A Biblioteca Central (BCE) da
UnB é um dos pontos de estudo mais importantes para os alunos da instituição. Em 1971, a BCE ainda
estava em construção
O berço da educação
superior na capital. Considerada a sexta melhor universidade do Brasil, a UnB
tem boa parte de usa história ligada ao início de Brasília. Nasceu de um
projeto de Darcy Ribeiro, referência em pesquisa e formação
*Por Caroline Cintra - Juliana Andrade
Moderna e com alto padrão de
conhecimento universal. Essas são duas das muitas características pensadas por
Darcy Ribeiro na construção de uma universidade na nova capital. O modelo era
baseado em um projeto do escritor Anísio Teixeira e, à época, teve reprovação
de Juscelino Kubitschek. Com o passar do tempo, o antropólogo conseguiu convencer
JK da importância de um espaço que fosse referência em pesquisas na cidade.
Hoje, a Universidade de Brasília (UnB) é a 6ª melhor universidade federal do
Brasil, pela décima edição do QS World University Ranking by Subject. A série
Brasília sexagenária mostra, hoje, a trajetória da instituição e o papel dela
para a sociedade.
Atualmente, a universidade conta
com quatro campi. O principal fica na L4 Norte, batizado com o nome do
idealizador, Darcy Ribeiro. Uma homenagem merecida àquele que levou adiante,
com muita determinação, o plano de criar uma instituição de referência. “Eu
trabalhava no escritório de Oscar Niemeyer. Lembro que o Darcy foi lá conversar
sobre o projeto. Quando ele saiu, fomos à janela e ele estava atravessando o
eixo monumental a pé”, conta o arquiteto Carlos Magalhães. “Eu, sem
conhecê-lo direito na época, falei: ‘você acha que esse cara, que não tem nem
um carro para levá-lo, vai conseguir?’. E lá estava ele, indo a pé, com aquela
força terrível dele, o que fez a universidade ir adiante”, comenta. A
universidade foi inaugurada no aniversário de 2 anos de Brasília. A cerimônia
ocorreu no Auditório Dois Candangos, que ficou pronto 20 minutos antes do
evento.
Pesquisador e professor emérito do
Departamento de Arquitetura da UnB, José Carlos Coutinho não hesita em dizer
que a instituição é o orgulho da cidade. No início, a ideia era trazer
profissionais de destaque de todos os ramos e, desde então, a instituição tem
reunido uma coleção de talentos. “Associada a uma nova capital, a UnB se
tornou, imediatamente, a mais moderna do país e passou a ser invejada por todas
as outras, um modelo em apresentar soluções para problemas brasileiros, que não
eram poucos”, ressalta. O especialista destaca, ainda, o patrimônio histórico
guardado ali. “São materiais que influenciam muita gente no campo de todas as
ciências. A universidade foi chamada para colaborar em pesquisas e é muito
respeitada em grandes áreas”, afirma.
Francisco Berto Amorim é
barbeiro no Minhocão Sul há 53 anos
As primeiras turmas: O primeiro vestibular da universidade ocorreu em
1962. Elza Bastos, 80 anos, era uma das candidatas. Moradora de Brasília desde
1957, ela viu a cidade ser construída e se apaixonou pela arquitetura. “A gente
ouvia toda hora falar sobre o projeto de urbanismo, então a arquitetura era uma
curiosidade que eu tinha”. A então estudante fez a prova em um prédio na
Esplanada dos Ministérios. “Brasília não tinha gente suficiente para preencher
uma universidade. No vestibular, veio gente do Brasil todo. Foram dois dias de
prova”, recorda.
Aprovada, Elza foi a matrícula
número 79 da universidade. Quando chegou, o Instituto Central de Ciências
(ICC), conhecido como Minhocão, ainda estava em construção. As aulas eram
ministradas nos prédios hoje destinados às partes administrativas, segundo a
arquiteta. “Algumas aulas, inclusive, eram ao ar livre”, comenta. Ali, ela
cresceu se formou e deu os primeiros passos para se tornar uma doutora na área
de arquitetura e urbanismo. “Tudo que eu tenho hoje é graças à minha profissão.
Além de ser um lugar de formação, a universidade era um espaço de descontração
e união. Todo mundo estava ali buscando um futuro. Era um ambiente de esperança
e solidariedade, um ajudando o outro”, destaca.
O professor Aldo Paviani, 86,
também presenciou os primeiros anos da instituição. O docente veio do Rio
Grande do Sul, em 1969, para dar aulas no curso de geografia. A data em que
ingressou, ele sabe de cor: 1º de julho. Ali, Paviani também viveu as
incertezas da ditadura militar. “Foram anos duros, chegou um tempo em que a
gente estava impedido de entrar no Minhocão. Havia, também, muitos protestos e
tinha restrição de liberdade. Lembro de passar pelos corredores para dar aula
com soldados dos dois lados”, recorda. Para ele, a UnB é um dos símbolos da
democracia. “Vale ressaltar o aspecto democrático da universidade que, mesmo no
tempo da ditadura, conseguiu ter liberdade de expressão”, frisa. O docente se
aposentou em 1996 e hoje é professor emérito. Mesmo aposentado, orienta teses
de doutorado e mestrado, e continua se dedicando às pesquisas.
O primeiro vestibular da
universidade ocorreu em 1962
Patrimônio histórico: Há 53 anos, Francisco Bertoldo de Amorim, 74,
trabalha como barbeiro na UnB. Nascido em São Miguel (RN), ele chegou em
Brasília em 1967, aos 21 anos. Veio a convite de um primo, que trabalhou na
construção da universidade. “Ele tinha uma barbearia na UnB e me chamou para
trabalhar lá. Quando cheguei na cidade, era época da jovem-guarda. Vi um monte
de homem cabeludo e barbudo e perguntei: ‘ninguém corta o cabelo aqui, não?’”,
brinca o profissional. Quando chegou, a barbearia era em um barraco de madeira.
Enquanto trabalhava no local, recebeu uma proposta npara função de
tratador de água das piscinas da instituição. Ficou por um tempo, mas o amor
pela barbearia falou mais alto. Logo pediu as contas e, até hoje, se dedica à
profissão.
Quando a barbearia completou 50
anos, foi uma grande festa. Fizeram um café da manhã especial, com a presença
da reitora da universidade, Márcia Abrahão, e professores. Durante a
comemoração, colocaram uma faixa no estabelecimento com os dizeres “patrimônio
histórico da UnB”. “Tudo o que tenho hoje é pela UnB. Criei seis filhos com o
que ganho de lá. Tem freguês que era aluno e hoje corto cabelo dos netos deles.
Sou muito feliz, graças a Deus. E quero continuar por muito tempo”, declara o
barbeiro.
Foto
aérea do campus Darcy Ribeiro
Presente e futuro: Pesquisas, prêmios, formação de novos
profissionais. Não há dúvidas de que a UnB tem um grande papel, não só em
Brasília como em todo o Brasil. Atualmente, há, na instituição, 528 grupos de
pesquisa certificados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq). No momento em que o país luta contra a disseminação da
Covid-19, a universidade tem contribuído não apenas com especialistas e
estudos, mas também com o fornecimento de insumos. A universidade afirmou que
fará até 700 testes diários para identificar a doença.
Ao todo, a UnB tem 138 cursos de
graduação totalmente gratuitos. Dali, saem todos os anos médicos, professores,
arquitetos, advogados, enfermeiros, entre outros. “Todo o aprendizado vai
voltar para a sociedade. Na verdade, isso já acontece ao longo do curso, porque
são vários projetos de extensão e pesquisa nas áreas de educação e saúde, por
exemplo” diz a aluna de enfermagem Mikaely do Vale, 21. “Eu venho com uma
mentalidade, não só de exercer a profissão, mas de investir em pesquisa para
mudar algo na sociedade”, completa a estudante.
Darcy Ribeiro: Darcy
Ribeiro foi o criador e primeiro reitor da Universidade de Brasília. Entre 1957
e 1961, o antropólogo ocupou a direção de Estudos Sociais do Centro Brasileiro
de Pesquisas Educacionais do MEC. No governo de João Goulart, esteve à frente
do Ministério da Educação. Em 1992 assumiu a Cadeira n°11 da Academia
Brasileira de Letras. (Fonte: Academia Brasileira de Letras)
(*) Caroline Cintra - Juliana Andrade
- Fotos: Arquivo/CB/D.A.Press - Correio Braziliense