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Um barquinho na tormenta


Um barquinho na tormenta

*Por Ana Dubeux

Quando crianças, nossas perguntas sempre começam com “Por quê”. Depois de um tempo, aderimos em massa ao “Como”. As razões passam a ser menos importantes do que os caminhos. Só queremos chegar a algum lugar...  Mas, vou te dizer: hoje, tem extrema importância sabermos o que levou a humanidade a padecer com a pandemia do coronavírus. Despertar a consciência para ouvir e ver o que cientistas, biólogos, ambientalistas tentam dizer e mostrar há muito tempo: o nosso mundo está se tornando uma casa cada vez mais desconfortável por culpa nossa. E, não lamento dizer, se você acha que pode construir uma bolha luxuosa e viver nela só porque tem dinheiro corre um único risco: morrer na ignorância.

Como nos disse o papa Francisco, a pandemia é “uma tempestade que desmascara nossa vulnerabilidade e deixa descobertas essas falsas e supérfluas seguranças”. Disse mais: “Ninguém se salva sozinho”. Somos um coletivo de corpos e almas, hoje com doenças diversas. Se essa tempestade não servir para lavar toda a arrogância que temos visto na atualidade, não servirá para mais nada que não seja enterrar nossos mortos e chorar a distância. O que importa neste momento é manter viva aí no seu coração essa chama de esperança: o mundo pode ser melhor depois que tudo isso passar. E nós vamos repensar a forma como vivemos e consumimos.

Com essa reflexão acima, com solidariedade ao próximo e com todos os cuidados de higiene e isolamento social necessários neste momento, estamos fazendo a nossa parte. A partir daí, voltamos a quem de fato nos deve explicações e desculpas neste momento: o governo federal. Há muitos porquês devidos. Vamos a eles: Por que a cúpula bolsonarista insiste na tese do não isolamento? Por que o presidente Bolsonaro fala uma coisa e seu Ministério da Saúde, outra? Por que integrantes do governo desrespeitam a quarentena e fica por isso mesmo? Por que essas pessoas desafiam especialistas em saúde do mundo inteiro e teimam com falsas verdades?

São muitas as perguntas para uma única resposta. A pandemia do coronavírus foi politizada. Há quem ache que pode surfar na crise com uma prancha de papelão. Este é um passo em falso que pode matar seu pai, sua mãe, seu filho, seu vizinho ou amigo querido. É um erro de proporção gigantesca usar essa crise para colher dividendos políticos ou tentar manter seu débil e ingênuo eleitorado. É um erro maior ainda supor que os prejuízos econômicos sejam mais importantes do que um amparo decente à população neste momento.

É preciso dar comida, assistência, acolhimento, dinheiro. É preciso pagar salários, ajudar a manter empregos, emprestar aos pequenos. O governo salvou a indústria automobilística, as empresas aéreas e diversos outros setores em muitas e muitas crises econômicas. Agora tem que mostrar o quão humano e inteligente pode ser, olhando para quem mais precisa. Porque, se não servir para isso, não terá nenhuma outra serventia. O Brasil não pode ser um barquinho sem remo em meio à tormenta, uma voz isolada reverberando, contra a ciência, o eco da ignorância. E o governo não pode contribuir com tamanho desserviço.

(*) Ana Dubeux – Editora Chefe do Correio Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog - Google



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