência. A mania de achar que a ciência é
apenas aquela área mais específica que analisa a origem do problema é uma forma
incipiente de enxergar o mundo ou de interpretar o conhecimento, muito mais
abrangente.
Um biólogo especializado em virologia pode saber tudo sobre o
comportamento de um vírus como este Sars-cov-2 (o nome do desgraçado), ou o
histórico das doenças, padrões infecciosos e, mesmo assim, errar suas
previsões. Mas, além disso, o mais importante: Mesmo que a pessoa seja a maior
epidemiologista de todas, pode não saber nada de gente, de psicologia. Pode não
saber a palavra correta a ser dita para uma multidão. Pode não saber nada sobre
as políticas de segurança. Na era das redes sociais, onde todos querem ser os
especialistas sobre tudo, há um nivelamento ou uma anarquia de fluxo de
informações, sendo que muitas vezes há pessoas das mais diversas
características ou perfis psicológicos que não estão preparadas para um debate
estatístico envolvendo mortes de seres humanos.
O papel do governo muitas vezes se dá na mediação de tudo que
é dito por técnicos aos seus representados. E não é necessário mentir, na
verdade isso até piora bastante a situação. Não é razoável chamar um vírus que
tem índice de mortalidade vinte vezes maior do que uma gripe severa, com risco
de comprometimento de diversos órgãos como rins e coração de “gripezinha”. Então
diante da incompetência do presidente em assumir essa mediação, surge a figura do
“arroz de festa” das coletivas, o abobado oportunista que intenta crescer a
partir dessa reconhecida fragilidade do chefe de estado. O cinismo personificado.
São Paulo é o maior dos focos de
disseminação do país por ser o nosso coração produtivo, o maior em percentual de tráfego, o estado
mais populoso com quase 46 milhões de pessoas. Ainda assim, onde quer que
se olhe, está lá o arroz de coletiva polemizando declarações do chefe de
estado. Sr. João Doria posando de bom menino, diz que quer cooperação entre os poderes, todavia não dispensa a oportunidade de sabotar um chefe de estado já desmoralizado pelas besteiras que diz. Com isso, percebe-se um certo partidarismo por parte da grande mídia ao avaliar a questão da crise institucional do país quando apenas enfoca um dos polos do embate em que ambos estão bastante dispostos ao enfrentamento eleitoreiro. A diferença entre os dois, Bolsonaro e Doria, se dá neste cenário midiático.
Enquanto um corre das câmeras e o outro as persegue.
Enquanto um corre das câmeras e o outro as persegue.
A figura do político que persegue o holofote para derrubar o colega na iminência de uma epidemia é parasitismo da pior espécie.
A abjeção na política é uma figura constante. Quadro epidemiológico avançadíssimo.
(*) Victor Dornas – Colunista do Blog do Chiquinho Dornas – Foto/Ilustração: Blog-Google