Extra! Extra!
No famoso dia de aniversário de uma das franquias mais
populares da história, a Disney deve refletir sobre qual caminho seguir.
Mestre
Yoda diz: “Prejuízo, você terá.”
Por Victor Dornas
Se Walt Disney, por um único instante, tivesse a chance de
retornar do descanso derradeiro, ele talvez preterisse todas as perguntas que
um visionário de sua época poderia ter a respeito do futuro, para saber quantos
dos seus ainda tocam o seu empreendimento. É inerente a qualquer ser humano o desejo
de eternização através dos laços sanguíneos. Ainda que Disney soubesse que o
seu legado é, para sempre, irretocável, talvez nem ele pudesse negar que a
continuidade do nome
Disney por seus descendentes o fizesse ainda mais feliz.
Mas o quê restou da família nos negócios do parque mais
famoso do mundo?
Quase nada. Com a saída do CEO Roy Disney em 2005, tudo que
sobrou da família foram direitos patrimoniais. Uma das beneficiadas, Abigail
Disney, tornou-se uma crítica ferrenha à gestão do parque por ser ativista de
direitos trabalhistas e frequentemente alcança a mídia para denunciar supostas
condições inadequadas de funcionários e discrepâncias salariais. Mas a verdade,
caro leitor, é que a Disney desde essa época da saída de Roy e da chegada de
Bob Iger tem sido uma das empresas mais bem sucedidas do mundo pela sucessão de
acertos bilionários. Todo esse sucesso não veio por acaso.
Ainda me lembro bem do dia, em meados de 2006, quando eu
estava num barbeiro lendo uma revista com entrevista de Bob, então novo gestor,
sobre a nova política da empresa diante da polêmica proliferação de mídias
digitais em ameaça ao mercado do entretenimento tradicional. Chamou-me atenção
a postura visionária dele que dizia, em resumo, que não adiantaria tentar bater
de frente com inovações disruptivas, isto é, que a empresa, ao invés de
combater, deveria se adequar. Fiquei bastante satisfeito com aquilo que li,
tanto que me recordo até hoje. E de lá pra cá a Disney avançou bastante,
criando um império de super heróis no cinema e adquirindo a franquia Star Wars,
que somente em bilheteria já rendeu mais de 5 bilhões desde a aquisição.
Hoje se comemora no dia 4 de maio o aniversário fake
de Star Wars. Em face do trocadilho do termo, pois, na série, a frase famosa
repetida pelos protagonistas, “may the force be with you” combina com a
data. May também significa maio e quatro, em inglês, soa parecido com force.
A data é comemorada desde 2011, entretanto, não sendo o aniversário oficial da
obra. A Lucas Arts, estúdio responsável,
aproveita a ocasião para, além de celebrar, divulgar novos projetos. O
aniversário verdadeiro da saga é dia 25 de maio, pelo lançamento do primeiro filme
em 1977.
A Disney, entretanto, não tem motivos para comemorar.
Antes da pandemia, Star Wars havia se tornado um problema
para a empresa pois, embora a bilheteria dos filmes tenha sido bilionária, a
parte de merchandising e os parques temáticos da franquia não correspondem como
deveria, uma vez que a saga comandada por JJ Abrams no cinema teve dificuldades
de atrair o público mais jovem ao ponto de vender os produtos.
Além disso, uma das principais investidas da empresa esse ano
seria o longa Mulan, baseado na animação de 1998. Mulan é uma lenda chinesa de
uma mulher que luta numa guerra na dinastia Han fingindo ser um homem. A pessoa
Mulan não se sabe se realmente existiu, a despeito de várias citações em textos
históricos orientais. A personagem, entretanto, ganhou um charme especial pelas
mãos mágicas dos desenhistas da Disney e se tornou mundialmente ainda mais
famosa. A expectativa da adaptação do filme para esse ano era alta, mas, por
conta do vírus, o filme foi adiado para julho e provavelmente será adiado
novamente. Além disso, em questões publicitárias, a deferência e exaltação da
cultura oriental num Estados Unidos devastado por um vírus que seu presidente
chama de “chinês” acaba dificultando mais ainda o marketing do filme.
Os fãs certamente comparecerão, pois sabem que vírus não tem
pátria e a Disney merece todo o nosso carinho para que possam dar continuidade
a projetos tão bem sucedidos. A empresa já amarga prejuízos bilionários por fechamentos
compulsórios dos parques e mesmo que tenha subsídio do governo estadunidense,
por ser um patrimônio imensurável ao país, ela ainda é uma empresa que possuí encargos
a cumprir. A Marvel passa por uma transição pois os filmes dos Vingadores
acabaram, ou seja, a expectativa de diminuição de receita já era evidente, mas
agora, em virtude da pandemia, vários projetos correm o risco de serem
cancelados. Não é diferente para a Disney.
Pela frente, como toda
empresa, ela terá um caminho tortuoso de recuperação. Em fevereiro deste ano,
Bob Iger deixou o cargo de CEO da empresa, para a felicidade de Abigail. Quem
assume a chefia é outro Robert, de sobrenome Chapek. Como a nova gestão superará o momento de crise, no futuro
saberemos.
Que a força esteja com a nova direção.
Como diz o Yoda: Da
Disney, nós precisamos.
Victor Dornas – Colunista do Blog do Chiquinho Dornas