"Diante da circulação e daquele primeiro avanço que tivemos das
infecções, se não tivessem sido tomadas as decisões, teríamos, pelo menos, 5
mil casos de infectados"
*Por Ana Maria Campos
Sem isolamento,
teríamos 5 mil casos. Governador garante que, se a população ficar em casa, a
rede pública de saúde terá condição de atender a todos os infectados da
Covid-19
Primeiro governador a adotar o isolamento horizontal, que fechou cinemas, shoppings, comércio e academias entre outras atividades, Ibaneis Rocha (MDB) tem pela frente uma missão de vida: impedir o colapso do sistema de saúde do Distrito Federal na maior pandemia do século. O novo coronavírus já infectou 1 milhão de pessoas no planeta, arrasou a Lombardia — região mais desenvolvida da Itália — e a Espanha e agora atingiu o país mais rico e poderoso do mundo, os Estados Unidos.
Não é uma guerra qualquer. Ibaneis é o comandante de um exército em que os soldados são a própria população civil. Mesmo com recursos, compra de respiradores, testes e equipamentos de proteção para médicos e enfermeiros, além de montagem de hospitais de campanha, nada será suficiente se as pessoas saírem de casa disseminando o contágio.
E, para complicar ainda mais, o governador conta com um adversário poderoso: o presidente Jair Bolsonaro, que subestima o novo coronavírus, trata a Covid-19 como uma “gripezinha” e critica a principal arma dos governadores: o distanciamento social.
O senhor tomou decisões importantes
de isolamento social. Hoje, 20 dias depois, acha que a situação estaria muito
mais grave se isso não tivesse acontecido? Não tenho nenhuma dúvida de que a situação no
Distrito Federal tinha tudo para causar uma das maiores explosões de
contaminação do Brasil, exatamente pelas condições sociais que temos na nossa
cidade. Brasília é uma cidade que tem uma renda per capita muito alta na região
do Plano Piloto. Temos todos os órgãos e todos os poderes aqui instalados.
Temos o Congresso Nacional, todos os ministérios, o presidente da República,
180 organismos internacionais, gente voltando de todos os lugares do mundo após
o carnaval. Então, era previsível que tivéssemos um grande índice de infecção.
Além disso, se a cidade estivesse funcionando normalmente, teríamos aqui quase
todos os prefeitos, deputados federais, senadores, todos eles indo e voltando
para seus estados. Além de ser um problema muito grande para nós aqui do DF,
estaríamos distribuindo isso para todo o Brasil, o que realmente seria um
grande problema.
No começo, houve críticas até de
infectologistas. Foi o momento certo? Adotamos a medida no início, quando tivemos o
primeiro caso, logo após a decretação da pandemia mundial pela OMS (Organização
Mundial da Saúde). Acho que a medida foi acertada, mesmo que dura, e difícil de
ser tomada. Mas ela foi tomada na certeza de que as coisas não seriam fáceis em
todo o país. Fui bastante criticado, acho que é do cargo público, mas foi
necessário. Se não tivesse sido adotada essa medida, hoje, teríamos no DF todo
um sistema de saúde em colapso. Teríamos toda uma população passando por muitas
dificuldades. Tenho certeza que teríamos uma situação como aconteceu em Nova
York ou mesmo na Itália, por conta dessa infecção generalizada. A questão de
você ter renda per capita maior no Plano Piloto e pessoas muito carentes em
regiões muito próximas é que essas pessoas vêm trabalhar na casa desses que têm
renda per capita alta. Eles vinham e voltavam carregando essa doença para áreas
que não têm a assistência toda nem essa renda per capita tão alta. Teria a
empregada doméstica da casa do embaixador trabalhando e voltando para casa,
para infectar todos aqueles que estavam lá. Então, esse isolamento foi
necessário, a diminuição do comércio também foi necessária. Imagine nos
restaurantes desta cidade — eu que sou frequentador deles e gosto: o tanto que
você entra, cumprimenta as pessoas, o tanto que vocês se encontram. O que não
teríamos de índice de contaminação? E essas pessoas contaminadas, em contato
com os garçons, cozinheiros, voltando para suas residências — geralmente em
cidades-satélites, cidades que têm um índice econômico bem menor. Tive toda
essa preocupação e tomei essa decisão na certeza de que foi acertada.
Dá para estimar o número de casos
que o DF teria em uma situação em que o senhor não tivesse tomado providências
imediatas? Tenho certeza de que teríamos
passado de 5 mil casos. Tenho essa convicção. Diante da circulação e daquele
primeiro avanço que tivemos das infecções, se não tivessem sido tomadas as
decisões, teríamos pelo menos 5 mil casos de infectados. Isso implicaria termos
hoje pelo menos 100 a 120 vagas de internação. Hoje, estamos com pouco mais de
30 pessoas internadas, entre rede pública e privada. Tenho convicção de que
teríamos uma situação muito grave no DF.
Historicamente, o sistema de saúde
do DF tem falhas, pela complexidade e pela demanda. Hoje, vivemos um problema
sem precedentes. A população pode esperar que vai receber atendimento nesta
pandemia? Desde o início de nosso governo,
venho trabalhando muito. Inclusive, uma das primeiras coisas que fizemos foi
aquela alteração no que diz respeito ao Instituto de Gestão (Estratégica de
Saúde do Distrito Federal, Iges-DF). Durante a campanha, por não conhecer ou
por não ter acesso às informações corretas, fiz várias críticas àquele modelo
do Iges. Mas eu mudei a partir da (fase de) transição (entre governos), quando
tive acesso aos dados e às informações, e fizemos aquela alteração, trazendo as
UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) e o Hospital (Regional) de Santa Maria
para dentro do nosso sistema. Agora, a expansão das UPAs está sendo feita.
Reabastecemos toda a rede hospitalar. Ampliamos o atendimento nas mais diversas
áreas. A rede hospitalar do DF vinha melhorando muito.
Mas e agora, com esse novo
cenário? Posso garantir. Por que falo isso?
Nós conseguimos recompor as equipes do (Programa) Saúde da Família, que é a
atenção básica; fizemos, emergencialmente, o atendimento das UPAs, então,
tiramos as pessoas das portas dos hospitais, acabou aquela crise que existia
nas emergências dos hospitais. E estávamos passando por uma segunda fase, a da
desospitalização, aumentando o número de cirurgias e atendimentos. Quero
desospitalizar para poder manter os leitos. Posso lhe garantir que, hoje,
estamos preparados. Não como deveríamos, mas estamos preparados para atender
até um determinado nível. E é por isso que tenho tomado medidas para não
estourar, não vamos ter condições. Como nenhum estado da Federação vai ter
condições de tratar essa doença. O que acontece hoje? Temos, à disposição
dentro da rede pública, 150 leitos de UTI sendo montados. É um número bastante
expressivo. Só no Hospital (Regional) de Santa Maria, são 80 leitos sendo
montados. Temos, junto à rede privada, um determinado valor que foi colocado à
disposição também para que eles ofertem leitos de UTI. Então, existe uma
previsão que temos de chegar até o fim de abril em torno de 1 mil casos (de
Covid-19) — se passar um pouquinho —, conseguiremos atender a toda a população
do DF sem maiores problemas.
Por isso, as pessoas têm de ajudar
e não sair de casa, mantendo o isolamento social... Se não ajudar, não tem jeito. Se for todo mundo
para a rua, se começar essa cobrança por abrir comércio, abrir restaurante,
abrir isso, abrir salão, abrir tudo… Na Itália, um dos maiores índices de
contaminação foi exatamente nos salões de beleza. E temos de tomar cuidado com
isso. Porque não é só o problema do “entrou, saiu”. Mas, se um paciente
infectar um cabeleireiro, por exemplo, esse cabeleireiro vai passar para milhares
de pessoas. Temos de ter atenção. Na hora certa, com a segurança que vamos ter,
vamos abrindo cada uma das atividades que penalizem menos a população.
O senhor está seguindo o modelo de
Cingapura na forma de lidar com o novo coronavírus. Lá e na Coreia do Sul,
vemos que eles testam muito. O senhor pretende aumentar o número de
testes? Estamos com uma compra aberta de
150 mil testes. E o Ministério da Saúde ficou de complementar, ainda, com mais
testes. Hoje, fazemos 1 mil testes por dia no DF. Pelo que fiquei sabendo, essa
licitação deu positivo e eles têm para fazer à pronta-entrega. A partir da
próxima (desta) semana, quero fazer em torno de 3 mil testes por dia. E,
chegando a segunda remessa, do Ministério da Saúde, quero chegar a 5 mil testes
diários para, no momento em que formos fazer o desbloqueio parcial das
atividades, façamos isso com o maior nível de segurança possível.
Então o senhor vai adotar o mesmo
critério de testes? O mesmo critério. Exatamente o mesmo critério.
E quem deve fazer o teste? Todas as pessoas que têm algum tipo de sintoma.
Sabemos que há muita gente assintomática, principalmente os mais jovens e as
crianças. Mas você tem algumas pessoas que têm algum tipo de resfriado, gripe,
febre; pessoas que tiveram contato (com pessoas infectadas). Vamos ampliar esse
número de testes para poder ter um grau de certeza maior em relação às medidas
que precisam ser adotadas ao final dessa crise.
Como temos um sistema único de
saúde, se o DF se tornar um modelo de sucesso, conseguir atender às pessoas e
as outras unidades da Federação não fizerem o dever de casa corretamente, o
senhor teme que outras pessoas venham para cá e acabem causando o
colapso? Brasília é uma cidade de trânsito,
um grande hotel de trânsito. Enquanto o governo federal tiver esse trabalho e
essa responsabilidade de manter o atendimento a distância, o Congresso Nacional
continuar funcionando como está, sem ser presencial, não vamos ter motivo para
as pessoas virem para cá. De outra ponta, conseguimos adquirir também de
Cingapura — já tínhamos o equipamento aqui — chips para fazer testagem. Vamos
fazer testagens dentro dos ônibus. Em qualquer pessoa que tiver qualquer
sintoma, vai ser feito o teste rápido na própria rodoviária ou na própria
rodovia. Estamos tomando as medidas, não de fechamento, mas sanitárias, que nos
deem a garantia de que vamos ter o menor índice de infecção vindo de fora.
Estamos fazendo um protocolo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária), para que ela, junto ao Corpo de Bombeiros, teste dentro dos aviões
que pousem em Brasília.
Nos aeroportos houve um problema
porque não é a área dos governadores e sim, federal... É, mas o presidente da Anvisa tem sido muito
solícito com todos nós, o Antonio Barra. E está em andamento entre o pessoal
técnico dele e a área técnica nossa esse termo de cooperação por meio do qual
vamos atuar de forma conjunta. Acho que ele fez certo. Ele não pode entregar na
mão dos governadores uma atividade que é da União. Mas acho que, em parceria,
sim. Ele terá um modelo para que todos os estados façam também. Agora, é
cooperação. A palavra é essa.
"Se todos fizerem as
medidas como estão fazendo em todas as partes do mundo, e nós aqui temos que
nos adequar a elas, existe toda uma análise de que nós sairemos dessa crise ali
no final de maio, início de junho"
O fato de o presidente Jair
Bolsonaro ter andado pelas ruas do DF no fim de semana atrapalha seus planos
aqui de conter a pandemia ? Gerou em mim uma preocupação muito grande. Porque — no momento em que
ele faz isso, e ele é muito popular na maneira de falar, pelo menos dentro do
grupo dele — tivemos algumas movimentações no próprio domingo à tarde e na
segunda-feira que indicaram um aumento de pessoas na rua. Então, fiquei
preocupado ali naquele momento. Na segunda-feira, chegaram a fazer algumas
manifestações aqui na frente do (Palácio do) Buriti. Mas, como estou
trabalhando muito seguro do que estou fazendo, não cheguei a me incomodar. E
acho que, naquele momento, em virtude do que aconteceu — ele trabalha muito com
pesquisa, o presidente; pode não parecer, né? (Risos) —, ele viu que a
popularidade dele terminou caindo um pouco. E, ouvindo o pessoal das áreas
técnicas, ele deu uma recuada nessa posição dele, que é o mais adequado neste
momento. Agora, isso, para mim, não gera nenhum tipo de problema político. Eu
considero o presidente. Ele tem uma função importante para o Brasil. Eu estou
tranquilo. O que tenho precisado de ajuda no Ministério da Saúde, o que tenho
precisado de apoio junto às áreas econômicas e ao Congresso Nacional, tenho
encontrado.
Inclusive, o ministro da Saúde,
Luiz Henrique Mandetta, tem ressaltado o trabalho dos governadores, citou o
senhor recentemente e fez um elogio. O fato de ele agir dessa forma faz muita
gente acreditar que, em conflito com o presidente Bolsonaro, ele pode acabar
saindo… Entrar em conflito com o
presidente da República parece que não é uma coisa, assim, muito difícil.
(Risos) Vejo no ministro Mandetta uma responsabilidade muito grande com a pasta
que ele assumiu, desde o início, quando tive o primeiro contato com ele, ainda
na transição (entre governos). Pela experiência dele como deputado federal,
pela experiência dele na área de saúde no estado dele, no Mato Grosso do Sul.
Ele presidiu comissões de saúde da Câmara dos Deputados e sempre pareceu muito
responsável e muito centrado. O embate dele com o presidente não interessa a
ninguém. Acho que nem ao presidente da República, nem ao próprio ministro
Mandetta. Muito menos à sociedade brasileira, que precisa, hoje, de ter
harmonia. Acho que eles acabam se entendendo, mesmo que tenham de usar algum
tipo de interlocutor.
Mas o ministério da Saúde tem
ajudado? Só liberou R$ 15,7 milhões e não
concluiu o hospital de Águas Lindas que nos ajudaria bastante. Estamos assumindo
muitos custos. O ministério não comprou nenhum respirador.
Como o senhor avalia essa posição
do presidente de que é preciso preservar os empregos e que as duas medidas,
saúde e economia, têm que andar juntas? Concordo com ele em parte. Por aqui, estamos
tendo essa preocupação também com a área da economia. Tanto que a primeira
coisa que fiz no momento em que tive que fechar os restaurantes do Distrito
Federal foi abrir uma linha de crédito para todo pessoal do Sindobar (Sindicato
Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília), porque nós
sabemos que eles têm dificuldades, têm faturas para pagar e têm funcionado de
certo modo. Agora, estamos ampliando essas medidas de acordo com o que os
setores estão nos procurando. Fiz uma reunião com o pessoal da Secretaria de
Desenvolvimento Econômico, do BRB (Banco de Brasília), da Economia
(secretaria), do Trabalho (secretaria) e a nossa preocupação foi um pouco mais
ampla. Nós não podemos cometer os mesmos erros que foram cometidos em governos
passados, como, por exemplo, no governo Dilma em que ela escolheu alguns
setores para beneficiar e terminou quebrando todo mundo no final. Nós temos que
fazer um projeto que tenha toda a base da economia, micro, pequena e médias
empresas e também uma linha com os grandes empresários.
Como funcionará? Ficou acertada (com o BRB) mais ou menos essa linha
de trabalho e eles estão levantando. Por faturamento de empresa, nós vamos
criar um programa em que a gente possa auxiliar a todos.
Como é que isso vai
ser feito? Tem dinheiro para isso? Tem. Não um dinheiro do governo. Mas nós
vamos disponibilizar alguns imóveis, podem até ser imóveis que venham da
Terracap, do próprio governo, vamos fazer um fundo garantidor e vamos colocar
na conta do BRB. Para cada R$ 1 que você colocar no fundo garantidor, você pode
emprestar até R$ 5. Então, se a gente fizer um fundo com R$ 200 milhões em
imóveis, e nós temos imóveis para isso, você consegue emprestar até R$ 1
bilhão. Vamos colocar isso tudo à disposição da economia do Distrito Federal.
Existem muitas dessas empresas que em uma situação normal não teriam condições
de ter acesso ao crédito, então, vamos fazer o fundo para aqueles que,
não dando conta, a gente consiga garantir que tenham acesso. Isso tudo está em
análise e nós pretendemos anunciar nos próximos dias.
E as pessoas mais carentes, como
vão sobreviver? De outra
ponta, estamos cuidando das pessoas mais carentes. Nós estamos comprando
mais 60 mil cestas básicas, 30 mil por mês e vamos também, com a Secretaria de
Agricultura, distribuir tanto a cesta seca quanto a cesta verde para ajudar a
todos esses. Estamos também apoiando todos os asilos, todos os idosos e
distribuindo para eles, já desde o início, quando houve o fechamento da Ceasa,
nós estamos comprando parte dos produtos agrícolas para distribuir nesses
locais. Estamos cuidando de todo mundo. E, para a próxima semana, Secretaria de
Governo, Secretaria de Trabalho e Novacap vão soltar uma grande frente de
trabalho em parceria com o Senai. Nós vamos contratar por meio de bolsas,
pessoas que estão desempregadas, o Senai vai dar os cursos no local onde
estiver trabalhando e nós vamos requalificar todas as cidades. Arrumar as
praças, vamos dar uma arrumada em todas as cidades. Vamos começar com três mil
pessoas com essas bolsas, vamos entrar com a parte do transporte, vamos pagar o
curso para o Senai e, ao final, se for durante um mês, a pessoa vai sair com um
curso de técnico. Se ficar dois meses dentro do programa, sai com curso de
especialista e aí são várias áreas, de pedreiro, de eletricista…
Como vai funcionar o programa para
atender aos idosos que representam um grupo de risco na pandemia? Nós estamos, com a Secretaria de Justiça, a partir
de uma ideia que surgiu, já que muitos hotéis estão fechando e vão passar um
bom tempo fechados, usar essa estrutura. Vamos fazer uma busca ativa para
trazer aqueles idosos que estão com mais dificuldades. Há um grupo de idosos
que está convivendo com pessoas que foram infectadas pelo vírus e estão em
isolamento domiciliar. Muitas vezes, esse idoso quer sair da residência e não
tem para onde ir.
Tem uma ideia de quantos
são? Em torno de 80 a 100. Depois, nós
temos aqueles outros idosos que estão em situação de risco e que não têm
condições. A habitação não é adequada, tem muitas pessoas, então, nós vamos
fazer um programa de busca desses idosos para colocá-los durante o período
dessa pandemia em uma situação melhor. Eles ficariam hospedados. Nós faríamos
um teste antes para garantir que não terão pessoas infectadas nesse ambiente e
faríamos o isolamento deles de uma forma adequada, com psiquiatras, psicólogos,
atendimento médico, assistente social… É um programa que está muito bem
montado.
Seria um convênio do governo com
os hotéis? É. Nós vamos cadastrar os hotéis,
isolar por andares. Tem alguns deles que teremos que isolar todo o hotel, já
está fechado, e aí nós vamos convidar as pessoas e vamos pagar. O valor que
eles estão colocando é mais ou menos o valor da manutenção, são pagamentos de
funcionários e o dia a dia deles.
O empresário Paulo Octávio disse
que ia colocar à disposição o Hotel Brasília Palace, para ajudar nas ações
contra a pandemia... Sim, o dele é um desses que já foi, inclusive, vistoriado pela
Secretaria de Saúde e pela Secretaria de Justiça.
O senhor tinha projetos para 2020,
muitas obras, muitas coisas para executar. O que não vai dar para fazer? Nós não paramos com nada. A Novacap está
trabalhando. Nós vamos sair dessa crise e ter que tocar a cidade, então, não
deixei parar nada, não mandei cortar nada. Pelo contrário, estou acelerando. Eu
tinha previsão de soltar agora no primeiro semestre cinco UBSs (Unidade Básica
de Saúde), já foram feitas as licitações e eu mandei licitar mais 15. Então, já
que eu estou tendo a oportunidade de resolver o problema da saúde, vou fazer 20
UBSs esse ano. Na área do DER, nós estamos liberando semanalmente os recursos
para que sejam licitados viadutos. O Hospital Oncológico está já na fase final.
Nós estamos trabalhando junto à Caixa Econômica Federal para a liberação do
viaduto da EPIG. A Terracap está assumindo parte da infraestrutura dos bairros.
Todos os nossos projetos que foram anunciados no ano passado continuam.
Independentemente de qualquer coisa, eles vão acontecer.
Mas não haverá uma frustração
grande de arrecadação, da ordem de até R$ 2 bilhões, pelo desaquecimento da
economia, empresas e comércio fechados? Eu já não previa utilização de recursos da fonte
100 para essas obras. Uma parte vem de emendas de deputados e senadores, a
outra parte vinha do orçamento geral da União, eram projetos em andamento, há
muito tempo parados, outras eram emendas que estavam perdidas, como é o caso,
por exemplo, das creches que nós conseguimos liberar. E outra parte são
recursos da própria Terracap, que tem que fazer o investimento da cidade, e das
outras empresas. Por exemplo, Caesb que acumulou lucro, BRB, a parte do
lucro que teve no ano passado. Então, estamos organizando dentro de um cenário
bastante realista, mas a cidade vai continuar com todo o ritmo de crescimento.
O que nós vamos ter uma queda, e eu não tenho dúvidas, é no investimento
privado. O privado vai analisar primeiro o cenário econômico para voltar a
investir. Isso é uma quebra de expectativa nossa porque nós conhecemos a
vontade e a credibilidade do empresariado do Distrito Federal. Nós sabemos que,
agora, com esse cenário internacional, eles vão fazer uma nova avaliação. Mas
eu tenho uma convicção muito grande de que como Brasília é uma cidade que,
quando sair essa crise que deve chegar até final de maio, início de junho, nós
vamos estar bem organizados com o pé no acelerador. E o empresariado vai
voltar, porque quer retomar aquilo que tinha de previsão de lucro no
início do ano. Estou bastante confiante.
Mas por que o senhor acha que em
junho as coisas estarão melhores? Porque eu estou vendo uma consciência nacional e internacional no
sentido de conter o avanço da Covid-19, e estou vendo também um investimento
muito grande tanto no âmbito nacional, com as medidas que o Paulo Guedes tem
anunciado, quanto no âmbito internacional. Seja por meio da China, que está
voltando a comprar, que está voltando a trabalhar, seja dos Estados Unidos, que
estão fazendo investimentos pesados na área de infraestrutura e em diversas outras
áreas. Isso faz com que o Brasil seja um fornecedor de commodities e que ele
volte na balança comercial a ter um peso muito forte. O cenário econômico para
nós talvez seja melhor que em outros países porque nós somos exportadores de
commodities.
Mas e a crise sanitária? Como
prever o que vai acontecer diante de um novo coronavírus? Dá para prever. Se todos fizerem as medidas como
estão fazendo em todas as partes do mundo, e nós aqui temos que nos adequar a
elas, existe toda uma análise de que nós sairemos dessa crise ali no final de
maio, início de junho.
Acredita que surgirá um remédio ou
uma vacina a curto prazo? Dessa área eu não conheço muito. Eu sou advogado. Espero que os grandes
laboratórios estejam investindo muito. Mas eu não conheço nem um caso que uma
vacina tenha sido criada em um período inferior a um ano.
O mundo vai ser outro depois dessa
crise? Acho que crise não muda o mundo,
não. As crises aperfeiçoam em alguma coisa. Nós já tivemos crise de Influenza,
crise de H1N1, crise de Ébola, crise econômica… Esses dias eu estava assistindo
ao filme da bolha imobiliária de 2008. Lá você descobre que a bolha imobiliária
de 2008 surgiu na bolha da informática em 2001, então, são cíclicas essas
crises e a gente termina não aprendendo com elas infelizmente. Aí surgem
outras. Eu acho que a nossa capacidade é superar as crises.
O senhor já falou algumas vezes
que gosta de resolver problemas. Imaginou que teria um problema desse tamanho
para resolver? Pensei
que o problema que eu tinha era aquele que herdei quando assumi em primeiro de
janeiro (de 2019). E é grande. Não é pequeno, não. O Distrito Federal é um
estado que passa por muitos problemas estruturais não só na área de saúde e
segurança, mas uma crise de consciência também, uma infecção muito grande
dentro dos órgãos, uma luta quase que insana para se conseguir fazer
licitações, liberar contratos. Existe um índice muito alto de corrupção mesmo
dentro do Distrito Federal, que a gente está tentando tirar.
Haverá compra de respiradores para
os pacientes em estado mais grave? Estou com um problema sério, porque o Ministério da Saúde puxou para si
todas as compras de respiradores. Ninguém pode comprar da rede pública. Em São
Paulo, a saída que eles encontraram foi o Bradesco, que comprou os respiradores.
O banco foi no privado, comprou e doou para o estado de São Paulo. Eu aqui tive
uma reunião com o presidente do BRB e ele vai fazer uma campanha para arrecadar
recursos para que possa fazer a compra e a prestação de conta da compra desses
respiradores. Acho que assim a gente vai conseguir agir mais rápido. E
ele será só o intermediário disso. As pessoas vão doar esses respiradores
para a rede hospitalar.
Qual é a necessidade? Quantos
respiradores? Se a
gente tiver aqui no Distrito Federal, hoje, cerca de 400 respiradores, a gente
já atende à população com muita agilidade. Você tira a pessoa da crise rápido,
que a vantagem do respirador é essa. Então, o respirador tem uma função de, no
máximo, dois dias, recuperar a função respiratória da pessoa e tem condições de
colocá-la em uma internação mais tranquila, ambulatorial.
E terá equipamento de
proteção individual para os servidores da saúde? Há reclamações. Nós conseguimos fazer uma compra de equipamentos,
infelizmente, o preço não é o que nós gostaríamos, já que está todo mundo
procurando no mercado. Mas nós conseguimos fazer uma compra que atende todo o
pessoal da saúde. Em relação ao restante da população, colocamos o pessoal do
presídio para trabalhar pela Secretaria de Justiça. Eles estão produzindo em
torno de duas mil máscaras por dia. A nossa fábrica social também está
produzindo em torno de duas mil para dar uma ampliada. Criando mais um turno,
nós vamos produzir em torno de cinco mil máscaras por dia, e essas eu quero
distribuir para a população e também para outros grupos.
E a questão da segurança? O fato
de terem sido liberados vários presos do regime semiaberto teve impacto na
criminalidade? Eu fui
contra, né? Mas cumpro decisão. Como advogado, aprendi a cumprir decisão e,
agora, como governador também vou cumprir.
Mas deu pra verificar um aumento
na criminalidade? Não, acho
que, na redução da circulação de pessoas, você termina tendo também uma redução
na criminalidade. Por exemplo, a maioria dos crimes aqui envolvem drogas,
brigas de bares, essas coisas. Como está tudo fechado, termina dando uma
diminuída. Deu uma apaziguada nos números. O que você tem hoje mais é furto a
comércio, essas coisas. Nem tanto a residência, mas ao comércio, porque está
fechado e alguns produtos são mais de interesse desses meliantes. Em algumas
áreas vamos ter um aumento na criminalidade, na maioria vamos ter uma redução.
(*) Ana
Maria Campos - Fotos : Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press - Correio Braziliense