"A população precisa atender
ao chamamento do governo para que se mantenha em casa"
Ao CB.Poder, secretário de Saúde
do DF fala sobre ações desenvolvidas pelo GDF para conter a pandemia da
Covid-19 na capital e reclama da falta de apoio do governo federal. Ele comenta
ainda sobre a dificuldade de encontrar equipamentos, como respiradores
Em meio à pandemia do novo
coronavírus, o secretário de Saúde do Distrito Federal, Francisco Araújo,
reclamou da falta de apoio do governo federal no combate à doença na capital.
Ontem, em entrevista ao programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV
Brasília —, ele ressaltou que a pasta recebeu 7 mil testes da Covid-19
“quebrados” e que solicitou aprovação para abertura de 320 leitos de unidade de
terapia intensiva (UTI), mas não conseguiu nenhuma autorização em um mês de
enfrentamento da enfermidade.
Na semana passada, o Ministério da
Saúde havia divulgado que o DF pode estar em transição para a fase de
aceleração descontrolada dos casos de Covid-19. Entretanto, o secretário
confrontou a afirmação e disse que não sabe em que ela foi embasada. “Tudo que
estamos fazendo é com recurso da secretaria, do governo (GDF) e com a força de
trabalho de todos os profissionais”, reforçou. Francisco defendeu que, do ponto
de vista técnico, o isolamento e as medidas de restrição são as melhores
maneiras de combater a pandemia. De acordo com ele, neste momento, a pasta
trabalha para habilitar mais leitos de UTI, comprar respiradores e entregar os
200 leitos de retaguarda que serão instalados no Estádio Mané Garrincha.
Na última semana,
o governador Ibaneis Rocha (MDB) prorrogou o período de quarentena e
isolamento até o início de maio. Como isso pode ajudar a conter
o avanço do coronavírus? Todas as medidas tomadas pelo governador Ibaneis e pela área da Saúde e
das outras secretarias foram inteligentes, rápidas e fizeram com que
chegássemos, até agora, com a população protegida e com número de casos
administrados pela área de epidemiologia. Então, a sociedade reconhece que as
ações do governo vieram na hora certa e foram tomadas no momento certo.
O Ministério da Saúde cita
o Distrito Federal como uma dasáreas que podem fugir do controle.
Como o senhor vê essa avaliação? Primeiro, eu e minha equipe da Secretaria de Saúde
não concordamos e não aceitamos isso. O Ministério, não sei em que, ou baseado
em que, alertou essa situação. Estranho é ter alertado essa situação, de que
pode acelerar, e, no entanto, não teve nada de concreto que ajudasse o DF. O
Ministério da Saúde mandou, para cá, aventais que não servem para uso, que não
são apropriados para o ambiente hospitalar. Também enviaram álcool em gel
saneante, que é usado para limpeza, e 7 mil testes rápidos que estão quebrados,
não funcionam. Pedimos habilitação de 320 leitos de unidade de terapia
intensiva (UTI) com suporte respiratório para Covid-19, no entanto, nenhum foi
aprovado. Tudo que estamos fazendo está sendo com recurso da Secretaria, do
governo e com a força de trabalho dos profissionais. Eles (o ministério) ficam
o dia todo fazendo coletiva e acho que não conhecem o que está se passando no
Brasil e, sobretudo, no DF. Na semana passada, elogiaram todas as medidas do
governo (GDF) com a população e, na semana seguinte, jogam na imprensa, sem nos
comunicar, que o DF está com a possibilidade de ter uma aceleração descontrolada.
Termo que não é utilizado dentro do jargão e do sistema de saúde.
Qual o cenário projetado para
o Distrito Federal? Desde o primeiro caso no Hran (Hospital Regional da Asa Norte),
começamos a organizar a rede de saúde. Ela é composta por 600 equipes de saúde
da família, 16 hospitais, 24 policlínicas e as UPAs (Unidades de Pronto
Atendimento). Desde o início, montamos nosso plano de contingência, e o
governador foi muito seguro nisso, de não interromper as cirurgias eletivas e
manter o fluxo da rede normal, porque pegamos um estado com volume muito grande
de cirurgias para fazer e não vamos penalizar as pessoas. Decidiu-se fazer uma
estrutura dentro da rede, mas paralela, para cuidar da Covid-19. A partir
disso, nós mapeamos. No Hospital de Santa Maria, por exemplo, entregamos 40
leitos prontos para serem usados, com suporte respiratório. Colocamos o
Hospital da Polícia Militar, a UPA do Núcleo Bandeirante, o Hran, o Hospital da
Criança e os hospitais privados para combater e vencer essa questão do coronavírus.
Hoje, testamos 10 mil pessoas, passou dos 400 que testaram positivo e 25 estão
na UTI e temos mais 73 leitos à disposição. Essa é a nossa realidade. Estamos
convivendo com ela, sem interferir na rede.
É o Ministério da Saúde
que habilita os leitos de UTI? Existe algum prazo?Todos os leitos de UTI têm que ser habilitados pelo
Ministério da Saúde, conforme portaria do governo federal. Eles pagam um valor
para você poder manter aquele leito, que é caro. Pedimos 320 e não foi
habilitado nenhum. Se fôssemos aguardar o Ministério, não teríamos nenhum.
Então, por nossa conta, fomos tocando isso. Hoje, nós temos o Hospital da
Polícia Militar com os processos todos em andamento, pessoal, infraestrutura e
equipamentos. Temos a Arena BSB (Estádio Mané Garrincha), que será montada e
trará 200 leitos de retaguarda, para receber pacientes da Covid-19.
Quando o Mané Garrincha fica
pronto para atender a esses pacientes? Tenho falado o tempo todo que cada semana é
diferente. O prazo para fazer contratações por conta da pandemia é muito
rápido. Estamos em fase acelerada de processo para que isso aconteça. Queremos
colocar empresas com processo formalizado. Esta semana, uma empresa inicia os
trabalhos lá dentro e vamos publicar outro processo amanhã (hoje), referente à
estruturação de leitos e pessoal. As duas áreas, o Instituto de Gestão
(Estratégica do DF) e a Secretaria de Saúde, trabalhando juntos. Nos últimos 15
dias, chamamos quase 800 médicos. Na semana que vem, completamos quase 100
equipes de Saúde da Família, chegando mais médicos, vamos para quase 150. Isso
tudo para fortalecer a atenção básica, protegendo a atenção secundária e, com
tudo que estamos fazendo na atenção terciária, que são os hospitais, nos dará a
segurança de que a população do Distrito Federal não ficará desprotegida.
Tem uma movimentação maior de
pessoas nas ruas, principalmente de carros. Qual a orientação? Do ponto de vista técnico, a nossa orientação é
muito clara. A população precisa atender ao chamamento do governo para que se
mantenha em casa. É importante e fundamental manter o isolamento, que use
álcool em gel ou lave as mãos e tenha esse cuidado que a área da saúde vem
alertando o tempo todo. Agora, é muito importante também, que a sociedade tenha
compreensão de que o governo está fazendo a parte dele. Se não fosse a
iniciativa do governador, de ter tomado a medida lá atrás, eu não saberia como
nós estaríamos. O governo está buscando e fazendo a parte dele e a sociedade
também precisa. São dados que dizem que quando se mantém o isolamento, há uma
redução do número de casos. É um vírus que não está circulando no vento, ele
está nas pessoas. A transmissão é feita no contato, e quando a gente coíbe
isso, está enfrentando o vírus de maneira técnica e rápida.
Como está o atendimento das
outras especialidades, além dos casos de Covid-19?A rede não parou de atender por causa da Covid-19.
A procura nas UPAs, nos hospitais e nas unidades básicas, até por insegurança
da população, diminuiu. O que digo sempre: o trabalhador de saúde tem obrigação
de atender à população. Quem não for atendido pode entrar em contato com as
ouvidorias, tanto do governo, quanto da saúde. Então, denuncie. Vá direto no
gestor da unidade, porque a população tem direito.
Como está a situação
do estoque dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)? Afirmo o tempo todo que tem estoque e que estão
sendo controlados. Estamos no meio de uma pandemia, então a gente não pode
desperdiçar. A Secretaria, do ponto de vista administrativo, não pode funcionar
como antes da pandemia. Agora, temos que ter um controle desse estoque.
Qualquer trabalhador da saúde que precise, basta solicitar que tem equipamento,
medicamento e estrutura para atender, mas não dá para desperdiçar. Seguindo
esses protocolos, não correremos riscos de ficar totalmente desabastecidos.
Tem uma campanha do BRB para a
compra de 25 respiradores. Quando eles devem chegar? O BRB tem uma campanha para aquisição de EPI,
respiradores e equipamentos. A Secretaria de Economia também tem uma ação de
doações, as pessoas estão muito solidárias neste momento. Colocamos nossa
equipe de engenharia clínica e um médico com a equipe do BRB e estamos nesse
processo de busca. Hoje, o mercado do mundo inteiro está com dificuldades de
comprar o respirador. A pandemia tomou conta do mundo, e a indústria que produz
isso está com carência. Todas as secretarias estaduais estão com essa
dificuldade. Cada um que for comprado é importante.
Como está a situação dos
respiradores no Distrito Federal? Estamos recuperando, em parceira com o Senai
(Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), 150 respiradores. Temos, hoje,
608 respiradores na rede, contando com esses que precisam ser recuperados.
Temos 73 leitos montados para atender Covid-19 com respiradores. Toda semana é
diferente. Essa, por exemplo, que temos 73, está tranquila para trabalhar.
Agora, com a entrada do Senai e da UnB (Universidade de Brasília), que já
estava, conseguimos colocar o Lacen para funcionar 24h, acelerando os testes.
Fizemos contratos com o Sabin, para fazermos 100 testes diários, a partir de
amanhã (hoje). Essa pandemia não é só um problema de saúde pública, é do setor
privado, do governo e de todo mundo.
Como a população
deve proceder em casos de alguns sintomas, a depender da
região administrativa onde mora? Se a pessoa mora em Ceilândia, por exemplo, temos
um hospital, uma UPA e 98 equipes da Saúde da Família. Se morar no Plano Piloto
e tiver plano de saúde, procure uma unidade privada, para não sufocar o
público. Se residir na Asa Norte, procure o Hran. Então, a estrutura de saúde
hoje continua montada para atender a toda população. Existem os protocolos de
atendimento que devem continuar a serem seguidos. Mas, ressaltamos que o ideal
é procurar uma unidade de saúde só quando necessário. Se você constatar os
sintomas realmente de Covid-19, procure uma unidade para fazer o teste. Além
disso, a maioria das pessoas que testam positivo está sendo tratada em casa,
com isolamento e os cuidados que deve ter.
Sobre a população carente que
precisa de medicamento,vai ter algum serviço de entrega para elas? No sábado, a Secretaria de Saúde e o BRB assinaram
um convênio. Hoje, o medicamento de alto custo está sendo entregue em casa. Não
tem falta de medicamento para o idoso, hipertenso ou diabético. A distribuição
desse medicamento é feita por meio de cadastro. Pessoas registradas terão o
medicamento em casa. Quem estiver precisando, deve fazer o cadastro e passar
por avaliação do médico.
Entrevista completa - 02 Vídeos:
Por Walder Galvão - CB.Poder -
Correio Braziliense
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